MINAS TERRESTRES MUDAM O COTIDIANO DE CENTENAS DE VILAS COLOMBIANAS PARA PODER VIVER EM ALGUM DOS 688 MUNICÍPIOS DA COLÔMBIA ASSOLADOS PELAS MINAS TERRESTRES E OUTROS EXPLOSIVOS, É FUNDAMENTAL APRENDER A OLHAR PARA O CHÃO, UMA REGRA QUE CENTENAS DE CAMPONESES SEGUEM EM SEU DIA A DIA
"As
minas mudaram profundamente a vida da comunidade. Nós antes podíamos caminhar
de noite, hoje não mais. Já não fazemos festas por medo. Há um temor
generalizado de que a qualquer momento aconteça algo. As pessoas já não têm
tranquilidade", disse à agência Efe "Javier", morador de San
Andrés de Pisimbalá, na região de Cauca. "Javier" não quis dar seu
nome verdadeiro. Em sua cidade há certa resistência ema admitir que no final de
2014 foram encontrados artefatos explosivos a poucos metros de um parque infantil.
"Algumas pessoas nos disseram que aqui reina o silêncio, que eles [grupos
armados] alertaram para a situação [das minas], mas ninguém prestou atenção,
ninguém quer assumir a responsabilidade", explicou Luis Enrique Fajardo,
voluntário da Cruz Vermelha colombiana. A área povoada de San Andrés está em
uma área montanhosa. Há ruas de terra, casas baixas e muitos caminhos
secundários que os moradores já não percorrem, em parte porque sabem que são
perigosos – algo aprendido em oficinas de capacitação dadas pela Cruz Vermelha
colombiana. As oficinas fazem parte de um projeto iniciado em 2011 e realizado
em seis regiões da Colômbia com dois focos de atuação: a capacitação de civis
para evitar riscos e conhecer seus direitos e o acompanhamento das vítimas tanto
no plano físico como no psicológico. A situação da Colômbia justificava a
missão; o país foi em 2013 o segundo do mundo com mais vítimas por minas
terrestres: 368. Segundo dados da Cruz Vermelha Colombiana, em 45% de seu
território houve acidentes do tipo, 98% deles em áreas rurais. As crianças se
transformaram nas principais destinatárias desta capacitação desde que quatro
minas foram encontradas atrás de um colégio, em outubro. "Era domingo de
manhã, íamos fazer um almoço coletivo. Um professor foi preparar o lugar para
pôr a panela e então encontrou o terreno escavado", lembrou
"Javier". "Felizmente tinha recebido capacitação da Cruz
Vermelha e algo se acendeu em mim como uma lâmpada. Ao olhar com cuidado
encontrei cabos e informei imediatamente as autoridades", detalhou. Quando
ocorre uma explosão, é oferecido acompanhamento das vítimas, como o que recebeu
Liliana Cerón, que conserva em uma de suas pernas as lascas de uma bomba que
explodiu em dezembro em Inzá, perto de San Andrés. "Sempre que minha perna
dói me lembro desse momento. É muito duro, muda sua vida. Você sempre acha que
nunca vai acontecer contigo, mas ninguém está livre de nada", comentou.
Não se sabe quantas minas terrestres há na Colômbia. Há duas semanas, o governo
colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que negociam
a paz desde novembro de 2012 em Cuba, decidiram eliminar estes artefatos
somando as forças do Estado e a informação da guerrilha. Mas Cerón é cética em
relação ao resultado final das negociações. "O que fazem em Havana me
parece algo que não tem nem pé nem cabeça, porque vão ficar mais grupos armados
e isso de paz é para encher a cabeça das pessoas. É impossível, porque além das
Farc há mais grupos armados e, se um acabar, outro vai se armar e assim
sucessivamente", concluiu. Muitos cristãos vivem no meio desse fogo
cruzado em Cauca e em outras regiões, correndo sérios riscos. A Colômbia ocupa
a 35ª posição na Classificação da Perseguição Religiosa , lista atualizada
anualmente pela Portas Abertas, que revela os 50 países mais hostis ao
cristianismo.
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