CONTRA O AMOR NÃO HÁ LEI SOLIDARIEDADE E RESPEITO SÃO VALORES ENCONTRADOS NO EVANGELHO E QUE ORIGINARAM MOVIMENTOS EM FAVOR DO DIREITO DO HOMEM. PORÉM, O VALOR ACIMA DE QUALQUER OUTRO O AMOR — É A PRINCIPAL MARCA DOS SEGUIDORES DE CRISTO, QUE O COLOCAM EM PRÁTICA, AINDA QUE TENHAM SEUS DIREITOS DESRESPEITADOS
Nunca se havia visto nada igual. A autoridade
com que Jesus falava era incomparável (Mt 7.29),
e sua mensagem apontava um novo modo de
se relacionar com Deus e com as pessoas, o qual
poderia ser resumido num único verbo: amar.
Essa mensagem aparentemente simples foi
poderosa o bastante para impactar o mundo
desde então até os dias de hoje, mesmo fora
de círculos cristãos, como, por exemplo, na
Revolução Francesa. Na Declaração dos deveres
do homem e do cidadão, redigida durante a
Revolução, em 1 795, encontra-se o seguinte
artigo sob a lista de deveres do ser humano:
“Não fazei ao outro o que não quereis que façam
a vós mesmos. Fazei constantemente aos outros
o bem que gostaríeis de receber’ Essa é uma
cópia quase exata das palavras de Jesus em
4ateus 7.12: ‘Assim, em tudo, façam aos outros o
que vocês querem que eles lhes façam’
Foi nos ensinos do Novo Testamento
que a Revolução Francesa encontrou
seus princípios de liberdade, igualdade e
fraternidade entre os homens.
Esses valores permanecem até hoje reunidos
sob a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, que os apresenta como”o ideal
comum a ser atingido por todos os povos e
todas as naçöes’( segundo diz o próprio texto
(veja mais sobre a Declaração em “Celebração da
humanidade’ na página 11).
O ensino de Jesus sobre o amor, porém, é
maior que os princípios de liberdade, igualdade
e fraternidade. Com suas palavras e sua própria
vida, ele mostrou que amar envolve uma
autorenúncia que só pode ser alcançada por
aqueles que abriram mão de tudo para receber
o direito máximo: ser chamado hlho de Deus (Jo 1.12). Apenas esses estão capacitados para obedecer à ordem suprema de amar ao
próximo como a si mesmo.
A perseguição contra a Igreja mostra
que o homem natural é incapaz de amar
e, consequentemente, respeitar os direitos
do outro. Por isso a Declaração se apresenta
como um “ideal’ Contudo, ao mesmo tempo,
a perseguição mostra a graça transformadora
de Deus, capaz de levar seus 6lhos a praticar a
justiça e o amor, a despeito da opressão.
A lei do perdão
Nakhetra Nayak foi um desses que tiveram
seu direito desrespeitado. Segundo o artigo
16.3 da Declaração, a família de Nakhetra teria
direito à proteção da sociedade e do Estado.
Mas não foi o que ela recebeu.
Em 2008, a família desse indiano foi
cruelmente oprimida após uma onda de
violência que se espalhou no distrito de
Kandhamal, Estado de Orissa. Sua casa foi
incendiada e eles não tiveram outra opção a não
ser fugir para a selva, na companhia de outras
famílias cristãs igualmente afetadas.
“Todos os cristãos, incluindo eu, nos
abrigamos na selva para salvar a vida. Foi terrível,
não tínhamos nada para comer, e nem água para
beber’( relembra o agricultor). Um ano depois, Nakhetra reuniu a coragem
necessária para voltar à sua vila de origem, apenas
para ser expulso mais uma vez. Ele e outros
cristãos, então, passaram a viver nos arredores da
vila, em casas provisórias que, com o passar do
tempo, foram se tornando permanentes.
Em 2011, a Portas Abertas tomou
conhecimento dessa comunidade cristã e
adotou-a. Construíram-se casas, uma escola,
e todos os habitantes foram inscritos em um programa de ajuda socioeconômica que
lhes possibilitou ter uma pequena fazenda
coletiva, onde há plantações e gado, tudo
administrado por eles mesmos.
Tamanha prosperidade não passou
despercebida aos olhos dos moradores da vila,
que logo começaram a enviar seus filhos para
a escola cristã. Crianças hindus e cristãs agora
estudam lado a lado algo notável, uma vez
que os filhos de cristãos não são admitidos
facilmente nas escolas públicas.
Nakhetra e os cristãos de sua nova vila foram
capazes de, pela lei do amor, perdoar os seus
devedores (Mt 6.12), apesar dos males que lhe
causaram. O perdão chegou ao ponto de os
dois lados se unirem e, com o apoio da Portas
Abertas, construírem um playground para seus
filhos, que brincam juntos enquanto os pais se
sentam, lado a lado, e batem um papo.
