PECADORES NAS MÃOS DE UM DEUS IRADO - JONATHAN EDWARDS - SERMÃO COMPLETO
Nesse versículo os ímpios e incrédulos israelitas, que eram o povo
visível de Deus, e que viviam debaixo de Sua graça, são ameaçados com a
vingança do Senhor. Apesar de todas as obras maravilhosas que Deus operara em
favor desse povo, este permanecia sem juízo e destituído de entendimento, como
está escrito no versículo 28. e mesmo sob todos os cuidados do céu produziram
fruto amargo e venenoso, conforme verificamos nos dois versículos anteriores. A
declaração que escolhi para meu texto, "A seu tempo, quando resvalar o seu
pé", parece subentender as seguintes questões, relativas à punição e
destruição que aqueles ímpios israelitas estavam sujeitos a sofrer: 1. Que eles
estavam sempre expostos à destruição , assim como está sujeito a cair todo
aquele que se coloca de pé, ou anda por lugares escorregadios. A maneira como
serão destruídos vem aí representada pelo deslize de seus pés. A mesma citação
encontramos no Sl 73.18-19, "Tu certamente os pões em lugares
escorregadios, e os fazes cair na destruição". 2. Faz supor também que
estavam sempre sujeitos a uma súbita e inesperada destruição, à semelhança daquele
que anda por lugares escorregadios e a qualquer instante pode cair. O ímpio não
consegue prever se, num momento, ficará de pé, ou se, em seguida, cairá. Quando
cai, cai subitamente, sem aviso, como está escrito, também, no Sl 73.18-19,
"Tu certamente os põe em lugares escorregadios, e os fazes cair na
destruição. Como ficam de súbito assolados! Totalmente aniquilados de
terror!" 3. Outra coisa implícita no texto é que os ímpios estão sujeitos
a cair por si mesmos, sem serem derrubados pelas mãos de outrem, pois aquele
que se detém ou anda por terrenos escorregadios não precisa mais do que seu
próprio peso para cair por terra. 4. E também a razão pela qual ainda não
caíram, e não caem, é por não haver chegado ainda o tempo determinado pelo
Senhor. Pois está escrito que quando este tempo determinado, ou escolhido,
chegar, seu pé irá resvalar. E então serão entregues à queda, para a qual já
estão predispostos por causa do próprio peso. Deus não os susterá mais em
lugares escorregadios, mas vai deixá-los sucumbir. Então, nesse exato momento,
cairão em destruição, à semelhança daqueles que transitam em terrenos
escorregadios, à beira de precipícios, e não conseguem se manter de pé
sozinhos,caindo imediatamente e se perdendo ao serem abandonados. Eu insistira
agora num exame maior das seguintes palavras: não há nada, a não ser a boa
vontade de Deus, que impeça os ímpios de caírem no inferno a qualquer momento.
Por mera boa vontade de Deus, me refiro à sua vontade soberana, ao seu livre
arbítrio, o qual não é restringido por nenhuma obrigação, nem tolhido por
qualquer tipo de dificuldade. Em última análise, sob qualquer aspecto, nada,
exceto a vontade de Deus, tem poder para preservar os ímpios da destruição por
um instante sequer. A verdade dessa observação transparecerá nas seguintes
considerações: 1. Não falta poder a Deus para lançar os ímpios no inferno a
qualquer momento. A mão dos homens não é suficientemente forte quando Deus se
levanta. O mais forte deles não tem poder para resistir-lhe, e ninguém consegue
se livrar de suas mãos.Ele não só pode lançar os ímpios no inferno, como pode
fazê-lo com a maior facilidade. Muitas vezes, uma autoridade terrena encontra
grande dificuldade em dominar um rebelde, o qual acha meios de se fortalecer e
se tornar mais poderoso pelo número de seguidores que alicia. Mas com Deus não
é assim. Não há força que resista ao seu poder. Mesmo que as mãos se unam, e
que enormes multidões de inimigos do Senhor juntem suas forças e se associem,
serão todos facilmente despedaçados. São como montes de palha seca e leve
diante de um furacão, ou como grande quantidade de restolho perto de chamas
devoradoras. Nós achamos fácil pisar e esmagar uma lagarta que se arrasta pelo
chão. Achamos fácil também cortar ou chamuscar um fio de linha fino que segura
alguma coisa. Então, é simples para Deus, quando lhe apraz, lançar seus
inimigos no inferno profundo. Quem somos nós, que imaginamos poder resistir
Àquele ante cuja repreensão a terra treme, e perante quem as pedras tombam? 2.
Eles merecem ser lançados no inferno. Assim, a justiça divina não se interpõe
no caminho dos ímpios; nem faz objeção pelo fato de Deus usar seu poder para
destruí-los a qualquer momento. Muito pelo contrário, a justiça fala assim da
árvore que produz frutos maus: "... pode cortá-la; para que está ela ainda
ocupando inutilmente a terra?" (Lc 13.7). A espada da justiça divina está
o tempo todo erguida sobre suas cabeças, e somente a mão de absoluta
misericórdia e a mera vontade de Deus podem detê-la. 3. Os ímpios já estão
debaixo da sentença de condenação ao inferno. Eles não só merecem ser lançados
ali, mas a sentença da lei de Deus, esse preceito de eterna e imutável retidão
que o Senhor estabeleceu entre si mesmo e a humanidade, também se coloca contra
eles, e assim os mantém. Portanto, tais homens já estão destinados ao inferno.
