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MINISTÉRIO EM DEFESA DA FÉ APOSTÓLICA


PASTOR SERGIO LOURENÇO JUNIOR - REGISTRO CONSELHO DE PASTORES - CPESP - 2419

CONCILIO DE JERUSALÉM DUAS VERSÕES DO MESMO ACONTECIMENTO – A HISTÓRIA DA IGREJA - DUNCAN REILY

Provavelmente este momento na história da Igreja apostólica* seja um dos mais difíceis para harmonizar à luz dos textos do Novo Testamento. Na verdade, muitas explicações são dadas, mas nenhuma que pareça tão convincente como a seguinte: realmente temos duas versões do mesmo acontecimento, de dois pontos de vista bem diferentes, a saber: Atos 15.1-29 e Gálatas 2.1-10. Sem dúvida, há diferenças em detalhes que parecem até contradições, pelo menos quanto a certos detalhes dos dois trechos. Mas, se olharmos para o sentido geral das decisões, vamos perceber que realmente há uma grande concordância quanto aos pontos principais. Que é que temos? 1) Temos o clímax de vários acontecimentos que mostram que as Boas Novas do Reino não se destinam apenas aos judeus. A própria experiência de Pentecoste ocorreu quando se encontravam em Jerusalém Judeus prosélitos "de todas as nações debaixo do céu" (At 2.5, 11). Mas, no entender de Lucas, o autor de Atos, a perseguição dos discípulos após a morte de Estêvão e a pressão do próprio Deus levaram ao questionamento da idéia de que o Evangelho pertencia exclusivamente aos judeus, e os acontecimentos mostram que os discípulos pouco a pouco deixaram esta idéia de lado na sua atuação dia a dia. Filipe vai à desprezada Samaria e "anuncia-lhes a Cristo" e "as multidões atendiam unânimes" (At 8.4, 5). O mesmo batiza o oficial de Etiópia, provavelmente temente a Deus (gentio* adepto do Judaísmo) mediante sua fé em Jesus como Filho de Deus (At 8.37). O próprio Pedro é "empurrado" por Deus através da visão dos animais puros e imundos (At 10.9-16) para oferecer Cristo ao "temente a Deus" Cornélio, centurião romano. Deus prova a aceitação de Cornélio e sua família por lhes derramar o Espírito Santo, e Pedro se sentiu obrigado a batizá-los (At 10.44-48). Entrementes, discípulos, fugindo da perseguição, pregaram Cristo a "gregos" (gentios* em Antioquia). "A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor" (At 11.21). E finalmente, o Espírito separa Barnabé e Paulo para a proclamação no mundo gentílico (At 13.2-3). Quando voltaram a Antioquia após a "primeira viagem missionária", "relataram quantas coisas fizera Deus com eles, e como abrira aos gentios* a porta da fé" (At 14.27). 2) Mas nem todos concordaram com esta nova abertura; relutantemente aceitavam o fato que Deus estava realmente abrindo a porta da fé aos gentios*. Mas criam que, antes de os gentios* se tornarem cristãos, tinham que ser judeus, isto é, tinham que se submeter à circuncisão e a totalidade da lei judaica. Eis o sentido de At 15.1: "Se não vos circuncidardes segundo os costumes de Moisés, não podeis ser salvos". Esta declaração, não autorizada pelos apóstolos* em Jerusalém, mas aparentemente representando o pensamento de muitos cristãos da Palestina, teria posto em cheque toda a missão de Paulo e ainda a autenticidade da conversão dos cristãos gentílicos, ou seja, teria negado toda a missão de Paulo. Neste momento de crise, o que é que foi feito? 3) Como agiu a Igreja frente à crise? a) A primeira coisa foi que houve "contenda e não pequena discussão" (At 15.2). Paulo descreve a mesma coisa em Gálatas (2.11-14), onde percebemos que a "contenda" envolveu o próprio apóstolo Pedro, o mesmo que Deus havia empurrado para proclamar Cristo a um soldado romano. Pois Pedro havia revertido à velha exclusividade judaica de não comer com gentios*, mesmo quando estes fossem seus irmãos em Cristo! Paulo o resistira cara a cara! Sim, ocorriam, às vezes, diferenças entre pessoas na liderança da Igreja nos tempos apostólicos!