PARA COBRIR ROMBO, DILMA TIRA RECURSOS DO TRABALHADOR
O
corte nos gastos do governo no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff vai
começar pelos direitos trabalhistas, com restrições no acesso a
seguro-desemprego, abono salarial (PIS) e auxílio-doença, além de uma
minirreforma na Previdência Social, com mudanças nas regras das pensões. As
medidas foram anunciadas ontem e serão incluídas em medida provisória a ser encaminhada
hoje ao Congresso Nacional. Segundo cálculos do futuro ministro do
Planejamento, Nelson Barbosa, o pacote vai gerar uma economia de R$ 18 bilhões
por ano, a partir de 2015, equivalente a 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB,
conjunto de bens e serviços produzidos no país). Entre as medidas de maior
impacto está a alteração no cálculo do valor da pensão da viúva ou do viúvo,
que cairá pela metade, sendo acrescida de 10% por filhos dependentes, até o
limite de 100%. Além disso, assim que os filhos forem completando a maioridade,
as quotas relativas a eles serão suspensas, sem reverter para o pensionista.
Atualmente, o benefício é integral, vitalício e independente do número de
beneficiários. Com a mudança, acaba a pensão vitalícia para cônjuges considerados
jovens (até 35 anos). A partir desta idade, a duração do auxílio dependerá da
expectativa de sobrevida: entre 39 e 43 anos, por exemplo, o prazo será de 15
anos; entre 33 e 38 anos, de 12. Somente receberá a pensão vitalícia quem ficar
viúvo a partir dos 44 anos. Além disso, será exigida carência de dois anos de
contribuição ao INSS para poder requerer o benefício e tempo mínimo de
casamento de dois anos. Para reduzir as despesas do Fundo de Amparo ao
Trabalhador (FAT), o governo vai restringir o acesso ao seguro-desemprego,
ampliando o período aquisitivo de seis para 18 meses na primeira vez em que o
trabalhador recorrer ao auxílio. O abono salarial (PIS), que hoje corresponde a
um salário mínimo para quem tem renda de até dois salários, não será mais
integral. Ele vai variar de acordo com o tempo de carteira assinada, que subirá
de um mês para seis meses na mesma empresa, no mínimo. As medidas vão atingir
também os empregadores, que terão de arcar com os primeiros 30 dias de
afastamento do trabalhador, em lugar dos 15 de hoje. O teto do auxílio-doença
será equivalente à média dos últimos salários de contribuição, a fim de evitar
que os trabalhadores recebam um benefício acima do último salário. As medidas
foram anunciadas pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, acompanhado
dos futuros ministros do Planejamento, Nelson Barbosa, e da Previdência, Carlos
Gabas, da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e do ministro do Trabalho,
Manoel Dias, depois de uma reunião marcada de última hora com representantes
das centrais sindicais. Os presidentes das duas maiores centrais, Força
Sindical e CUT, não compareceram. A Força não conseguiu mandar representante. Procurado,
o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, criticou o anúncio
no apagar das luzes, alegando que as medidas não foram negociadas com as
centrais: “As medidas são muito negativas e prejudicam os trabalhadores,
principalmente quem fica desempregado e custou a conseguir o primeiro emprego”.
Ele disse que até o fim de janeiro as centrais sindicais vão fechar uma pauta
conjunta, prevendo, entre outros itens, o fim do fator previdenciário. Para o
ex-diretor do Departamento de Emprego e Salário do Ministério do Trabalho
Rodolfo Torelly, o governo escolheu o caminho mais fácil, sem enfrentar as
falhas do sistema. “O governo está metendo a mão no bolso do trabalhador”,
disse Torelly, que considera a mudança no valor do abono inconstitucional. Mercadante
explicou que as medidas foram anunciadas agora porque foram preparadas pela
atual equipe do governo. As propostas chegaram a ser discutidas nos últimos
anos, mas foram engavetas por ordem de Dilma. Ele negou que as mudanças retirem
direitos do trabalhadores. “Estamos preservando as políticas, preservando os
direitos adquiridos, preservando esses programas para o futuro. São ajustes e
correções inadiáveis e indispensáveis”, disse Mercadante. Segundo o ex-secretário
de Previdência Social Leonardo Rolim, as alterações nas regras da pensão são
importantes para corrigir distorções e reduzir o déficit da Previdência. O
potencial, segundo ele, é de uma economia de R$ 1 bilhão já no primeiro ano e
de até R$ 30 bilhões por ano, depois de 15 anos de vigência.
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