IGREJA PRECISA ENCARNAR JESUS NÃO APENAS PROCLAMAR, DESABAFA MISSIONÁRIO TRABALHO DA JOCUM NO MORRO DO BOREL, RJ, HOJE É REFERÊNCIA INTERNACIONAL
Em 1990, sete missionários da Jocum (Jovens Com uma Missão) foram para
o morro do Borel, no Rio de Janeiro, e aceitaram o desafio de pregar o
evangelho em uma das comunidades mais violentas da cidade na época. No
princípio, enfrentaram a desconfiança da comunidade. Porém, através de seu
testemunho, conseguiram abertura para pregar o evangelho. Quatro anos depois,
mudou-se para lá o baiano Jovino Neto, que atualmente é o diretor do trabalho,
que inclui uma base missionária, uma creche, uma escola de música, uma escola
de futebol e uma clínica médica. Atendendo a um chamado de Deus, Neto largou um
cargo público no governo da Bahia e mudou-se com a esposa para a capital
carioca. Com formação na área de saúde, ele e os outros missionários começaram
a atender as pessoas de forma gratuita, oferecendo ajuda e cuidando desde
pessoas com doenças simples até feridos por bala perdida. Este foi o embrião do
trabalho que hoje serve aos mais de 20 mil moradores do morro. Eles colecionam
testemunhos de lutas, mas de muitas vitórias. Por causa da pobreza e do
tráfico, seus esforços se concentraram primordialmente no trabalho social, no
intuito de preservar as crianças da influência do crime. “A gente quer olhar
para a criança como ser integral, que precisa se desenvolver integralmente, de
forma pedagógica, emocional, cultural, social e física”, explicou ele em
entrevista ao portal Gospel Prime. Atualmente, a Jocum oferece aulas de músicas
para 100 crianças, enquanto 80 estão na creche Semente, que funciona em dois
turnos. O local hoje é referência na comunidade e existe uma fila de espera,
por que ela não possui estrutura para atender a todos que a procuram. Olhando
para as necessidades das famílias, na sua maioria sem a presença de um pai,
eles também oferecem um curso de artesanato que as capacita para a geração de
renda. Outra faceta do trabalho missionário é o Projeto Acolhedor, que através
de parceria com uma casa de recuperação, oferece ajuda para os que lutam contra
a dependência química. Em mais de duas décadas de esforço incansável, os
“jocumeiros” relatam com alegria uma longa lista de pessoas que, por intermédio
deles mudaram de vida e hoje servem a Deus. Alguns até tornaram-se missionários
dentro da própria comunidade onde passaram toda a sua vida. “Nós esquecemos o
coração do evangelho… A teologia que vemos hoje é a da benção, da zona de
conforto, do prazer em si mesmo”, insiste. Resumindo a visão do trabalho, Neto
explica que “proclamação e encarnação de Jesus infundiu isso muito bem na sua
caminhada… Jesus não fazia essa dicotomia, essa separação. Jesus proclamava e
encarnava. Tem momento que você precisa falar de Jesus, mas tem situações que
você vê tanto sofrimento que você precisa encarnar. A gente não faz separação”.
Ao analisar a situação de igreja nacional, defende que ela está muito
voltada para si, para os cultos. “Temos uma igreja muito contemplativa,
cultuar, chorar… a igreja precisa desenvolver esse sentimento de compaixão”,
desabafa. Explica ainda: “Compaixão é se identificar, é estar junto. Mas é
impossível fazer isso de longe”. A
base do Borel hoje é, dentro da Jocum, uma referência mundial. Eles recebem a
visita de equipes de todos os continentes, incluindo chineses, o que é um marco
na história da evangelização do Brasil. Curiosamente, alguns desses
estrangeiros se identificam tanto com o trabalho, que decidem mudar em
definitivo para o Brasil. É o caso de Lika, uma pedagoga holandesa que esteve
no país pela primeira vez em 2008. Meses depois de regressar à Holanda,
abandonou uma vida confortável na Europa para cuidar das crianças do Borel.
Acabou conhecendo Magno, um morador da comunidade. Eles casaram e tiveram uma
filha. Questionada sobre o motivo de mudança geográfica, ela não titubeia. “Eu
tinha tudo, mas o material não traz felicidade. Para mim, o verdadeiro sucesso
não é o material”. Quem quiser conhecer mais sobre o trabalho dessa base
missionária carioca, pode acessar o site www.jocumborel.org.br. Lá é possível
também colaborar com a construção de mais duas salas da creche Semente, que
poderá abrigar muitas das crianças que aguardam na fila.
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