SOLA SCRIPTURA: A BÍBLIA COMO PALAVRA DE DEUS
Muitos leitores veem a
Bíblia apenas como obra prima literária humana e não como a Palavra de Deus.
Outros acreditam que a Bíblia é inspirada por conter a Palavra de Deus,
juntamente com mitos, erros e lendas. A própria Bíblia esclarece que ela não é
simplesmente uma literatura inspiradora como os livros de Shakespeare, Mílton,
Homero ou um registro falível das palavras de Deus, mas que é a infalível
Palavra de Deus (2Timóteo 3.16; 2Pedro 1.21). A palavra inspirada, no grego
theopneustos, usada em 2Timóteo 3.16, significa Deus soprou. Assim sendo, a
Escritura é soprada por Deus. Pedro falou que “a profecia nunca foi produzida
por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados
pelo Espírito Santo” (2Pedro 1.21). Isto confirma que os escritores foram
movidos por Deus para escrever aquilo que ele queria. Se Deus inspirou os
escritos, concluímos certamente que são perfeitos e infalíveis. O que podemos
dizer acerca da tradição oral? Não há possibilidade da verdade infalível de
Deus ter sido transmitida de boca a boca durante sucessivas gerações? Sim, pode
ter acontecido assim até chegar a sua forma autoritativa e final, por escrito.
A tradição oral é instável e sujeita a alterações por causa do fator subjetivo:
a memória incerta do guardião daquela tradição. A substância da fé foi
transmitida oralmente desde Adão até Moisés, mas sua forma final e escrita,
lavrada por Moisés, foi dirigida pelo Espírito Santo, para assegurar sua divina
veracidade. As Escrituras enfatizam muito o seu referencial de escrito, e não
atribuem veracidade divina à mera tradição oral. No Novo Testamento, as palavras
pronunciadas pelas testemunhas vivas de Jesus valiam mais do que qualquer
documento escrito; mas, com a perseguição dos imperadores e a dispersão dos
cristãos, os apóstolos viram a necessida de conservar com exatidão os
ensinamentos de Jesus, lavrando-os por escrito sob a orientação do Espírito
Santo. As Cartas Eram Inspiradas: O apóstolo Paulo escreveu pelo menos doze
cartas Paulo afirmava ser apóstolo não da parte de homens, nem por homem algum,
mas por Jesus Cristo e por Deus Pai (Gálatas 1.1). Ele vira a Jesus: “Não vi eu
a Jesus Cristo, Senhor nosso?” (1Coríntios 9.1). O evangelho por ele anunciado
procedia de Deus: “não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas pela
revelação de Jesus Cristo” (Gálatas 1.11-12); era aprovado por Deus
(1Tessalonicenses 2.4) e tinha a autoridade divina: “se alguém cuida ser
profeta ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos
do Senhor (1Coríntios 14.37). Os apóstolos eram orientados pelas palavras de
Jesus sendo transmissores dos ensinos do Mestre. Com a perseguição contra a
igreja, em Jerusalém, muitos foram dispersos pela Judeia e Samaria, exceto os
apóstolos (Atos 8.1). Os dispersos iam por toda parte, anunciando a Oalavra, ou
seja, Jesus Cristo, sua vida, morte e ressurreição. Destacavam também seu
aspecto, seu senhorio, seu reinado e sua glorificação. Com a conversão do povo
em várias cidades e a confusão teológica dos recém-convertidos, os apóstolos
então escrevem cartas para animá-los, advertindo-os a permanecer nos
ensinamentos de Jesus. Paulo, da prisão, escreve para que seus filhos
espirituais permaneçam firmes no evangelho. Naquele tempo uma testemunha viva
valia mais do que qualquer documento escrito. Morrendo os apóstolos, surge
então a necessidade dos seus escritos. Também nesse período, outros escritos,
sem credencial apostólica, apareceram alegando autoridade divina. No ano de 140
d.C. Marción fez uma distinção entre o Deus do Antigo Testamento, chamando-o de
‘Deus de juízo’, e o Deus do Novo Testamento, de ‘Deus bondoso e misericordioso’.
Ele rejeitava o Velho Testamento como Escritura autêntica para a igreja.
