OS MINISTÉRIOS NO NOVO TESTAMENTO – A HISTÓRIA DA IGREJA - DUNCAN REILY
Mesmo
dentro do Novo Testamento, como vimos, há evidência de uma considerável
evolução nos conceitos de ministérios, e especialmente nos títulos dados aos
diversos ministérios. Dissemos acima que Ef 4.11 marca a transição. Nesse
versículo, duas fases de ministérios podem ser distinguidas: apóstolos*,
profetas e evangelistas representam a fase missionária, itinerante,
carismática. Pastores e doutores são servos especialmente na igreja local. A
Didaquê, antigo manual para catecúmenos (candidatos ao batismo), também ilustra
esta transição. Didaquê, capítulo 15: "Elegei, então, para vós mesmos,
bispos e diáconos, dignos do Senhor, varões mansos e não amantes de dinheiro,
verdadeiros e aprovados, porque também eles vos ministram os serviços dos
profetas e mestres". 4) Há uma coisa final a notar. Não há distinção de
sexo entre aqueles que exercem dons e ministérios na Igreja de Cristo (Gl
3.28). A única passagem que examinamos que de qualquer forma se refere ao sexo
menciona especialmente dois tipos de ministérios femininos, a saber, as
diaconisas (I Tm 3.11) e a importante ordem das viúvas (I Tm 5.3-16), cuja
descrição ocupa duas vezes mais espaço do que a do bispo. É provável que
encontraríamos exemplos de todos os dons e ministérios exercidos
especificamente por mulheres, o que também pode ser assunto para a discussão da
classe. Podemos citar rapidamente alguns exemplos. Nas listas mais formais de
ministérios, apóstolos sempre vêm em primeiro lugar: pois Paulo identifica
Júnia como apóstola com distinção (Rm 16.7). Seguem os profetas (e profetizas):
o evangelista Filipe, por exemplo, teve "quatro filhas donzelas, que
profetizavam" (At 21.9; cf. At 2.17). Mulheres ensinavam e exortavam, a
exemplo de Priscila, à qual, junto com seu marido Áquila, cuidava (pastoreava?)
da comunidade cristã em Éfeso, onde também ensinou a Apoio "mais
pontualmente o caminho de Deus" (At 18.26). E o que dizer de Dorcas, cujas
caridades tanto comoveram a comunidade de Jope (At 9.36-41)? Marta representa
aquelas mulheres teólogas (doutoras) que tiveram a sensibilidade de perceber
quem era Jesus, muito antes da sua morte e ressurreição: "Creio que tu és
o Cristo, o Filho de Deus" (Jo. 11.28; Jo. 4.30-42). A lista já vai se
tornando longa... Os caps. 11 e 12 da Didaquê tratam especialmente desse
ministério local (de bispos e diáconos) lado a lado (embora aparentemente de
menor importância para o autor desconhecido do Didaquê) com o carismático. Para
evitar delongas, não citaremos uma passagem de mártir Inácio de Antioquia, o
qual insistia na necessidade de um ministério em três ordens, bispo,
presbítero, diácono. I Timóteo já assume, no entanto, esta hierarquia, mas
interessantemente menciona também diaconisas e descreve detalhadamente a ordem
das viúvas, deixando muito evidente a importância dos ministérios femininos na
Igreja antiga. Qual é o sentido dessa transição e eventual (quase) substituição
do ministério de dons e ministérios pelo ministério de ordens e hierarquia? As
respostas não são tão fáceis, mas algumas respostas podem ser pensadas. 1) Certas funções essenciais tinham que ser
exercidas na igreja pela sua própria natureza. Para o exercício destas funções,
pessoas tinham que ser encontradas. A função da proclamação, a do ensino, a
presidência do culto e sacramento, do serviço à comunidade da fé e à comunidade
maior eram indispensáveis, de modo que pouco a pouco assumiram formas mais
definidas e institucionalizadas. 2) É
provável que alguns dos ministérios que surgiram na Igreja tenham tido modelos
na sinagoga judaica. Alguns estudiosos encontram no HYPERÉTES (At 4.20, onde
ele é chamado de "ministro") o bispo; outros o vêem como o modelo do
diácono. O ancião ou "presbítero" era figura importante na vida
pública e religiosa de Israel, como o era em Roma (o Senado era a assembléia
dos anciãos etc). Curiosamente, nosso termo senil vem da mesma raiz. A
necessidade sentida de se ter um ministério estável para a Igreja local
resultou na adoção de um ministério em três ordens: bispo, presbítero e
diácono, bem como de diaconisas e viúvas. É bem possível, porém, que estas
"ordens" tenham tomado como modelos respectivamente o sumo sacerdote,
o sacerdote, e o levita. 3) Especialmente a partir do meado do segundo século,
a Igreja foi perturbada pelas novidades doutrinárias* dos gnósticos*. Nesse
ambiente de confusão doutrinária* o bispo (que era o pastor da igreja local)
assumiu a função de defensor da fé (preservador da pura doutrina*) e símbolo da
unidade da Igreja. No mesmo período, em meio à perseguição romana, o bispo,
como chefe da Igreja local, era também o alvo da mais feroz opressão. O
martírio corajoso de pessoas como Policarpo, o bispo de Esmirna, Inácio, bispo
de Antioquia, e o velho Potino, bispo de Leão, reforçou o prestígio do bispo.
Uma observação final: Nós usamos muito na Igreja e na sociedade a categoria de
"líder". Promovemos cursos para o "treinamento de líderes"
etc. Mas, curiosamente, não se encontra o conceito na Bíblia; simplesmente não
é uma das categorias em que biblicamente se discute a questão de dons e
ministérios! "Liderança" cheira um pouco aos discípulos que disseram
a Jesus: "Concede-nos que na tua glória nos assentemos, um à tua direita,
e outro à tua esquerda" (Mc 10.37), ou o desejo de ser grande. Mas, a
estes últimos Jesus falou: "Se alguém quiser ser o primeiro, será o
derradeiro de todos e o servo de todos" (Mc 9.35). Parece que nas
passagens bíblicas examinadas, as posses das pessoas, geralmente tão
valorizadas hoje, e que podem sutilmente influenciar na escolha de pessoas para
os diversos ministérios da Igreja, não pesavam. A Didaquê, por sua vez, vê no
dinheiro um possível empecilho ao verdadeiro serviço: nenhum "amante ao
dinheiro" servia para ser eleito Bispo ou Diácono! Não, a categoria
bíblica é outra — é servo. E tinha que ser assim. Já no Antigo Testamento,
aparece a figura de Servo sofredor que a igreja desde cedo reconheceu como tipo
de Cristo (Lc 24.25-27; At 8.32-35). Jesus também disse: "Porque o Filho
do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em
resgate de muitos" (Mc 10.45; cf. sua exortação também no versículo 44).
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