OS DISCÍPULOS ESTÃO CERCADOS POR UMA NUVEM CELESTIAL, MAS ESTÃO COM MEDO DE DEUS - AS FACES DA ESPIRITUALIDADE - HERNANDES DIAS LOPES
Lucas registra o fato da seguinte
maneira: "Enquanto (Pedro) assim falava, veio uma nuvem e os envolveu: e
encheram-se de medo ao entrarem na nuvem" (Lucas 9.34). O evangelista
Mateus pinta esse quadro com cores mais vivas: "Falava ele ainda, quando
uma nuvem luminosa os envolveu: e eis, vindo da nuvem, uma voz que dizia: Este
é o meu Filho amado, em quem me comprazo: a ele ouvi. Ouvindo-a os discípulos,
caíram de bruços, tomados de grande medo" (Mateus 17.5, 6). Os discípulos estão com Jesus, mas ainda têm
medo de Deus. A espiritualidade deles é marcada pela fobia do sagrado. O
ambiente celestial e a voz de Deus os incomodam profundamente. Eles se
relacionam com Deus como o outro totalmente desconhecido. Não têm intimidade
com Deus. Eles não apenas não encontram prazer na comunhão com Deus através da
oração, mas revelam grande medo de Deus. Vêem Deus como ameaça. A presença de
Deus os intimida. A voz de Deus enche o coração deles não de alegria, mas de
medo. O único momento em que eles se prostram ao chão não é para orar, para
buscar a Deus, mas para fugir de Deus. O relacionamento deles com Deus,
portanto, era superficial, pois o amor lança fora todo o medo. Em virtude do
medo, Pedro começa a falar sem entendimento, sem compreender o que diz. Marcos
declara que ele não sabia o que dizer, por estarem todos aterrados (Marcos
9.6). Lucas relata que a proposta de Pedro de fazer três tendas, sendo uma para
Jesus, outra para Moisés e outra Elias, era uma fala sem o mínimo
discernimento: "... não sabendo, porém, o que dizia" (Lucas 9.33).
Deus não é um fantasma cósmico. Suas revelações não têm o propósito de infundir
medo no nosso coração. Deus não é um guarda cósmico que nos procura pegar no
contrapé. Deus é um pai cheio de ternura. Ele nos abriga debaixo das suas asas.
Ele nos carrega no colo e nos toma em seus braços. Ele enxuga as nossas
lágrimas. Ele nos disciplina com amor. Ele se deleita em nós com alegria. Nós
somos a menina dos olhos de Deus, sua delícia e herança. Muitas pessoas receberam uma formação
religiosa deturpada sobre a pessoa de Deus. Vêem Deus apenas como um ser
austero, inflexível, implacável, com a espada da lei na mão, com o cetro do
juízo sempre erguido para sentenciar e condenar. São pessoas parecidas com o
irmão do filho pródigo: andam perto do pai, mas não têm intimidade com ele, não
desfrutam das suas riquezas. Relacionam-se com Deus apenas como servos, mas
nunca como filhos. A Bíblia nos mostra Deus como um Pai que corre para abraçar
o filho, mesmo que este esteja sujo de lama. As Escrituras nos revelam Deus
como um pastor que desce aos vales mais escuros e perigosos para buscar uma
ovelha desgarrada. O medo de Deus é uma doença espiritual. E fruto do
desconhecimento de Deus, da falta de discernimento das coisas espirituais. Jesus não alimenta essa patologia espiritual
dos discípulos: pelo contrário, mostra a sua improcedência:
"Aproximando-se deles, tocou-lhes Jesus, dizendo: Erguei-vos, e não
temais!" (Mateus 17.7). O medo de Deus, a fobia do sagrado, revela uma
espiritualidade enferma, rasa e sem substância.
Nenhum comentário
Postar um comentário