PASTOR RICARDO GONDIM COMPARA PROGRAMAS DE IGREJAS NEOPENTECOSTAIS A COMERCIAIS DA CASAS BAHIA: “QUAL O MELHOR BALCÃO DE SERVIÇOS RELIGIOSOS?”
As estratégias de comunicação
usadas por igrejas evangélicas que pagam horários na TV para exibirem programas
em horário nobre e destacarem curas e milagres que são relatados por seus fiéis
foram comparadas à estratégia comercial de grandes lojas de móveis e
eletrodomésticos. A comparação foi feita pelo pastor Ricardo Gondim, num artigo
publicado em seu site, e que critica a forma como o Evangelho é exposto por
essas denominações. “Toda noite, entre oito e dez horas, a mesma cantilena se
repete nos programas evangélicos na televisão. Pelo menos quatro ‘ministérios’
disputam outro mercado: o religioso. Caçam clientes que sustentem, em ordem de
prioridade, empreendimentos expansionistas, ilusões messiânicas e o estilo de
vida nababesco de seus líderes. Assim, cada programa oferece milagre. Cada um
alicerça a promessa de que Deus vai prosperar, amenizar problemas matrimoniais,
resolver causas na justiça com testemunho. Entrevistam gente que jura ter sido
brindada pelo divino. Não faltam documentos, exames médicos, carros luxuosos.
Deus teria usado aquele apóstolo, bispo, missionário, para abençoar inúmeras
pessoas para uma vida sem sufoco”, introduz o pastor Gondim. Ricardo Gondim diz
ainda que as condições para que esses milagres e curas aconteçam são colocados
por essas igrejas de forma muito específicas, como forma de evitar possíveis
reclamações por partes dos fiéis, que segundo o pastor, são tratados como
“clientes” pelos líderes dessas denominações. “Um monte de exigência vem
embutida na promessa de bênção: ser constante nos cultos por várias semanas,
contribuir financeiramente para que a obra de Deus continue e, ainda, manter-se
corretíssimo. Um deslize mínimo, um pecadilho qualquer, impede o Todo Poderoso
de concretizar a maravilha. E ainda tem a falta de fé como critério
inegociável. Qualquer dúvida é considerada um obstáculo, que mata a
possibilidade do milagre”, constata o líder da Igreja Betesda. Para Gondim, que
é um dos maiores críticos de certas posições e práticas do movimento
neopentecostal, ironiza a oferta de opções para milagres, como se fossem
serviço ou produto: “Como um cliente religioso pode optar? Deus apontou o dedo
para qual igreja, missionário, apóstolo, pastor ou evangelista? Quem foi
‘ungido’ representante do divino para o privilégio de ‘operar’ esse sem-número
de milagres? Um pai que sofre com uma filha com leucemia aguda, não pode se dar
ao luxo de errar. Se apela para uma igreja com pouco poder sobrenatural, perde
a filha. O seguro seria ele frequentar todas. Mas como?”, indaga o pastor, em
tom de indignação. A ideia de que participando de tais campanhas Deus tratará
os fiéis com exclusividade, como se fosse servos V.I.P.s, é exposta pelo pastor
como um dos absurdos cometidos pelos pastores da televisão brasileiros: “No
milagre ofertado pelos televangelistas está a expectativa egocêntrica de que o
Todo Poderoso distinguirá apenas um punhado entre todos os outros sete bilhões
de habitantes do planeta. ‘Deus abrirá uma brecha na ordem da vida para
privilegiar você’. ‘Outros podem padecer nos corredores sujos de ambulatórios
médicos, mas você que veio aqui na igreja X, não precisará passar por tanta
humilhação’”, ilustra, antes de citar que tais igrejas “fortalecem a ideia de
que existem agenciadores do favor divino”. Na comparação com as lojas de
eletrodomésticos, Gondim diz que as “igrejas evangélicas comercializam
esperança”, e que, “pelo serviço cobram caro, muito caro. Afinal de contas, um
produto celestial não pode ser negociado como bem de quarta categoria. Os
televangelistas só oferecem ‘Brastemps’ vindas do céu”. A abordagem feita pelo
pastor da Igreja Betesda expõe ainda que tais igrejas não hesitam na hora de
transferir responsabilidades caso os milagres oferecidos por elas não se
realizem na vida dos fiéis. Gondim afirma ainda que essas igrejas assemelham-se
a empresas, que estudam seus clientes para conhecê-los e transmitir sua
mensagem da forma mais eficiente possível. “Qual o melhor balcão de serviços
religiosos? Que varejista está mais aparelhado para distribuir os favores
divinos? Os vendilhões do templo de hoje não se comparam aos do tempo de Jesus.
Eles se escolaram no marketing. Especializaram-se em conforto. Valem-se da
linguagem piedosa que confunde fé com credulidade. Se as grandes redes
comerciais devem se conformar ao Código do Consumidor, as igrejas hábeis em
produzir milagre não passam por nenhuma regulamentação. Se algo der errado, o
cliente nunca tem razão. Se a leucemia matar a filha, o pai, além de enlutado,
acabará responsabilizado pela perda. Terá de escutar que a menina não foi
curada porque o diabo entrou por alguma ‘brecha’ e matou. Ou que alguém da
família não ‘perseverou na fé’ ou ‘não honrou a Deus com o dízimo’”, lamenta o
pastor. Por Tiago Chagas, para o Gospel+
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