Pregava que os Apóstolos, com exceção de Paulo, tinham pervertido o evangelho
de Jesus. Por esse motivo, Marción aceitava somente o evangelho de Lucas –
apesar de alterá-lo – e dez epístolas paulinas – excluindo Hebreus, I e II
Timóteo, Tito e Filemom. Esse foi o primeiro cânon do Novo Testamento
desaprovado pela igreja. Antes dessa data já circulavam os evangelhos, e
algumas das epístolas de Paulo eram usadas e reputadas como Escrituras
Sagradas. Como exemplo, temos Clemente de Roma, que foi o papa no episcopado de
Roma, citado por Orígenes e Eusébio de Cesáreia (este o menciona em seu livro
História Eclesiástica III, 15), reconhecendo-o como colaborador do apóstolo
Paulo (Filemon 4.3). Ele escreve acerca das Escrituras: são “ditos do Espírito
Santo e ditos através do Espírito Santo”, citando passagens da própria Bíblia,
tais como: “o Espírito Santo disse” (Atos 13.2), o “Espírito Santo impediu”
(Atos 16.6). Em sua carta aos Coríntios 45.2, Clemente escreve: “Vós vos
curvastes sobre as Sagradas Escrituras, essas verdadeiras Escrituras dadas pelo
Espírito Santo. Sabeis que nada de injusto e de falso está escrito nelas. Não
encontrareis que os justos tenham sido rejeitados por homens santos”. Os
apologistas da segunda metade do século II são mais explícitos ainda do que os
pais apostólicos, sustentando a inspiração divina e inerrante das Escrituras. Irineu
empregava a frase o “Espírito Santo diz”. Tertuliano dizia que somente o que
estava escrito nas Escrituras era útil, e que as Escrituras eram as Palavras,
Letras e a própria voz de Deus. Orígenes, o maior erudito da igreja primitiva,
afirmava que a inspiração se estendia até os iotas e as demais letras das
Escrituras. As palavras dos apóstolos não continham falha alguma, sendo
inspiradas pelo Espírito Santo. Martinho Lutero, especializando-se nas
epístolas aos Romanos, Gálatas e Hebreus, foi capaz de perceber claramente os
erros da Igreja Católica Romana. Ao ver que os papas e os concílios podiam
errar, passou a reconhecer a supremacia das Escrituras. Lutero e os
Reformadores não queriam dizer com Sola Scriptura que a Bíblia é a única
autoridade para a igreja. Pelo contrário, queriam dizer que a Bíblia é a única
autoridade infalível dentro da igreja. Para Calvino os escritos dos apóstolos
eram “pro dei oraculis habenda sunt” (foram oráculos recebidos de Deus), logo
devemos aceitar “quid quid in sacris scripturis traditum est sine exceptione”
(tudo quanto foi entregue nas Escrituras, sem exceção), auctorem eius (sc.
scripturae) esse de um (Deus é o autor de toda as Escrituras). Um livro precisa
satisfazer certas exigências para ser considerado procedente de um Deus
Todo-Poderoso. Em primeiro lugar, ele deve ter sido transmitido corretamente
desde a época em que foi originalmente escrito, para obtermos uma representação
exata do que Deus disse e fez. Ele deve ser, também, acurado quando cita
pessoas e eventos históricos. Um livro que confunde homens, datas e eventos não
tem o direito de se apresentar como proveniente de um Deus infalível. A Bíblia
é mais que um livro comum. Ela se revela como sendo a Palavra sobrenatural de
Deus. A Bíblia é a Palavra de Deus escrita com palavras humanas. Deus usou
homens falíveis para receber e registrar a sua Palavra infalível, de modo que
ela chegasse até nós sem erros. Parece difícil? Não para o nosso Deus, que diz:
“Eis que sou o Senhor, o Deus de todos os viventes; acaso haveria coisa
demasiadamente difícil para mim?” (Jeremias 32.27). A evidência de que as
próprias palavras da Bíblia foram dadas por Deus, pode ser brevemente resumida,
como segue: Esta é a afirmação do texto clássico (2Timóteo 3.16); É o
testemunho enfático de Paulo, afirmando que falava em palavras ensinadas pelo
Espírito (1Coríntios 2.13); Fica evidente pela fórmula repetida “está escrito”;
Jesus disse que no Antigo Testamento estava escrito a seu respeito (Lucas
24.27; João 5.39; Hebreus 10.7). O Novo Testamento constantemente equipara a
Palavra de Deus com a Escritura (Mateus 21.42; Romanos 15.4; 2Pedro 3.16); Jesus
enfatizou que nem sequer a menor parte de uma palavra ou letra hebraica podia
ser anulada (Mateus 5.18).
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