"...o que não crê já está julgado." (Jo 3.18). Assim, todo
impenitente pertence, verdadeiramente, ao inferno. Ali é o seu lugar, ele é de
lá, como temos em João 8.23: "vós sois cá debaixo" e para lá é
destinado. Este é o lugar que a justiçam, a Palavra de Deus e a sentença de sua
lei imutável reservam para ele. 4. Assim sendo, eles são objetos da ira e da
indignação de Deus, que se manifesta através dos tormentos do inferno. E a
razão de não descerem ao inferno agora mesmo não é pelo fato do Senhor, em cujo
poder se encontram, estar menos irado com eles no momento, ou, pelo menos, não
tão encolerizado como está com aquelas miseráveis criaturas a quem ele
atormenta no inferno, as quais experimentam e sofrem ali a fúria de sua
indignação. Sim, Deus se acha muito mais furioso com um grande número de
pessoas que está vivendo na terra agora, talvez de modo mais tranqüilo e
confortável, do que com muitos daqueles que estão experimentando as chamas do
inferno. Portanto, a razão porque Deus ainda não abriu a sua mão e os liquidou,
não é por ele não se importar com suas iniqüidades, ou não se ofender. O Senhor
não se parece com eles, embora pensem que sim. A fúria de Deus arde contra
eles, sua condenação não demora. O abismo está preparado, o fogo está pronto, a
fornalha incandescente está ardendo, pronta para recebê-los. As chamas
vermelhas queimam. A espada luminosa foi afiada e pesa sobre suas cabeças. O
inferno abriu a sua boca debaixo deles. 5. O diabo está pronto a cair sobre os
ímpios, para apoderar-se deles como coisa sua, no momento em que Deus o
permitir. Eles lhe pertencem, suas almas encontram-se em seu poder e sob seu
domínio. As Escrituras os apresentam como propriedade de satanás (Lc 11.21). Os
demônios os espreitam, estão sempre ao seu lado, à sua direita, esperando por
eles como leões esfaimados e enfurecidos que vêem a presa, aguardando a hora de
agarrá-la, mas são restringidos por enquanto. Se Deus retirasse sua mão, a qual
os refreia, eles cairiam sobre suas pobres almas num instante. A velha serpente
está pronta a dar o bote. O inferno escancara sua boca para recebê-los. E se
Deus permitisse, seriam rapidamente engolidos e consumidos. 6. Nas almas dos
pecadores reinam aqueles princípios diabólicos que os faria arder agora mesmo
no inferno, se não fosse a restrição imposta por Deus. Existe na própria
natureza carnal do homem uma potencialidade alicerçando os tormentos do
inferno. Há aqueles princípios corruptos que agem de maneira poderosa sobre
eles, que só dominam completamente, e que são sementes do fogo do inferno.
Esses princípios são ativos e poderosos, de natureza extremamente violenta, e
se não fosse a mão restringidora do Senhor sobre eles, seriam logo destruídos.
Iriam arder em chamas da mesma forma que a corrupção e a rebeldia fazem arder
os corações das pessoas condenadas, gerando nelas os mesmos tormentos. As almas
dos ímpios são comparadas nas Escrituras com o mar agitado (Is 57.20). Por
enquanto Deus controla as iniqüidades deles pelo seu imenso poder, como faz com
as ondas enfurecidas do mar, dizendo: "virão até aqui, mas não
prosseguirão." Mas se Deus retirasse deles seu poder refreador, seriam
todos tragados por elas. O pecado é a ruína e a miséria da alma. Ele é
destrutivo pela própria natureza. E se Deus o deixasse sem controle, não seria
preciso mais nada para tornar as almas humanas absolutamente miseráveis. A
corrupção no coração do homem é algo cheio de fúria incontrolável e sem freio.
