O PENTECOSTALISMO NO BRASIL
A partir de Los Angeles, e especialmente de Chicago, o pentecostalismo
rapidamente se irradiou para vários outros países. O movimento entrou cedo na
América Latina, primeiro no Chile (1909) e logo em seguida no Brasil (1910). No
início o crescimento nesses e em outros países foi lento, mas se intensificou a
partir da década de 50. Desde os anos 70, o pentecostalismo também se expandiu
na América Central, especialmente na Guatemala e El Salvador, onde representa
respectivamente 30% e 20% da população. No Chile, cerca de 80% dos protestantes são pentecostais. Nesse
país, o pentecostalismo marcou a nacionalização do protestantismo. São muitas
as razões da expansão pentecostal na América Latina: as vicissitudes históricas
da obra evangelística e pastoral católica, o limitado trabalho das denominações
protestantes, o misticismo das culturas ibero-americanas, os graves problemas
econômicos, políticos e sociais. A primeira manifestação de entusiasmo
religioso no protestantismo brasileiro é atribuída por Émile Léonard ao
movimento liderado por Miguel Vieira Ferreira (1837-1895). Esse engenheiro,
presbítero e pregador leigo da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, membro
de uma família aristocrática de São Luís do Maranhão, acreditava que Deus ainda
se revelava diretamente às pessoas, como nos tempos bíblicos. Dotado de um
temperamento místico, certa vez teve uma espécie de transe, ficando totalmente
imóvel por longo período de tempo. Disciplinado pela igreja por insistir nas
suas idéias, o Dr. Miguel retirou-se com um grupo de crentes, a maior parte
parentes seus, e criou a Igreja Evangélica Brasileira (1879), que subsiste até
hoje. Todavia, esse grupo é diferente em vários aspectos do movimento
pentecostal surgido algumas décadas mais tarde. O sociólogo Paul Freston fala
sobre “três ondas” ou fases de implantação do pentecostalismo no Brasil. A
primeira onda, ainda nos primeiros anos do movimento pentecostal
norte-americano, trouxe para o país duas igrejas: a Congregação Cristã no
Brasil (1910) e as Assembléias de Deus (1911). Essas igrejas dominaram
amplamente o campo pentecostal durante quarenta anos. A Assembléia de Deus foi
a que mais se expandiu, tanto numérica quanto geograficamente. A Congregação
Cristã, após um período em que ficou limitada à comunidade italiana, sentiu a
necessidade de assegurar sua sobrevivência por meio do trabalho entre os
brasileiros. É interessante o fato de que, quando chegaram os primeiros
pentecostais, todas as denominações históricas já haviam se implantado no país:
anglicanos, luteranos, congregacionais, presbiterianos, metodistas, batistas e episcopais.
Todavia, o seu crescimento havia sido modesto. Em 1931, fazendo um levantamento
sobre o protestantismo nacional, Erasmo Braga ironicamente dedicou apenas umas
poucas linhas à Assembléia de Deus e nem se referiu à Congregação Cristã no
Brasil. A segunda onda pentecostal ocorreu na década de 50 e início dos anos
60, quando houve uma fragmentação do campo pentecostal e surgiram, entre muitos
outros, três grandes grupos ainda ligados ao pentecostalismo clássico: Igreja
do Evangelho Quadrangular (1951), Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para
Cristo (1955) e Igreja Pentecostal Deus é Amor (1962), todas voltadas de modo
especial para a cura divina. Essa segunda onda coincidiu com o aumento do
processo de urbanização do país e o crescimento acelerado das grandes cidades.
Freston argumenta que o estopim dessa nova fase foi a chegada da Igreja
Quadrangular com os seus métodos arrojados, forjados no berço dos modernos
meios de comunicação de massa, a Califórnia.[26] Esse período revela uma
tendência digna de nota – a crescente nacionalização do pentecostalismo
brasileiro. Enquanto que a Igreja Quadrangular ainda veio dos Estados Unidos,
as outras duas surgidas na mesma época tiveram raízes integralmente
brasileiras. A terceira onda histórica do pentecostalismo brasileiro começou no
final dos anos 70 e ganhou força na década de 80, com o surgimento das igrejas
denominadas “neopentecostais”, com sua forte ênfase na teologia da
prosperidade. Sua representante máxima é a Igreja Universal do Reino de Deus (1977),
mas existem outros grupos significativos como a Igreja Internacional da Graça
de Deus (1980), Igreja Renascer em Cristo, Comunidade Sara Nossa Terra, Igreja
Paz e Vida, Comunidades Evangélicas e muitas outras. Assim como a ênfase da
primeira onda foi o batismo com o Espírito Santo e o conseqüente falar em
línguas, a da segunda onda foi a cura e a da terceira, o exorcismo e mensagem
da prosperidade. Uma importante precursora dos grupos neopentecostais foi a
Igreja de Nova Vida, fundada pelo canadense “bispo” Robert McAllister, que
rompeu com a Assembléia de Deus em 1960. Essa igreja foi pioneira de um
pentecostalismo de classe média, menos legalista, e investiu muito na mídia.
Foi também a primeira igreja pentecostal a adotar o episcopado no Brasil. Sua
maior contribuição foi o treinamento de futuros líderes como Edir Macedo e seu
cunhado Romildo R. Soares. Outros grupos pentecostais e neopentecostais
brasileiros resultaram da chamada “renovação carismática”. Esse movimento
surgiu nos Estados Unidos no início dos anos 60, com a ocorrência de fenômenos
pentecostais nas igrejas protestantes históricas e também na Igreja Católica
Romana. No Brasil, a “renovação” produziu divisões em quase todas as
denominações mais antigas, com o surgimento de grupos como a Igreja Batista
Nacional, a Igreja Metodista Wesleyana e a Igreja Presbiteriana Renovada. Essa
adoção de crenças e práticas carismáticas, principalmente na área do culto,
continua afetando em maior ou menor grau as denominações tradicionais até hoje.
A esta altura, é oportuno considerar alguns representantes significativos do
pentecostalismo brasileiro.
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