POR QUE DEUS NÃO IMPEDIU A TRAGÉDIA NA BOATE EM SANTA MARIA? PASTORES E LÍDERES FALAM SOBRE O TEMA
O incêndio na boate em Santa
Maria chocou milhões de brasileiros pela quantidade de vidas perdidas e pelo
sofrimento das famílias enlutadas. Um questionamento recorrente, quando do
advento de tragédias, é feito pelas pessoas inconformadas: onde estaria Deus? A
reação de muitas pessoas é a busca pela compreensão do motivo que teria
convencido Deus a permitir a tragédia. Outros, em sua dor, O culpam por
omissão. “Na ocorrência de tragédias devemos resistir à tentação de procurar
respostas que diminuem a bíblica soberania e majestade de Deus, e
consequentemente não fazem justiça à sua pessoa, ou aquelas que nos colocam com
Deus [...] Tais ‘explicações’, ‘conclusões’ e ‘construções’ aparentam ser
plausíveis, mas revelam-se meramente humanas, pois contrariam a revelação das
Escrituras. Esses tipos de respostas sempre aparecem, quando ocorrem desastres;
quando diversas vidas são ceifadas e pessoas que estavam entre nós desaparecem,
de uma hora para outra. Interpretações estranhas dessas circunstâncias não são
novidade e nem têm surgido apenas em nossos dias”, conceitua o escritor e
mestre em teologia Solano Portela, no blog O Tempora, O Mores. Aprofundando o
ponto levantado por Portela, o pastor e missionário Leonardo Gonçalves lembra
que a Bíblia estabelece não apenas a soberania divina, mas também a
responsabilidade humana, embora esse fato apresente-se ao ser humano como
paradoxo. O importante, segundo Gonçalves, é saber que o sofrimento não é
ignorado: “Jesus sempre se posicionou ao lado dos sofredores. Creio que em
momentos assim, devemos recordar este fato. Jesus se interessa em nosso
sofrimento, pois ele mesmo experimentou na carne o que é sofrer. Ele é empatico
à nossa dor”, escreveu no Púlpito Cristão. O colunista do Genizah, Digão,
observa que muitos poderão aproveitar a tragédia para levantar a ideia de que o
incêndio foi punição divina sobre pecadores, que “estavam em uma boate, e não
em uma igreja”. O termo usado por ele para se referir às pessoas com essa
opinião é “urubus”, que com suas manifestações são “capazes de machucar ainda
mais os sentimentos doloridos”. Digão entende que o raciocínio de punição é o
mais simples para quem toma essa postura: “Como a ideia de um Deus
soberanamente gracioso e amoroso e que tem a audácia de chamar pecadores de
filhos amados lhes é terrível demais, preferem apregoar e viver a ideia de um
Deus talibã, que pune, com igual prazer, justos e injustos”. O tipo de
abordagem descrita acima, feita por muitas pessoas, é classificada por Hélio
Pariz, do blog O Contorno da Sombra, como “exploração barata da tragédia”. O
blogueiro entende que apesar da morte e miséria constatadas na tragédia, a
bondade foi manifestada no gesto de “apoio” e de “comoção nacional em torno do
fato, o que torna todos nós muito mais próximos, muito mais humanos”. Aos
“abutres”, que exploram a dor como arma de acusação, Pariz afirma que
“compaixão é o mínimo que se espera num momento de dor e luto como esses. Se
não for possível sentir compaixão, que pelo menos prefiram o silêncio aqueles
que querem respeitar os milhares de pais, avós, amigos e parentes dos jovens
que morreram”. O escritor e colunista do Gospel+, Daniel Simoncelos publicou um
artigo lembrando que o ser humano, por sua natureza, não aprende a lidar com a
separação pela morte. “Diante dessas situações querer emitir juízo de valor,
atribuir culpa a Deus, ou dar lição de moral é simplesmente mostrar quão
sub-humanos estamos e insensíveis à dor do nosso próximo. Cabe a nós apenas
chorar com os que choram, nos compadecer e estar presentes na medida do
possível. A tragédia acontecida na boate Kiss foi uma fatalidade e nada mais a
dizer ou refletir. Todos morreremos. Todos teremos que nos apresentar diante de
Deus. Porém não estamos preparados para a morte. Não fomos criados para isso”,
escreveu. Sobre a emissão de juízo, Simoncelos lembra que os que enxergam
punição na tragédia necessitam rever os princípios de fé: “Aqueles que dirão
que é Juízo de Deus, provavelmente pensam ser mais santos e mais merecedores do
amor e graça de Deus. Porém estes são a pior raça de ser humano, pois são
aqueles que estão prontos para julgar e não são misericordiosos, revelando que
não são seguidores de Jesus, tampouco longânimos”. O locutor Edson Bruno gravou
uma reflexão sobre a pergunta feita por milhões de pessoas: onde estava Deus? A
resposta, segundo ele, é que Ele se fez presente na tragédia: “Deus estava na
boate Kiss”. Assista abaixo:
Por Tiago Chagas, para o Gospel+
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