Enquanto os pecadores viverem aqui, essa fúria será como fogo reprimido pelas
restrições divinas. Ao passo que, se fosse liberada, incendiaria o curso
natural da vida. E como o coração é um poço de pecado, este mesmo pecado iria
imediatamente transformar a alma num forno incandescente ou numa fornalha de fogo
e enxofre, caso não fosse restringido. 7. O fato de não haver sinais visíveis
da morte por perto, não quer dizer que haja, por um momento, sequer segurança
para os ímpios. O fato do homem natural ter boa saúde, de não prever que
poderia deixar este mundo num minuto por um acidente, de não haver perigo
visível à sua volta, nada disso lhe ser vê de segurança. Contínuas e inúmeras
experiências humanas, em todas as épocas, nos mostram que não existem provas de
que o homem não esteja à beira da eternidade, ou de que seu próximo passo não
venha a ser no outro mundo. Os caminhos e meios, invisíveis e imprevistos, de
chegar lá são incontáveis e inconcebíveis. Os homens não convertidos caminham
por cima das profundezas do inferno, sobre uma superfície frágil onde existem
varias áreas quebradiças, também invisíveis, as quais não conseguirão agüentar
o seu peso. As flechas da morte voam ao meio-dia sem serem vistas. O olhar mais
atento não pode distingui-las. Deus tem muitas maneiras diferentes e
misteriosas de tirar os homens pecadores do mundo e despachá-los para o
inferno. Não há nada que faça crer que o Senhor precise de ajuda de um milagre,
ou que necessite se desviar do curso natural de sua providência para destruir
qualquer pecador, a qualquer momento. Desde que todos os meios para fazer os
ímpios deixarem este mundo estão de tal forma nas mãos de Deus, tão absoluta e
universalmente sujeitos ao seu poder e determinação, segue-se que a ida dos
pecadores para o inferno, a qualquer momento, depende simplesmente da vontade
de Deus – quer usando meios ou não. 8. O cuidado e a prudência dos homens
naturais em preservar suas vidas, ou o cuidado de terceiros em preservá-las,
não lhes dá segurança por um momento sequer. A providência divina e a
experiência humana testificam isso. Existem evidências claras de que a
sabedoria dos homens não lhes é segurança contra a morte. Se não fosse assim,
haveria uma diferença entre a morte prematura e inesperada de homens sábios e
prudentes, e dos demais. Mas, o que realmente acontece? "Como morre o
homem sábio? Assim como um tolo." (Ec 2.16). 9. Todo o esforço e artimanha
dos ímpios para escaparem do inferno não os livram do mesmo, nem por um
momento, pois continuam a rejeitar a Cristo, e portanto permanecem ímpios.
Quase todos os homens naturais que ouvem falar do inferno alimentam a ilusão de
que vão escapar dele. Quanto a sua própria segurança, confiam em si mesmos.
Vangloriam-se do que fizeram, do que estão fazendo e do que pretendem fazer.
Cada um traça seu próprio plano, pensa em evitar a condenação, e se vangloria e
que irá tramar tão bem todas as coisas que seu esquema, com certeza, não
falhará. Na verdade, eles ouvem dizer que poucos se salvam, e que a maior parte
dos homens que já morreram foram para o inverno; mas cada um deles se imagina
capaz de planejar melhor a própria fuga, do que os outros puderam fazer. Dentro
de si mesmos dizem que não pretendem ir para esse lugar de tormento, e que
pretendem tomar todo o cuidado necessário, esquematizando as coisas de tal
forma na ao terem possibilidade de falhar. Mas os insensatos filhos dos homens
iludem-se miseravelmente quanto a seus próprios planos. A confiança que
depositam na própria força e sabedoria é o mesmo que confiar na fragilidade de
uma sombra. A maior parte daqueles que antes viveram debaixo da dispensação da
graça, e agora estão mortos, sem dúvida alguma foram para o inferno. E não é
por terem sido menos espertos do que os que ainda estão vivos, nem por terem
planejado as coisas de tal forma que não lhes assegurou o escape. Se pudéssemos
falar com eles, um a um, e perguntar-lhes se, quando vivos, esperavam ser
vítimas de tamanha miséria, sem dúvida ouviríamos todos dizer: "Não, eu
nunca pensei em vir para cá. Eu tinha esquematizado as coisas de maneira bem
diferente. Pensei que iria conseguir algo melhor para mim, que meu plano era
adequado. Pensei em me precaver melhor, mas tudo aconteceu de maneira tão
repentina. Não esperava por isso naquela época, e nem daquela maneira. Mas tudo
veio como um ladrão. A morte foi mais esperta que eu. A ira de Deus foi rápida
demais para mim. Oh!, maldita insensatez! Eu me gabava, e me deleitava em
sonhos vãos quanto ao que faria no futuro. E justamente quando eu mais falava
de paz e segurança, me sobreveio uma súbita destruição." 10. Deus não se
sujeita a nenhuma obrigação, nem a nenhuma promessa de manter o homem natural
fora do inferno por um momento sequer. Ele não fez absolutamente nenhuma
promessa de vida eterna, ou de libertação ou proteção da morte eterna, senão
àquelas que estão contidas na aliança da graça – as promessas concedidas em
Cristo, no qual todas as promessas são o sim e o amém. Mas obviamente os que
não são filhos da aliança da graça não têm interesse na mesma, pois não crêem
em nenhuma das suas promessas, e nem têm o menor interesse no Mediador dessa
aliança. Portanto, apesar de tudo que os homens possam imaginar ou pretender
sobre promessas de salvação, devido suas lutas pessoais e buscas incessantes,
deixamos claro e manifesto que qualquer desses esforços ou orações que se façam
em relação à religião, será inútil. A não ser que creiam em Cristo, o Senhor,
de modo nenhum Deus está obrigado a conservá-los fora da condenação eterna.
