COMISSÃO DO SENADO DEIXA DILMA MAIS PERTO DO IMPEACHMENT SE USADO COMO TERMÔMETRO, RESULTADO DA VOTAÇÃO, COM 75% DOS VOTOS CONTRA O GOVERNO, INDICA QUE PRESIDENTE DEVE SOFRER DURA DERROTA NO PLENÁRIO NA PRÓXIMA QUARTA-FEIRA. ANALISTA, PORÉM, NÃO DESCARTA SURPRESAS
A comissão especial do Senado que analisou o pedido de impeachment
contra a presidente Dilma Rousseff aprovou nesta sexta-feira (06/05) o parecer
que recomendava a continuidade do processo. Dos 21 senadores, 15 votaram pela
aprovação. Apenas cinco votaram contra – três do PT, um do PCdoB e outro do
PDT. O presidente da comissão, Raimundo Lira (PMDB-PB), não votou. O resultado
era previsível e já vinha se desenhando desde que a comissão foi eleita. O
Planalto só conseguiu emplacar cinco senadores governistas no colegiado. Se
usado como termômetro, o resultado da comissão (com 75% dos votos contra o
governo) indica que Dilma deve sofrer uma derrota pesada no plenário do Senado,
que pretende se reunir na próxima quarta-feira para votar o afastamento da
presidente. Caso isso aconteça, a presidente será afastada por até 180 dias,
período em que será realizado o seu julgamento, e o vice-presidente Michel
Temer vai assumir o seu lugar. No caso da comissão da Câmara, 58% dos deputados
votaram a favor da continuidade do processo. Os trabalhos da comissão se
estenderam por quase duas semanas. Nesse período, o governo fez poucos esforços
para tentar convencer os senadores a rejeitarem um eventual relatório favorável
à continuidade do processo – indicando que considerava a batalha como perdida. Na
quarta-feira, o relator, Antonio Anastasia (PSDB-MG), um senador aliado de
Aécio Neves, divulgou um relatório de 125 páginas repleto de detalhes técnicos
para justificar o impeachment da presidente. O senador falou sobre as “pedalas
fiscais”, apontando que elas configuram crime de responsabilidade, e aproveitou
para rechaçar as acusações de Dilma e de outros governistas de que o processo
todo não passa de um “golpe”. "Esse resultado na comissão do Senado não
foi nenhuma surpresa. O resultado já era esperado assim que os senadores foram
escolhidos”, afirma o analista francês Gaspard Estrada, da Sciences Po, de
Paris. No caso da votação em plenário na semana que vem, o resultado também já
parece certo. Levantamentos da imprensa brasileira mostram que os
oposicionistas já conseguiram reunir pelo menos 50 dos 81 votos do senado, um
número já acima dos 41 necessários para afastar Dilma. Com a batalha pelos votos na questão do afastamento praticamente
decidida, o governo já divulgou qual deve ser sua estratégia agora: a
judicialização do processo. Nos últimos dias, o ministro José Eduardo Cardozo,
da Advocacia-Geral da União, vem afirmando que o governo deve ir ao Supremo
Tribunal Federal (STF) para contestar diversos pontos do andamento do processo,
tanto na Câmara como no Senado. Cardozo afirmou que o afastamento de Eduardo
Cunha (PMDB-RJ) do comando da Câmara deve dar fôlego à iniciativa, já que
indicaria que o deputado não tinha legitimidade para conduzir o processo. Após
a etapa do plenário do Senado e o julgamento da presidente, os senadores
deverão se reunir mais uma vez para votar, desta vez pelo afastamento
definitivo do cargo. Nessa etapa são necessários pelo menos 54 votos.
Levantamentos entre os senadores apontam que a oposição ainda não tem o número
necessário para vencer mais essa votação. Apenas 41 senadores se manifestaram
abertamente pela destituição definitiva da presidente, indicando que o governo
ainda terá espaço para manobrar e negociar quando a presidente for afastada
temporariamente. “Existe uma tendência para que Dilma perca o cargo, mas a
grande pergunta já não é mais o que vai acontecer na semana que vem, e sim se
os oposicionistas vão conseguir os votos necessários para o afastamento
definitivo durante o julgamento. É um período que pode reservar surpresas e
novos fatos políticos. A política brasileira continua no terreno do imprevisível,
como mostrou o afastamento de Cunha na quinta-feira”, afirma Estrada.
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