O MOVIMENTO PENTECOSTAL: REFLEXÕES A PROPÓSITO DO SEU PRIMEIRO CENTENÁRIO
O moderno movimento pentecostal é considerado por muitos estudiosos o
fenômeno mais revolucionário da história do cristianismo no século 20, e talvez
um dos mais marcantes de toda a história da igreja. Em relativamente poucas
décadas, as igrejas pentecostais reuniram uma imensa quantidade de pessoas em
praticamente todos os continentes, totalizando hoje, segundo cálculos de
especialistas, cerca de meio bilhão de adeptos ao redor do mundo. Mais do que
isso, o pentecostalismo acarretou mudanças profundas no panorama cristão,
rompendo com uma série de padrões que caracterizavam as igrejas protestantes há
alguns séculos e propondo reinterpretações muitas vezes bastante radicais da
teologia, do culto e da experiência religiosa. Exatamente agora, sem que muitos
se dêem conta – inclusive muitos pentecostais – esse vasto e influente
movimento está completando um século. Rigorosamente falando, o pentecostalismo
como um fenômeno distinto surgiu nos últimos anos do século 19 ou nos primeiros
do século 20. Todavia, por algum tempo ele se manteve relativamente modesto e
circunscrito às fronteiras dos Estados Unidos. Seu crescimento vertiginoso e
sua difusão internacional ocorreram a partir do famoso Avivamento da Rua Azusa,
em Los Angeles, que teve início em abril de 1906. No Brasil, a magnitude do
pentecostalismo é evidente a todos os observadores. Há muitos anos esse
segmento congrega a maioria dos protestantes. De acordo com o Censo de 2000,
dos 26,2 milhões de evangélicos brasileiros, 17,7 milhões são pentecostais
(67%).[1] O crescimento vertiginoso que o protestantismo nacional tem
experimentado em décadas recentes reflete principalmente o que ocorre nas
igrejas pentecostais. Por causa dos seus pressupostos explícitos ou implícitos,
esse movimento tem uma notável capacidade de reinventar-se a cada geração,
assumindo formas novas e inusitadas. Isso já ocorreu no passado e ocorre
novamente agora com o neopentecostalismo, um fenômeno nitidamente brasileiro.
Assim como está se tornando comum falar em protestantismos, também se faz cada
vez mais necessário falar em pentecostalismos, tal a diversidade do movimento.
Outro fenômeno digno de nota – alvissareiro para alguns e inquietante para
outros – é a adoção da cosmovisão pentecostal nas igrejas históricas, quer a
católica, quer as protestantes, através do chamado movimento carismático ou de
renovação. Por essas e outras razões, é oportuno fazer-se uma nova reflexão
sobre esse tema já tão estudado. O enorme crescimento do pentecostalismo e o
impacto que tem causado nas igrejas e na sociedade, particularmente no Brasil,
tornam necessário um reexame da história e características, bem como das
possibilidades e limitações, desse movimento que completa um século de
trajetória histórica. A argumentação deste artigo obedecerá a seguinte
seqüência: inicialmente será apresentado um panorama dos antecedentes do
pentecostalismo e das origens históricas e teológicas desse movimento nos
Estados Unidos; em seguida, se fará uma breve síntese da história, evolução e
peculiaridades do pentecostalismo brasileiro; por fim, será feita uma avaliação
dos problemas e contribuições do movimento, sugerindo-se como as igrejas
reformadas devem relacionar-se com ele.
Nenhum comentário
Postar um comentário