Então, os homens impenitentes estão detidos nas mãos de Deus por cima do abismo
do inferno. Eles merecem o lago de fogo e para ele estão destinados. Deus se
acha terrivelmente irritado. Seu furor para com eles é tão grande quanto para
com aqueles que já estão agora sofrendo o suplício da fúria de sua ira no
inferno. Esses ímpios não fizeram absolutamente nada para abrandar ou diminuir
sua cólera, portanto o Senhor não está de modo algum preso a qualquer promessa
de livramento, nem por um momento sequer. O diabo espera por eles, o inferno já
escancarou a sua boca para tragá-los. O fogo latente em seus corações agrava-se
agora querendo explodir. E como continuam sem o menor interesse no Mediador,
não existem meios, ao alcance deles, que lhes possa dar segurança. Em suma,
eles não têm refúgio e nada onde se segurar. O que os retém a cada instante é a
absoluta boa vontade divina e a clemência sem compromisso, sem obrigação, de um
Deus enraivecido. Aplicação Essa mensagem pode despertar as pessoas não
convertidas para o significado do perigo que estão correndo. Isso que vocês
escutaram é o caso de todo aquele que não está em Cristo. Esse mundo de
tormento, isto é, o lago de enxofre incandescente, está aberto debaixo de
vossos pés. Ali se encontra o terrível abismo de chamas que ardem com a fúria
de Deus, e o inferno com sua imensa boca escancarada. E vocês não têm onde se
apoiarem, nem coisa alguma onde se segurarem. Não existe nada entre vocês e o
inferno, senão o ar, e só o poder e o favor de Deus podem vos suster.
Provavelmente vocês não têm consciência dessas coisas, acham que vão conseguir
se livrar do inferno, e não vêem nisso tudo a mão de Deus. E olham as coisas ao
seu redor, como o bom estado de vossa saúde física, os cuidados que tomam de
vossas vidas, e os meios que usam para vossa própria preservação. Mas essas
coisas não representam nada. Se Deus retirasse sua mal, elas de nada valeriam
para impedir-vos a queda; elas valem tanto como a brisa tênue que tenta
sustentar uma pessoa no ar. Vossas iniqüidades vos fazem pesados como chumbo,
pendentes para baixo, pressionados em direção ao inferno pelo próprio peso, e
se Deus permitisse que caíssem vocês afundariam imediatamente, desceriam com a
maior rapidez, e mergulhariam nesse abismo sem fundo. Vossa saúde, vossos
cuidados e prudência, vossos melhores planos, toda a vossa retidão, de nada
valeriam para sustentar-vos e conservar-vos fora do inferno. Seria como tentar
segurar uma avalancha de pedras com uma teia de aranha. Se não fosse a
misericórdia de Deus, a terra não suportaria vocês por um só momento, pois são
uma carga para ela. A natureza geme por causa de vocês. A criação foi obrigada
a se sujeitar à escravidão, involuntariamente, por causa da vossa corrupção.
Não é com prazer que o sol brilha sobre vocês, para que sua luz vos alumie para
pecarem e servirem a satanás. A terra não produz de bom grado os seus frutos
para satisfazer vossa luxuria. Nem está disposta a servir de palco à exibição
de vossas iniqüidades. Não é voluntariamente que o ar alimenta vossos corpos,
mantendo viva a chama dos vossos corpos, enquanto vocês gastam a vida servindo
os inimigos de Deus. As coisas criadas por Deus são boas e foram feitas para o
homem, por meio delas, servisse ao Senhor. Não é com prazer que prestam serviço
a outros propósitos, e gemem quando são ultrajadas ao servirem objetivos tão
contrários à sua finalidade e natureza. E a própria terra vomitaria vocês se
não fosse a mão soberana d'Aquele a quem vocês tanto tem ofendido. Eis aí as
nuvens negras da ira de Deus pairando agora sobre vossas cabeças carregadas por
uma tempestade ameaçadora, cheia de trovões. Não fosse a mão restringidora do
Senhor, elas arrebentariam imediatamente sobre vocês. A misericórdia soberana
de Deus, por enquanto, refreia esse vento impetuoso, do contrário ele
sobreviria com fúria, vossa destruição ocorreria repentinamente, e vocês seriam
como palha dispersada pelo vento. A ira de Deus é como grandes águas represadas
que crescem mais e mais, aumentam de volume, até que encontram uma saída.
Quanto mais tempo a correnteza for reprimida, mais rápido e forte será o seu
fluxo ao ser liberada. É verdade que até agora ainda não houve um julgamento
por vossas obras más. A enchente da vingança de Deus encontra-se represada.