A lei do sai
Contudo, enquanto Nakhetra e outros
cristãos ¡ndianos conversam com seus vizinhos
hindus como sinal de perdão e amizade, para
o pastor Wei*, da China, bater um papo com
não cristãos é algo a se fazer com cautela. Wei
supervisiona mais de mil convertidos em sua
região, divididos em dezenas de grupos caseiros.
Por causa disso, as autoridades o convidam
rotineiramente para ir à delegacia e”tomar um
chá’ Não haveria problemas se o chá näo fosse
acompanhado de um interrogatório.
“Eles fazem perguntas do tipo ‘Quem são os
líderes da sua igreja?1Há estrangeiros envolvidos
com o seu trabalhoTlambém me alertam para
não deixar a minha igreja crescer muito’
Embora essa prática infrinja o direito
estabelecido pelo artigo 12 da Declaração
“Ninguém será sujeito à interferência em sua
vida privada” , Wei pode temperar sua hora de
chá com um pouco de sal.
“Ontem fui chamado para irá delegacia.
O delegado e eu acabamos nos tornando
amigos ao longo do tempo, e ontem eu pude
compartilhar com ele sobre como eu conheci o
Senhor Jesus’ relata Wei.
E se ele não tem medo de testemunhar
na própria delegacia, não seria diferente nas
ruas.”Toda quinta-feira à noite, nosso grupo
de jovens distribui folhetos e evangeliza nas
ruas, convidando as pessoas para uma refeição.
Quando você convida as pessoas para ir à
igreja, elas respondem dizendo que não são
cristãs. Mas elas não recusam quando são
convidadas para uma refeição’
Não é apenas sendo sai e luz em sua
sociedade que Wel responde à pressão.”Há dez
anos, fundei a Missão Chinesa. Já enviamos mais
de 50 missionários para países no Oriente Médio’ A lei da oração
Talvez o direito mais violado nos países onde
há perseguição seja o de mudar de religião,
conforme garante a Declaração em seu artigo
18:”Todo ser humano tem direito à liberdade de
pensamento, consciência e religião; este direito
inclui a liberdade de mudar de religião [...] e a
liberdade de manifestar essa religiåo’
Chandra Bikash, de Bangladesh, sofre esse
abuso há vinte e dois anos, quando trocou o
budismo por Cristo. Ele e a esposa chegaram a
ser agredidos por um grupo político. “Cinco ou
seis anos atrás, eles levaram nós dois e nosso
pastor para a floresta, onde nos torturaram.
Ainda me lembro da dor que senti’
No ano passado, o antagonismo contra sua
família atingiu o auge: quando regressava do
mercado com sua esposa, às 9 horas da manhã,
eles encontraram um montão de cinzas no lugar
onde ficava sua casa.
“É claro que fiquei furioso quando destruíram
meus bens. Mas fiz o possível para não retaliar.
Em vezdisso, minha família e eu oramos por eles.
Tentamos perdoá-los como Jesus faria’
Ao orar por aqueles que o perseguiram,
Chandra cumpriu a lei do amor e ganhou uma
pessoa para Cristo: um vizinho budista, que
estava entre as pessoas que incendiaram sua
casa, entregou a vida a Jesus.
Deus honrou a obediência de Chandra: além
de ter sua casa reconstruída com a doação de
parceiros da Portas Abertas, ele pôde ver 42
pessoas de sua vila tornando-se cristãs por meio
de seu ministério. Como ele, todos os convertidos
sofrem pressão para voltar ao budismo e são
desencorajados a anunciar o evangelho. A lei do amor
Ainda que a mensagem de Jesus tenha
inspirado diversos movimentos que visam
proteger a dignidade humana, ela vai além
do respeito e fraternidade, mostrando que o
homem deve amar seu próximo da mesma
maneira como foi amado por Deus.
Dessa forma, a Igreja em todo o mundo é a
primeira guardia da justiça, do respeito e do amor.
Ainda que haja leis para proteger o indivíduo, o
verdadeiro amor não pode ser cobrado — ele é
dado gratuitamente ao próximo, da mesma forma
que Deus o concedeu ao homem.
Ao olhar para a Igreja Perseguida, vemos como
a lei do amor é mais forte que a desobediência a
leis humanas, até mesmo que a própria lei do ódio
e do preconceito. Que o exemplo desses irmãos
nos estimule a viver segundo o objetivo de Cristo
para a sua lgreja:”Um novo mandamento lhes
dou: Amem-se uns aos outros. Com isso todos
saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se
amarem uns aos outros” (Jo 13.34-35).
Celebração da humanidade
A Declaraçao Universal dos Direitos Humanos e um documento
que representa um marco na história, Elaborada por representantes de
diferentes origens jurídicas e culturais de todas as regiões do mundo, 4
a Declaração foi proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas
em Paris, em 10 de dezembro de 1948, como uma norma comum a
ser seguida por todos os povos e nações. Ela estabelece, pela primeira
vez, a p,f luniversal dos direitos humanos.
mtrintar ;estabelecem
* Nome alterado por questões de segurança.
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