PLANALTO GASTOU 51% A MAIS COM CARTÃO CORPORATIVO EM 2014 - TOTAL DAS DESPESAS FOI DE R$ 8,8 MI NO ANO PASSADO – EM QUE DILMA DEDICOU BOA PARTE DO TEMPO À CAMPANHA. QUASE 100% DOS PAGAMENTOS FORAM SIGILOSOS
No
ano em que o governo federal enfrentou dificuldades orçamentárias e o desajuste
fiscal ficou ainda mais evidente, o gabinete da Presidência da República elevou
em 51% os gastos com cartões corporativos. A Secretaria de Administração da
Presidência, que lida com as despesas diretas da presidente Dilma Rousseff,
encerrou 2014 com um gasto de 8,8 milhões de reais em cartões corporativos. No
ano anterior, o total havia sido de 5,8 milhões, em valores já corrigidos. Os
gastos de Dilma e sua equipe mais próxima constituíram uma média de 24.007
reais por dia em 2014, incluindo feriados e fins de semana – justamente em um
ano no qual a presidente dedicou-se à campanha eleitoral e passou muito pouco
tempo governando. Um detalhe chama ainda mais a atenção no gasto: é
praticamente impossível avaliar se houve desperdício ou mau uso dos recursos
porque 99% das despesas foram declaradas sigilosas. Ao todo, o governo gastou
65,2 milhões de reais com cartões corporativos em 2014, um aumento de 1,2% na
comparação com 2013, em valores atualizados. A Presidência da República é o
órgão que mais gasta com os cartões. Em 2014, foram 21,2 milhões de reais em
uma conta que inclui órgãos como a Advocacia-Geral da União (AGU) e a Agência
Brasileira de Inteligência (Abin). Em seguida, aparecem os Ministérios da
Justiça, do Planejamento, da Educação e da Defesa. O site de VEJA procurou a
Secretaria de Comunicação da Presidência da República, mas não obteve respostas
sobre os gastos. Os cartões corporativos, oficialmente chamados de cartões de
pagamento do governo federal, só podem ser usados para compra de material e
contratação de serviços de pequeno vulto, em caráter excepcional. Despesas com
passagens aéreas e diárias de hotéis, por exemplo, estão vetadas. Escândalo: No
início de 2008, vieram a público revelações de que o primeiro escalão do
governo Lula usava seus cartões de crédito corporativos para fins recreativos.
Descobriu-se primeiro que alguns ministros – Matilde Ribeiro, da Igualdade
Racial, Orlando Silva, do Esporte, e Altemir Gregolin, da Pesca – haviam se
habituado a usar o cartão para pagar desde tapioca até temporadas com a família
em hotéis de luxo. Em seguida, soube-se que o abuso de 11.510 cartões nas mãos
de 7.145 funcionários públicos era fato corriqueiro. Os ministros se defenderam
dizendo que haviam sido mal orientados, e o Planalto decidiu apoiar a criação
de uma CPI – desde que englobasse os gastos dos cartões na gestão do FHC. Foi a
senha para que uma equipe da Casa Civil revirasse os arquivos da pasta atrás de
informações desabonadoras para constranger os tucanos, de que resultaria um
escandaloso dossiê, que o governo insistiu em chamar de “banco de dados”, mas
pelo qual se desculpou com o ex-casal presidencial, Fernando Henrique e Ruth
Cardoso. Ao fim do escândalo, foram editadas novas normas para disciplinar o
uso dos cartões, e Matilde deixou o governo.
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