Mas, por outro lado, vossa culpa cresce dava dez mais, e dia a dia vocês
acumulam mais e mais ira contra si mesmos. As águas estão subindo
continuamente, fazendo sua força aumentar mais e mais. Nada, a não ser a
misericórdia de Deus, detém as águas, as quais não querem continuar represadas
e forçam uma saída. Se Deus retirasse sua mão das comportas, elas se abririam
imediatamente e o mar impetuoso da fúria e da ira de Deus iria se precipitar
com furor inconcebível, e cairia sobre vocês com poder onipotente. E mesmo que
vossa força fosse dez mil vezes maior do que é, sim, dez mil vezes maior do que
a força do mais forte e vigoroso diabo do inferno, não valeria nada para
resistir ou deter a ira divina. O arco da ira de Deus já está preparado, e a
flecha ajustada ao seu cordel. A justiça aponta a flecha para vosso coração, e
estica o arco. E nada, senão a misericórdia de Deus – um Deus irado! – que não
se compromete e a nada se obriga, impede que a flecha se embeba agora mesmo do
vosso sangue. Assim estão todos vocês que nunca experimentaram uma
transformação real em vossos corações pela ação poderosa do Espírito do Senhor
em vossas almas – todos vocês que não nasceram de novo, nem foram feitos novas
criaturas, ressurgindo da morte do pecado para um estado de luz, e para uma
vida nova nunca experimentada antes. Por mais que vocês tenham modificado a
conduta em muitas coisas, e tenham possuído simpatias religiosas, e até mantido
uma forma pessoal de religião com vossas famílias e em particular, indo à casa
do Senhor, sendo até severos quanto a isso, mesmo assim vocês estão nas mãos de
um Deus irado. Somente sua misericórdia vos livra de ser, agora, neste momento,
tragados pela destruição eterna. Por menos convencidos que vocês estejam agora
quanto às verdades ouvidas, no porvir serão plenamente convencidos. Aqueles eu
já se foram, e que estavam na mesma situação que a vossa, percebem que foi
exatamente isso que lhes aconteceu, pois a destruição caiu de repente sobre
muitos deles, quando menos esperavam, e quando mais afirmavam vier em paz e
segurança. Agora eles vêem que aquelas coisas nas quais puseram sua confiança
para obter paz e segurança eram nada mais que uma brisa ligeira e sombras
vazias. O Deus que vos mantém acima do abismo do inferno vos abomina; ele está
terrivelmente irritado e seu furor contra vocês queima como fogo. Ele vê vocês
como apenas dignos de serem lançados no fogo. E seus olhos são tão puros que
não podem tolerar tal visão. Vocês são dez mil vezes mais abomináveis a seus
olhos do que é a mais odiosa das serpentes venenosas para olhos humanos. Vocês
o têm ofendido infinitamente mais do que qualquer rebelde obstinado ofenderia a
um governante. No entanto, nada, a não ser a sua mão, pode impedir-vos de cair
no fogo a qualquer momento. O fato de vocês não terem ido para o inferno a
noite passada e de terem tido permissão para acordar ainda aqui neste mundo,
depois de terem fechado os olhos ontem para dormir, atribui-se ao mesmo favor.
Não existe outra razão porque vocês não foram lançados no inferno ao se
levantarem pela manhã, a não ser o fato da mão de Deus ter-vos sustentado. E
não existe outra razão porque vocês não caiam no inferno neste exato momento.
Oh!, pecador, pense no perigo terrível que se encontra! É sobre uma grande
fornalha de furor, sobre um abismo imenso e sem fim, cheio do fogo da ira, que
você está pendurado, seguro pela mão de Deus, cujo furor acha-se tão inflamado
contra você, como contra muitas pessoas já condenadas no inferno. Você está
suspenso por uma linha tênue, com as chamas da cólera divina lampejando à tua
volta, prontas para atearem fogo e queimar-te por inteiro. E você continua sem
interesse no Mediador, sem nada onde se agarrar para poder se salvar, nada que
possa afastar as chamas da cólera divina, nada de teu próprio, nada que tenha
feito ou possa vir a fazer, para persuadir o Senhor a poupar tua vida por um
minuto sequer. Considere, então, mais detidamente, vários aspectos dessa cólera
que te ameaça com tão grande perigo. 1. A quem pertence essa ira? É a ira do
Deus infinito. Se fosse somente a ira humana, mesmo a do governante mais
poderoso, comparativamente seria considerada como coisa pequena. A ira dos reis
é bastante temida, principalmente dos monarcas absolutos, que possuem os bens e
as vidas de seus súditos inteiramente sob o seu poder, para serem usados quando
bem entenderem. "Como o bramido do leão é o terror do rei; o que lhe provoca
a ira peca contra a sua própria vida." (Pv 20.2). O súdito que enfurece
este tipo de governante arbitrário, sofre os maiores tormentos que se possa
conceber, ou que o poder humano possa infligir. Porém, os maiores principados
da terra, em toda a sua grandeza, majestade e poder, mesmo revestidos de seus
grandes terrores, não são mais do que vermes débeis e desprezíveis que rastejam
no pó, quando comparados com o grande e todo-poderoso criador e rei dos céus e
da terra. Mesmo quando estão enraivecidos e sua fúria chega ao máximo, é muito
pouco o que podem fazer. Os reis da terra são, perante Deus, como gafanhotos.
Valem menos que nada. Tanto o seu amor quanto o seu ódio são desprezíveis. A
ira do grande Rei dos reis é muito mais terrível do que a deles, tal como é
maior a sua majestade. "Digo-vos, pois, amigos meus: não temais os que
matam o corpo e, depois disso, nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei
a quem deveis temer: temei aquele que depois de matar, tem poder para lançar no
inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer". (Lc 12.4-5). 2. É à
ferocidade de sua ira que vocês estão expostos. Lemos, com freqüência, sobre a
ira de Deus, como por exemplo em Is 58.18. "Segundo as obras deles, assim
retribuirá; furor aos seus adversários." E também em Is 66.15
"Porque, eis que o Senhor virá em fogo, e os seus carros como um
torvelinho, para tornar a sua ira em furor, e a sua repreensão em chamas de
fogo." E assim é em muitos outros lugares da Bíblia. Lemos também em ap
19.15: "... o lagar do vinho do furor da ira do Deus todo-poderoso."