* b)         Mas a Igreja agiu rapidamente para resolver o problema. Crise havia, mas ela não imobilizou a Igreja como muitas vezes ocorre hoje. Também nada de "panos quentes". O essencial era um diálogo franco de parte a parte, com boa representação de todos os lados. E não só de liderança! Da Antioquia foram Paulo e Barnabé (notem a ordem!) e "alguns outros" (At 15.2); conforme o texto, reuniram-se com os apóstolos e presbíteros de Jerusalém. Houve franca discussão, em que ficou cristalino que a unidade da Igreja se encontrava em Cristo e que todos, gentios* e judeus, foram "salvos pela graça do Senhor Jesus" (At 15.11). Seria impensável frente a este fato deixar qualquer diferença dividir a Igreja. c)          A conclusão pode parecer, à primeira vista, um tanto legalista e até mesquinha, isto é, se atentarmos demais para os detalhes conforme a epístola enviada aos cristãos em Antioquia: "Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, bem como de sangue, da carne de animais sufocados e da incontinência" (15.29). Na realidade, parece-me que há uma outra leitura possível, uma leitura que vai além da letra para o cerne das coisas: d) Os cristãos gentílicos* estavam sendo aceitos como irmãos em Cristo com o absoluto mínimo de legalismo. A circuncisão não seria exigida nem o sábado era imposto e nem era proibido comer carne de porco (e nem as outras proibições da lei cerimonial). Isto significa, então, não mesquinhez, mas uma notável abertura por parte dos cristãos de origem judaica. Em outras palavras, era uma declaração de autonomia, um reconhecimento que o Cristão é Cristão não em função da sua raça, mas unicamente pela sua fé em Jesus Cristo. Que extraordinária fundamentação para a ação missionária da Igreja! 4) Mas o cristão, embora livre dos detalhes da lei, aliás já questionados no próprio judaísmo (SI 51.16-17; Mq 6.8, etc), expressa sua liberdade através do seu compromisso com o Reino de Deus e Sua Justiça. Como o próprio Paulo disse na sua epístola mais veemente em favor da liberdade cristã, a de Gálatas, "... fostes chamados à liberdade, porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede antes servos uns dos outros, pelo amor" (5.13). Lutero entendeu bem o que Paulo estava dizendo, por isso no seu magnífico tratado sobre a liberdade ele insistiu que o cristão é, a uma vez, o ser humano mais livre do mundo e o mais preso, pois ele passa a ser o servo de todos! 5) Por que destacar idolatria, abstenção do sangue e impureza sexual? Quer me parecer que há aqui uma maneira, bem prática, bem dentro da compreensão até de cristãos novos a insistir em três valores duradouros, a saber: a) O cristianismo, como o judaísmo, não admite divisão de lealdades.O judeu se lembrava sempre: "...o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás pois o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, e de toda a tua força" (Dt 6.4-5), aliás, muito relacionado aos primeiros dois mandamentos (Dt 5.7-9). Assim, o cristão confessava unicamente Jesus como o Senhor da sua vida (Rm 10.9; I Co 12.3). b) Abster-se de comer carne com sangue era uma proibição muito antiga e pode ser vista simbolicamente com reverência pela vida (cf. Dt 12.23). É provável que poucos cristãos hoje se preocupem literalmente com esta proibição, mas qual de nós seres humanos não se importa se formos cristãos ou não, não se rebela contra o desprezo do valor humano tão evidente em nossos dias, o genocídio dos índios do Brasil, os "desaparecidos" da Argentina e das Filipinas calculados por alguns como talvez semelhantes em número aos da Argentina, e a transformação do nosso planeta Terra tão pródigo de vida natural em um deserto que poderá vir a ser nosso sepulcro? (No momento em que escrevia estas linhas, uma nuvem radioativa de um grande reator atômico russo ameaça vida e saúde de milhares, quiçá milhões, na Europa). c) E finalmente, pureza sexual, que tem tantas implicações no sentido de vida familiar responsável, estável e saudável; relacionamento entre homem e mulher baseado em igualdade e respeito mútuo e não exploração. Ou, no conjunto, há o lembrete de que ser cristão significa ter liberdade — do pecado, da mediocridade, da inutilidade, e liberdade para viver plenamente para os outros, sem cair nos erros tão comuns do ser humano. Pois como Tiago disse, a verdadeira religião consiste em visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo (Tg 1.27).

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