PIRÂMIDES: INVESTIDOR DA BLACKDEVER FICARÁ SEM DINHEIRO APLICADO, DIZ PROMOTOR
MP pedirá que verbas sejam
destinadas a instituições de caridade; contas estão bloqueadas; O Ministério
Público de Minas Gerais (MP-MG) pedirá a dissolução da Blackdever, empresa de
marketing multinível acusada de ser uma pirâmide financeira. Mas,
diferentemente do que ocorre com outros casos semelhantes – como Telexfree e
BBom – a promotoria vai destinar as verbas a instituições de caridade. “Não vou
pedir para devolver o dinheiro porque para mim o investidor está tão de má fé
quanto o empreendedor”, diz ao iG o promotor Fernando Martins, da Promotoria de
Justiça de Uberlândia (MG). Ele não prevê, entretanto, acionar judicialmente os
investidores, conhecidos como consultores. Surgida em março de 2013, a
Blackdever promete uma renda média de R$ 2,4 mil a R$ 192 mil por mês a quem se
tornar consultor do negócio. Os lucros, segundo a empresa, viriam da revenda de
pacotes de serviços e de cartões de
descontos, e da colocação de anúncios na internet. Para entrar na Blackdever, é
necessário pagar taxas de adesão que começam
em R$ 100. À promotoria, a empresa informou ter uma rede de 1mil
consultores, mas o número pode ser bem maior. Um representante da Blackdever
disse, em audiência pública na Câmara dos Deputados em 2 de outubro, que eles
somam 400 mil participantes. Segundo a denúncia do Ministério Público, em
agosto a Blackdever já estava captando cerca de R$ 200 mil por dia junto aos
investidores. Em setembro, a Justiça de Uberlândia determinou por liminar
(decisão provisória) o bloqueio de R$ 36,7 milhões que estão nas contas da
empresa e de seus sócios. O paradeiro deles é desconhecido do Ministério
Público. “Não consigo encontrar os sócios nem para citá-los [ do andamento do
processo ]”, afirma Martins. Em um vídeo postado numa rede social na
quinta-feira (10), o presidente da empresa, Rogério Alves da Silva, afirma
estar na Espanha criando um novo negócio ao qual os integrantes da Blackdever
poderão aderir.. A reportagem não conseguiu contato com os representantes da
Blackdever. Em nota disponível no site oficial, o departamento jurídico afirma
que o negócio se trata de marketing multinível e não de pirâmide financeira . “A
empresa foi aberta em março e em agosto já tinha movimentado R$ 72 milhões sem
vender nada, nem um pano de chão”, afirma o promotor Martins. Além da ação
civil, o promotor diz que enviará os dados à promotoria criminal, para que os
sócios da Blackdever possam responder por estelionato. Mudança de estratégia: A
decisão de Martins de não pedir a devolução do dinheiro a quem investiu na
Blackdever é uma estratégia diferente da que vinha sendo adotada até agora em
outras investigações contra negócios suspeitos de serem pirâmides financeiras. Os
procuradores e promotores responsáveis pelas investigações contra BBom e
Telexfree, as primeiras a terem as contas congeladas por decisão judicial, entendem que os
investidores são consumidores enganados. Por isso, teriam direito a serem
ressarcidos. Isso foi pedido nas ações civis públicas movidas contra essas duas
empresas. Os responsáveis pela BBom e
pela Telexfree sempre negaram irregularidades. Esse é o entendimento
majoritário na força-tarefa antipirâmide criada por promotores e procuradores
da República, e que tem cerca de 80 negócios na mira, avalia a procuradora da
República em Goiás Mariane de Mello, responsável pelas investigações contra a
BBom. "É óbvio que quem entra numa esparrela dessas é ambicioso. [ Mas ] o
pessoal que mexe com pirâmides [ os criadores dos negócios ] é estelionatário.
Então não pode colocar tudo no mesmo saco", afirma Mariane, reconhecendo
entretanto que a decisão do promotor de Minas Gerais pode ser mais
"pedagógica". "O povo vai pensar duas vezes antes de investir [
sabendo que pode perder o dinheiro ]." A procuradora da República,
ressalva entretanto que a regra não se aplica a quem entrou nos negócios
suspeitos logo no começo. “No caso daqueles grandes investidores que entraram
no início, esses são praticamente coautores do delito." Fonte: IG
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