Essas palavras são incrivelmente aterradoras. Se estivesse escrito apenas a
"ira de Deus", isso já nos faria supor algo bastante temível. Mas
está escrito "o furor da ira de Deus", ou seja, a fúria de Deus, o
furor de Jeová! Oh!, quão terrível deve ser esse furor! Quem pode exprimir ou
conceber o que essas palavras contêm? Mas não é apenas isso que está escrito, e
sim "o furor da ira do Deus Todo-Poderoso." Essas palavras dão a
entender que uma grande manifestação de seu poder onipotente vai acontecer.
Através dela ele infligirá aos homens todo o furor de sua ira. Assim como os
homens costumam manifestar sua própria força através do furor de sua ira, a
onipotência divina irá, da mesma forma, se enfurecer e se manifestar. Então,
qual será a conseqüência de tudo isso? O que será do pobre verme que vier a
sofrer todo este mal? Que mão serão tão fortes, e que coração conseguirá
suportar tanto furor? A que terrível, inexprimível, inconcebível abismo de
miséria irá chegar a pobre criatura humana que será vítima disso tudo! Pensem
bem, vocês que estão aqui agora, e que permanecem em estado pecaminoso. O fato
de Deus vir a efetivar o furor da sua ira, torna implícito que ele infligirá
esse castigo sem compaixão. Quando Deus olhar a indescritível aflição do vosso
estado, e vir como vossos tormentos são absolutamente desproporcionais à vossa
força, e como vossas pobres almas estão esmagadas, imersas em trevas eternas,
não terá compaixão de vocês, não ira deter a execução de sua ira, ou, de forma
alguma, tornar mais leve sua mão. Nessa hora Deus não usará de misericórdia
para com vocês, nem conterá seu vento impetuoso. Ele não terá consideração para
com o vosso bem estar, e nem irá evitar que vocês sofram. Na verdade, fará com
que sofram na medida exata que sua rigorosa justiça vier a requerer. Nada será
modificado só pelo fato de ser difícil para vocês suportarem. "Pelo que
também eu os tratarei com furor; os meus olhos não pouparão, nem terei piedade.
Ainda que me gritem aos ouvidos em alta voz, nem assim os ouvirei." (Ez
8.18). Deus está pronto, agora, a usar de compaixão com vocês. Hoje é o dia da
misericórdia. Vocês podem clamar neste instante, e ter esperanças de alcançar
sua graça. Mas quando o dia da misericórdia passar, vosso lamento, o pranto
mais doloroso, os gritos, serão em vão. No que diz respeito ao vosso bem estar,
vocês estarão completamente perdidos e alienados de Deus. O Senhor não terá
outra opção senão a de entregar-vos ao sofrimento e à miséria. E vocês
continuarão não tendo outra perspectiva, pois serão vasos de ira, preparados
para a destruição. Não haverá outro uso qualquer para tais vasos, senão o de
enchê-los da ira de Deus. Quando clamarem ao Senhor, ele estará tão longe de
consolar-vos que, inclusive, está escrito a este respeito que Deus irá,
simplesmente, 'rir e zombar' de vocês (Pv 1.25-26). Vejam quão terríveis são
estas palavras do grande Senhor: "O lagar eu o pisei sozinho, e dos povos
nenhum homem se achava comigo; pisei as uvas na minha ira; no meu furor as
esmaguei, e o seu sangue me salpicou as vestes e me manchou o traje todo."
(Is 63.3). É quase impossível se conceber palavras que tragam em si uma
manifestação maior destas três coisas: desprezo, ódio e fúria de indignação. Se
clamarem a Deus por consolo, ele estará longe de querer vir consolar-vos, ou de
querer demonstrar-vos interesse ou favor. Ao contrario, o Senhor simplesmente
irá esmagar-vos sob seus pés. E apesar de saber que, ao pisotear-vos, vocês não
poderão suportar o peso de sua onipotência, ainda assim ele não vai se
importar, e irá esmagar-vos debaixo de seus pés, sem piedade, espremendo o
vosso sangue e fazendo com que o mesmo espirre longe, manchando suas vestes,
maculando seu traje. Ele não só irá odiar-vos, como devotará a vós o maior desprezo.
