ATAQUES ÀS IGREJAS NO NÍGER: RELATO DE CRISTÃOS LOCAIS AO REDOR DO MUNDO, A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA FAZ COM GRUPOS RADICAIS SEJAM RESPONSÁVEIS POR MILHARES DE FERIDOS E MORTOS. NO ÚLTIMO SÁBADO (17), A PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS RESULTOU NA DESTRUIÇÃO DE DEZENAS DE IGREJAS NO NÍGER. A RESPOSTA DA COMUNIDADE CRISTÃ É “PERDOAR E ESQUECER, AMAR OS MUÇULMANOS DE TODO O CORAÇÃO, MANTER A FÉ E AMAR A CRISTO COMO NUNCA ANTES”
Pelo
menos dez pessoas morreram em dois dias de violência, incluindo três cristãos,
que não conseguiram fugir de suas igrejas a tempo dos ataques. Pela contagem da
Portas Abertas – baseada em nossos contatos locais –, pelo menos 72 igrejas
foram destruídas, juntamente com sete escolas cristãs, várias lojas e até dez
veículos – todos de propriedade de cristãos. Mais de 30 casas de cristãos foram
saqueadas e queimadas. A maioria dos que conseguiram fugir pôde levar apenas as
roupas do corpo. No domingo à noite (18), a situação se acalmou um pouco na
capital Niamey, embora os cultos nas igrejas tenham sido cancelados e saques
generalizados a lares cristãos continuaram acontecendo. Grande parte dos
cristãos não se sente segura para voltar para casa. Em um discurso na
televisão, o presidente Mahamadou Issoufou manifestou surpresa com o ataque: “O
que os cristãos do Níger fizeram para merecer isso? Em que momento foram
injustos?” Associar os cristãos locais com a publicação do jornal francês
Charlie Hebdo (entenda melhor abaixo) é incorreta, mas conveniente. Da mesma
forma que, ao publicar uma charge zombando do profeta Maomé, um cartunista
dinamarquês criou a oportunidade para que muçulmanos fundamentalistas
desencadeassem o terror contra os cristãos no norte da Nigéria, em fevereiro de
2006, as charges divulgadas pelo Charlie Hebdo tornaram-se uma oportunidade
para que os cristãos fossem atacados no Níger – um país de maioria islâmica,
que já foi elogiado pela comunidade internacional por seu governo secular e
relativa tolerância para com os cristãos, apesar do fato de que mais de 98% da
população siga o islã. Ao longo dos últimos anos, porém, o país tem visto
crescente radicalização. "Esta é a maior perda sofrida pela Igreja no
Níger na história recente. Estes ataques terão efeitos em longo prazo sobre a
pequena comunidade de cristãos. Um grande número de famílias cristãs locais
perdeu tudo o que elas trabalharam por toda a vida para conseguir. Os ataques
também causaram um medo considerável entre os cristãos. Os nossos irmãos no
Níger precisam muito da nossa oração à medida que tentam se recuperar", comentam
colaboradores da Portas Abertas na região. O pastor Sani Nomau, líder de uma
igreja local, exortou os cristãos a responderem com o amor de Cristo: "Eu
peço a todos os cristãos no Níger para perdoar e esquecer, amar os muçulmanos
de todo o coração, manter a fé e amar a Cristo como nunca antes. Imploro para
que os cristãos vejam todos os muçulmanos no Níger como seus irmãos e irmãs.
Digo isto com lágrimas no rosto. Embora seja doloroso, e estejamos vivendo uma
situação realmente difícil, somos filhos de Deus. Devemos amar os nossos
perseguidores; recebê-los em nossas casas, dar-lhes comida quando estão com
fome e bebida quando estão com sede. Somos chamados para ser diferentes. Somos
um povo de paz. Que ninguém busque vingança. Deus vai nos fortalecer neste
momento difícil. Muçulmanos no Níger, nós os amamos com o amor de Jesus
Cristo." Entenda o caso: No dia 7 de janeiro, homens armados invadiram a
sede do jornal francês Charlie Hebdo, em Paris, e mataram 12 pessoas. Os
assassinos queriam se vingar dos autores de charges que satirizavam o profeta
Maomé (leia mais aqui). Em protesto ao atentado, milhões de pessoas saíram às
ruas em várias cidades da França e do mundo. Na semana seguinte, a capa da
última edição do Charlie Hebdo (de 14 de janeiro) trouxe uma charge em que
Maomé segura um cartaz no qual se lê "Eu sou Charlie", expressão
usada em favor das vítimas do atentado. Em retaliação à nova capa do jornal,
protestos violentos atingiram a comunidade cristã do Níger neste fim de semana.
Os ataques, que tiveram início na segunda maior cidade do país, Zinder, na
sexta-feira (16), rapidamente se espalharam para áreas vizinhas e, finalmente,
para a capital Niamey.
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