CARACTERÍSTICAS DA FALSA PIEDADE AS PESSOAS SABEM DE SUA EXISTÊNCIA E ATÉ DOS MALES QUE PROVOCA, MAS POUCAS PESSOAS PERCEBEM PONTUALMENTE SUA AÇÃO
Há um texto interessante no Evangelho de João, em que Judas, o traidor,
ao ver Maria, irmã de Marta e Lázaro, ungir os pés de Jesus com Nardo e
enxuga-los com seus cabelos, perguntou porque não se vendeu o óleo – muito
precioso à época – e o dinheiro se repartiu com os pobres (Jo. 1:1-8). A
resposta de Jesus é interessante. Apesar de João, no Evangelho, afirmar que
Judas não se preocupava com os pobres, mas queria na verdade roubar a bolsa
(pois era o tesoureiro do grupo dos discípulos), o que nos faz imaginar que
Jesus deveria saber as reais intenções de Judas, ainda assim ele não responde
segundo a intenção maligna do falso discípulo, ou seja, repreendendo-o, mas
afirma que o que Maria lhe fizera era fruto de honra e os pobres, se quisessem
mesmo ajuda-los, sempre os discípulos os teriam. Não sei de melhor exemplo
bíblico acerca da falsa piedade. Particularmente, penso que só se descobriu que
Judas era ladrão após sua morte, do contrário, teria sido destituído da função
de tesoureiro ainda em vida. Ninguém teria “provas” contra Judas enquanto ele
fora o tesoureiro, portanto. Mas, o que importa mesmo aqui é o ensino sobre a
percepção espiritual. A falsa piedade é um mal antigo que sempre esteve
presente no meio da Igreja, como um parasita, uma chaga que teima em se manter
aberta. O pior é que as pessoas sabem de sua existência e até dos males que
provoca, mas poucas pessoas percebem pontualmente sua ação. Contudo, a partir
do exemplo de Judas, podemos elencar alguns aspectos do que podem ser sinais
indicadores da falsa piedade tentando angariar aliados para seus propósitos
funestos. Uma das características que se nos salta os olhos no texto de “João”,
e que parece entrar em consonância com os demais exemplos corriqueiros do mesmo
mal, é o fato do falso piedoso falar em nome ou por aparente defesa de
determinado grupo. Judas, no caso, falou em nome dos “pobres”. Este foi o grupo
escolhido diante do qual pudesse posar de defensor. Mas poderiam ter sido as
viúvas, os paralíticos, os leprosos, etc. O grupo em si não importa; o que
importa é como é usado. Normalmente, o falso piedoso assenhora-se de
determinado grupo, falando em nome do mesmo. Geralmente é um grupo mais
necessitado, e por isso mesmo mais suscetível a aceitar as assertivas do falso
piedoso: se pobres tivessem ouvido a argumentação de Judas, tenderiam a
apoiá-lo de imediato, não sabendo que estavam apoiando, na verdade, um ladrão
traidor. Outra característica importante do falso piedoso é a capacidade de
falar as coisas aparentemente certas nas horas certas às pessoas suscetíveis. A
Bíblia, no texto, diz-nos simplesmente que “Judas perguntou…”. Bem, com certeza
foi a alguém. E é mais certo ainda que sua argumentação foi direcionada a
pessoas suscetíveis, ou seja, àquelas que ele sabia, por instinto, que
tenderiam a receber, sem nenhum tipo de crivo, a sua crítica. Judas não comenta
uma semana depois do acontecido, mas, ao que tudo indica, na hora em que Maria
está enxugando os pés de Jesus com seus cabelos. Ele, provavelmente, perguntou
inclusive à própria Maria, pois a principal motivação do falso piedoso é
desvirtuar a genuína piedade dos piedosos. Judas ainda tinha um agravante, que
era o fato de ser ladrão e, talvez, quisesse que Maria ofertasse algo ao grupo
dos discípulos para que ele, depois, roubasse da coleta. Mas, o fato que fica
claro é a tentativa de desvirtuar o ato nobre, espiritual e de reconhecimento
de Maria da pessoa de Jesus. Os que tentam desvirtuar as boas e nobres ações,
sob pretextos diversos e por mais racionais e justificáveis que pareçam, o
fazem por sentimentos escusos, sombrios, e não pouparam nada nem ninguém no seu
objetivo de concretizá-los. Por fim, outro sinal do falso piedoso, a exemplo do
texto, é justamente parecer piedoso aos olhos de suas vítimas. Sim, como um
sociopata, o falso espiritual é alguém que age camaleonicamente. Este tipo de
ação, de adequação ao meio, moldando-se àquilo que as pessoas querem ouvir é,
se não a maior, uma das maiores e mais fortes facetas de sua personalidade.
Sabedor do fato de que nós, seres humanos, temos problemas inerentes à nossa
natureza quanto à liderança – principalmente a espiritual -, não é de admirar
que os falsos piedosos valham-se desta fraqueza humana para usá-la em benefício
próprio. Na frente das demais pessoas, o falso piedoso é um genuíno defensor
dos preceitos cristãos. Aparentemente, suas colocações, suas assertivas e
ênfases são vistas como as de uma pessoa que realmente se preocupa com as
demais, que estão bem intencionadas e que pensam sempre de forma coletiva. Ledo
engano. Suas palavras e ações, se observadas mais acuradamente, dividem,
enfraquecem, afastam de alvo divino, fomentam a discórdia, enchem os corações
de dúvidas, desconfiança, rancor e, por fim, fazem com que o homem se levante
contra o próximo. A Bíblia nos alerta quanto a este tipo de pessoas, as quais
não estão cheias de Deus, mas de si. Engodadas e ludibriadas por elas próprias,
mentem para si mesmas, achando que
sempre escaparão da justa condenação de Deus. Enganam-se miseravelmente.
O próprio Deus, em sua Palavra, inspirou homens a escreverem sobre o que Ele
mesmo sente diante de quem vive assim. Não importa o mal que faça e a quantos
engane, o falso piedoso jamais enganará a Deus e, para todo o que age e insiste
em continuar vivendo uma espiritualidade enganosa, desprovida do Espírito que
aparentemente professa, cabe lembrar das seguintes palavras do livro de Salmos:
“Socorro, SENHOR! Porque já não há homens piedosos; desaparecem os fiéis entre
os filhos dos homens. Falam com falsidade uns aos outros, falam com lábios
bajuladores e coração fingido. Corte o SENHOR todos os lábios bajuladores, a
língua que fala soberbamente, pois dizem: Com a língua prevaleceremos, os
lábios são nossos; quem é senhor sobre nós? Por causa da opressão dos pobres e
do gemido dos necessitados, eu me levantarei agora, diz o SENHOR; e porei a
salvo a quem por isso suspira”, Salmo 12:1-5.
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