Lugar algum será considerado próprio para vocês, a não ser debaixo de seus pés,
para serem pisados como a lama das ruas. 3. A miséria a que vocês estão
sujeitos é aquela que Deus vos infligirá, a fim de demonstrar a força da ira do
Senhor, Deus tem em seu coração a intenção de mostrar aos anjos e aos homens,
não só a excelência do seu amor, como a severidade de seu furor. Às vezes os
governantes da terra resolvem mostrar a força de sua ira através de castigos
extremos que mandam infligir sobre aqueles que os enfurecem. Nabucodonosor, o
poderoso e arrogante rei do império dos caldeus, demonstrou seu furor quando,
ao se irritar com Sadraque, Mesaque e Abdenego, ordenou que se acendesse a
fornalha de fogo ardente sete vezes mais do que o normal. Como era de se
esperar, a fornalha foi aquecida intensamente, até atingir o mais alto grau que
poderia produzir. O grande Deus também quer revelar a sua ira, e exaltar sua
tremenda majestade e grandioso poder através dos sofrimentos desmedidos de seus
amigos. "Que diremos, pois, se Deus querendo mostrar a sua ira, e dar a
conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos da ira,
preparados para a perdição." (Romanos 9.22). E visto que esse é o seu
desígnio e o que ele determinou, ou seja, mostrar quão terrível e ilimitada é a
ira, a fúria e a indignação do Senhor, ele o mostrará realmente. Será realizado
algo horrendo, muito terrível. Quando o grande e furioso Deus tiver se
levantado e executado sua terrível vingança sobre o mísero pecador, e o desgraçado
estiver sofrendo o peso e o poder infinito de sua indignação, então Deus
chamará o universo inteiro para contemplar a imensa majestade e o tremendo
poder que nele existe. "Os povos serão queimados como se queima a cal,
como espinhos cortados arderão no fogo." "Ouvi vós os que estais
longe, o que tenho feito; e vós, que estais perto, reconhecei o meu poder. Os
pecadores em Sião se assombram, o tremor se apodera dos ímpios; e eles
perguntam: quem dentre nós habitará com o fogo devorador? Quem dentre nós habitará
com chamas eternas?" (Isaías 33.12-14). Assim será com vocês que não são
convertidos, se permanecerem neste estado. O poder infinito, a majestade e a
grandiosidade do Deus onipotente serão exaltados em vocês através da
inexprimível força dos tormentos que vos sobrevirão. Vocês serão atormentados
na presença dos santos anjos e na presença do Cordeiro. E quando estiverem
nesse estado de sofrimento, os gloriosos habitantes do céu sairão para
contemplar esse espetáculo horrendo, e verão como é a fúria do Todo-poderoso. E
quando virem todas essas coisas, se prostrarão e adorarão seu grande poder e
majestade. "E será que de uma lua nova à outra, e de um sábado a outro,
virá toda a carne a adorar perante mim, diz o Senhor. Eles sairão, e verão os
cadáveres dos homens que prevaricaram contra mim; porque o seu verme nunca
morrerá, nem o seu fogo se apagará; e eles serão um horror para toda a
carne." (Isaías 66.23-24). 4. É uma ira eterna. Já seria algo terrível
sobre o furor e a cólera do Deus Todo-poderoso por um momento. Mas vocês terão
de sofrê-la por toda a eternidade. Essa intensa e horrenda miséria não terá
fim. Ao olhar para o futuro, vocês verão à frente uma interminável eternidade,
de duração infinita, que irá devorar vossos pensamentos e assombrar vossas
almas. E vocês irão se desesperar, com certeza, por não conseguirem nenhum
livramento, termo, alívio ou descanso para tanta dor. Saberão também, que terão
de sofrer até à última gota por longos séculos, por milhões e milhões de anos,
lutando e pelejando contra essa vingança inclemente e todo-poderosa. Então,
depois de passar por tudo isso, quando tantos séculos vos tiverem consumido,
saberão que tudo não passa apenas de uma gota d'água quando comparado ao que
ainda resta. Portanto, vosso castigo será, com certeza, infinito. Oh!, quem
poderia exprimir o estado de uma alma em tais circunstâncias? Tudo o que
pudermos dizer sobre o assunto, vai nos dar, apenas, uma débil e frágil visão
da realidade. Ela é inexprimível, inconcebível, pois "Quem conhece o poder
da ira de Deus?" Que horrendo é o estado daqueles que diariamente, a cada
hora, se encontram em perigo de sofrer tamanha ira e infinita miséria! Mas esse
é o caso sinistro de toda alma que ainda não nasceu de novo, por mais moral,
austera, sóbria e religiosa que seja. Queira Deus vocês pensassem em todas
essas coisas, sejam jovens ou velhos. Há razões de sobra para acreditar que
muitos daqueles que ouviram o evangelho certamente estarão expostos a esse
tormento por toda a eternidade. Não sabemos quem são eles, nem o que pensam.
