A REFORMA PROTESTANTE NO SEU CONTEXTO SOCIAL E RELIGIOSO
Vimos, no final da seção anterior, alguns elementos que caracterizavam
a sociedade européia às vésperas da Reforma. Havia muita violência, baixa
expectativa de vida, profundos contrastes socioeconômicos e um crescente
sentimento nacionalista. Havia também muita insatisfação, tanto dos governantes
como do povo, em relação à Igreja, principalmente ao alto clero e a Roma. Na
área espiritual, havia insegurança e ansiedade acerca da salvação em virtude de
uma religiosidade baseada em obras, também chamada de religiosidade contábil ou
“matemática da salvação” (débitos = pecados; créditos = boas obras). Foi
bastante inusitado o episódio mais imediato que desencadeou o protesto de
Lutero. Desde meados do século 14, cada novo líder do Sacro Império Romano era
escolhido por um colégio eleitoral composto de quatro príncipes e três
arcebispos. Em 1517, quando houve a eleição de um novo imperador, um dos três
arcebispados eleitorais (o de Mainz ou Mogúncia) estava vago. Uma das famílias
nobres que participavam desse processo, os Hohenzollern, resolveu tomar para si
esse cargo e assim ter mais um voto no colégio eleitoral. Um jovem da família,
Alberto, foi escolhido para ser o novo arcebispo, mas havia dois problemas: ele
era leigo e não tinha a idade mínima exigida pela lei canônica para exercer
esse ofício. O primeiro problema foi sanado com a sua rápida ordenação ao
sacerdócio. Quanto ao impedimento da idade, era necessária uma autorização
especial do papa, o que levou a um negócio altamente vantajoso para ambas as
partes. A família nobre comprou a autorização do papa Leão X mediante um
empréstimo feito junto aos banqueiros Fugger, de Augsburgo. Ao mesmo tempo, o
papa autorizou o novo arcebispo Alberto de Brandemburgo a fazer uma venda
especial de indulgências, dividindo os rendimentos da seguinte maneira: parte
serviria para o pagamento do empréstimo feito pela família e a outra parte iria
para as obras da Catedral de São Pedro, em Roma. E assim foi feito. Tão logo
foi instalado no seu cargo, Alberto encarregou o dominicano João Tetzel de
fazer a venda das indulgências (o perdão das penas temporais do pecado). Quando
Tetzel aproximou-se de Wittenberg, Lutero resolveu pronunciar-se sobre o
assunto.
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