INIMIGO ÍNTIMO - VIVENDO COM PROPÓSITOS A RESPOSTA CRISTÃ PARA O SENTIDO DA VIDA - PASTOR ED RENÉ KIVITZ
As discussões a respeito de ser o homem essencialmente bom, ou essencial¬mente mau, como já observamos, são extensas e não nos interessam aqui, pelo menos por enquanto. Mas a experiência diz que, independentemente do que o homem é em essência, ele é naturalmente egoísta, egocêntrico, voltado para si mesmo e para seu próprio bem–estar e conforto. Essa característica do homem, em que predomina o ego e faz com que ele desenvolva uma espécie de teomania, é aquilo que os teólogos chamam pecado essencial ou original. Algo como um status do ser que pretende bastar–se. Em outras palavras, a criatura deu as costas para o Criador e pretendeu construir seu próprio mundo, com suas próprias leis, e administrá–lo com suas próprias capacidades.
A Bíblia fala de três tipos de pessoas: natural, carnal e espiritual.3 A primeira, natural, é simplesmente dominada pelos instintos da biossobrevivência, mais parecida com um bicho do que com gente. A se¬gunda, carnal, vai um pouco mais longe e adquire consciência, mas dela se utiliza apenas para tentar exercer domínio em benefício próprio. A terceira, espiritual, transcendeu seu próprio universo de interesses e de necessidades e tornou–se altruísta, solidária, capaz de partilhar e de em¬preender na comunhão.
Em termos simples, o ser humano está em constante luta entre essas dimensões de sua constituição. Em linguagem bíblica, diz–se que o espí¬rito luta contra a carne, e todo aquele que deseja experimentar a vida plena deve negar seu próprio ego. Esse conflito é ilustrado em extremo na experiência de Paulo, o apóstolo, quando grita desesperado: "Miserá¬vel homem que eu sou! [...] Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio. [...] Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá–lo".4O que ele está dizendo é que existe dentro dele um inimigo íntimo, um ego que o impede de expressar sua verda¬deira identidade. Por essa razão, a Bíblia diz que o homem é pecador, isto é, vive sob o domínio "da carne" e do ego, fazendo a vontade de seus desejos e pensamentos autónomos em relação ao Criador, matriz e fonte de vida.5
Não tenho dúvida de que boa parte, senão a totalidade, da infelicida¬de humana explica–se por essa tendência de viver de maneira egoísta. Num mundo tão diverso, ninguém consegue ser feliz se tudo o que valoriza é seu conforto e bem–estar pessoal. Por mais distintas que sejam, todas as tradições de espiritualidade têm um ponto comum: concordam que as pessoas mais estabilizadas na vida, e por que não dizer, felizes, são aquelas que cultivam o espírito abnegado, solidário, altruísta. Esse é mais um, se¬não o, paradoxo da vida: o caminho da auto–realização é a negação do ego.
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