Pode ser que estejam tranqüilos agora, escutando esta mensagem sem se
perturbarem muito, e que estejam até se gabando de que, no caso deles,
conseguirão escapar. Se soubéssemos que dentre os nossos conhecidos existe uma
pessoa, uma só, sujeita a sofrer tal tormento como seria doloroso para nós
encarar o assunto. Se conhecêssemos essa pessoa, sempre que a víssemos uma tal
visão seria terrível para nós. Iríamos todos levantar grande choro, e prantear
por sua causa. Mas, infelizmente, em vez de uma pessoa só, é provável que
muitos se lembrem destas exortações somente no inferno! E inúmeras pessoas
podem estar no inferno em breve tempo, antes mesmo do ano terminar. E aqueles
que estão agora com saúde, tranqüilos e seguros, podem chegar lá antes do
amanhecer. Todos os que dentre vocês continuarem até o fim em estado natural
pecaminoso, e que conseguirem ficar fora do inferno por mais tempo, estarão lá
também em breve. Sua condenação não tardará; virá de súbito, e provavelmente
para muitos de vocês, de maneira repentina. Vocês têm toda razão em se
admirarem de não estar ainda no inferno. É ocaso, por exemplo, de alguns
conhecidos seus, que não mereciam o inferno mais do que vocês e que antes
aparentavam ter possibilidade de estarem vivos agora tanto quanto vocês. Para o
caso deles já não há esperança. Estão clamando lá em extrema penúria e perfeito
desespero. Mas aqui estão vocês, na terra dos vivos, cercados pelos meios de
graça, tendo a grande oportunidade de obter a salvação. O que não dariam
aquelas pobres almas condenadas, desesperadas, pela oportunidade de viver mais
um só dia, como que vocês desfrutam neste momento! E agora vocês têm uma
excelente ocasião. Hoje é o dia em que Cristo abre as portas da misericórdia de
par em par, e se coloca de pé clamando e chamando em alta voz aos pobres
pecadores. Este é o dia em que muitos estão se reunindo a ele, se apressando em
chegar ao reino de Deus. Inúmeros estão vindo diariamente do norte, sul, leste
e oeste. Muitos que estavam até bem pouco tempo nas mesmas condições miseráveis
que vocês estão felizes agora, com os corações cheios de amor por Aquele que os
amou primeiro, e os lavou de seus pecados com seu próprio sangue,
regozijando-se na esperança de ver a glória de Deus. Como é terrível ser deixado
para trás num dia assim! Ver os outros se banqueteando, enquanto vocês estão
penando e se definhando! Ver os outros se regozijando e cantando com alegria no
coração, enquanto vocês só têm motivos para prantear por causa do sofrimento de
seus corações, e de lamentar por causa das aflições e vossas almas! Como podem
vocês descansar por um momento sequer em tal estado de alma? Será que vossas
almas não são tão preciosas como as almas daqueles que, dia a dia, estão se
juntando ao rebanho de Cristo? Não existem, porventura, muitos que, apesar de
estarem há longo tempo neste mundo, até hoje não nasceram de novo, e por isso
são estranhos à comunidade de Israel, e nada têm feito durante a vida, a não
ser acumular ira sobre ira para o dia do castigo? Oh! senhores, o caso de vocês
é, sem dúvida, extremamente perigoso. A dureza de vossos corações e a vossa
culpa são imensas. Acaso vocês não vêem como geralmente pessoas de vossa idade
são deixadas para trás na dispensação da misericórdia de Deus? Vocês precisam
refletir e despertar de vosso sono, pois jamais poderão suportar a fúria e a
ira do Deus infinito. E vocês que são rapazes e moças, irão negligenciar este
tempo precioso que desfrutam agora, quando tantos outros jovens de vossa idade
estão renunciando às futilidades da juventude e acorrendo céleres a Cristo?
Vocês têm neste momento uma oportunidade, mas se a desprezarem, sucederá o
mesmo que agora está acontecendo com todos aqueles que gastaram em pecado os
dias mais preciosos de sua mocidade, chegando a uma terrível situação de
cegueira e insensibilidade. E vocês crianças, que não se converteram ainda, não
sabem que estão indo para o inferno onde sofrerão a horrenda ira daquele Deus
que agora está encolerizado contra vocês dia e noite? Será que vocês ficarão felizes
em ser filhos do diabo, quando tantas outras já se converteram e se tornaram
filhos santos e alegres do Rei dos reis? Queira Deus todos aqueles que ainda
estão fora de Cristo, pendentes sobre o abismo do inferno, quer sejam senhoras
e senhores idosos, ou pessoas de meia idade, quer jovens ou crianças, que
possam dar ouvidos agora aos chamados da Palavra e da providência de Deus. Este
ano aceitável do Senhor que é um dia de grandes misericórdias para alguns, sem
dúvida será um dia de extremo castigo para outros. Quando negligenciam suas
almas os corações dos homens se endurece, e a sua culpa aumenta rapidamente.
Podem estar certos, porém, que agora será como foi nos dias de João Batista. O
machado está posto à raiz das árvores; e toda árvore que não produz fruto, deve
ser cortada e lançada no fogo. Portanto, todo aquele que está fora de Cristo,
desperte e fuja da ira vindoura. A ira do Deus Todo-poderoso paira agora sobre
todos os pecadores. Que cada um fuja de Sodoma: " Livra-te, salva a tua
vida; não olhes para trás, nem pares em toda a campina; foge para o monte, para
que não pereças ." “E assim, conhecendo o temor do Senhor, persuadimos aos
homens”. “De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus
exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos
reconcilieis com Deus”. (II Coríntios 5.11-20; 6.2). “Buscai o Senhor enquanto
se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o
iníquo os seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele, e
volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar” . (Isaías 55.6-7). Amém.
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