O CAOS DA INFORMAÇÃO NÃO BASTASSE A INUNDAÇÃO DE COMPARTILHAMENTOS DO ÓBVIO, DO EFÊMERO, AINDA TESTEMUNHAMOS OS EFEITOS DA SUPERFICIALIDADE COM QUE TAIS PALAVRAS MODIFICAM NOSSAS VIDAS
Cada escritor tem sua forma, seu jeito, suas características. Uma das
minhas características é não me ater ao óbvio, apesar de falar muitas vezes
sobre coisas óbvias. A leve e quase indiscernível linha que separa o que todo
mundo olha mas quase ninguém vê é o que prezo nos textos que escrevo, nos quais
procuro fazer jus à máxima que assevera que muitas vezes os detalhes fazem toda
a diferença. Falando em “muito”, vê-se muita gente falando de muitos assuntos
no meio evangelical atual. Fora uma possível confusão por causa da quantidade
de informações – e prioridades -, o todo disto tudo é bom, reitero, quando há
um mínimo de “filtro” para o tanto que se diz. E quase todo mundo quer dizer
algo hoje em dia, quer ser ouvido; tem algo a dizer, muito a falar e cada qual
com suas características. Esta confusão de “vozes” que há no mundo, e “todas
com significado”, como nos diz o Ap. Paulo, é um tipo de ruído que é ruim, numa
era que se caracteriza pela falta de discernimento. Contudo, com a busca da
informação, escritores têm aproveitado para lançar suas ideias, sabendo que há
em algum lugar uma demanda ávida por devorar as informações, sejam elas quais
forem. Mas, como dizia, o “ruído” da confusão de tantas vozes no mundo esconde
um perigo não tão perceptível à grande parte do crescente público de leitores:
a superficialidade com que informações soltas, propagadas ao vento, torna-se a
regra na “formação” de tantos indivíduos, e mais especificamente muitos
cristãos. Mais uma vez as redes sociais encabeçam este fenômeno, alicerçado
pela comodidade da tecnologia, que nos permite partilhar informações com uma
velocidade nunca antes vista na história da humanidade. Redes sociais são as
protagonistas passivas do que me refiro aqui. Mais do que quaisquer outras
mídias, as redes sociais espalham uma “filosofia de botequim” que, por incrível
que pareça, acaba se tornando uma espécie de norteador de inúmeras vidas, as
quais, ávidas por informação, não se apercebem que sua avidez é proporcional à
superficialidade com que digerem o que leem. Quanto mais ávidas as pessoas estão
para se informarem através de redes sociais, engolindo tudo o que se diz nas e
através das mesmas, menos tem sido o crivo com que, por exemplo, leem uma
mensagem e buscam sua determinada fonte. Ou ainda o tempo gasto com o mínimo de
reflexão com aquilo que, uma vez lido e achado belo, bem construído e que
parece expressar alguma verdade, é logo compartilhado aos quatro ventos. Nada,
antes das redes sociais, teve a força tão gigantesca de se espalhar tanta
fraqueza. Não bastasse a inundação de compartilhamentos do óbvio, do efêmero e
principalmente do falso misturado ao verdadeiro, ainda testemunhamos os efeitos
da superficialidade com que tais palavras modificam nossas vidas. Notoriamente,
mais e mais pessoas sequer entendem o que estão lendo e, no afã de serem
ouvidas, tentam discorrer sobre o que não entenderam, a um público que em sua
maioria entenderá ainda menos, apenas para parecerem um pouco mais inteligentes
em reproduzir um pensamento que não sabe de onde veio, de quem veio e se as
palavras atreladas àquele/a determinado/a sábio/a são de fato dele/a. É a
cultura da repetição sem princípios, sem crivo, que gera algo deveras perigoso:
posicionamentos teológicos, antropológicos, filosóficos por um viés puramente
romântico, relativo à opinião, que gera partidarismos, os quais, a exemplo do
que acontece com os partidos políticos do Brasil, não existem por convicção
ideológica, mas por conveniência, conchavo, amizade ou compadrio. E isto
avoluma-se mais e mais a cada dia. Pondere se as pessoas não defendem opiniões
sobre assuntos importantes com a mesma convicção com que defendem seus times
preferidos de futebol. Penso que precisamos voltar, urgentemente, a práticas
antigas, defendidas por inúmeros cristãos do passado, que baseavam seus
momentos de intimidade e oração a Deus naquilo que chamavam de “contemplação”.
Não me refiro a qualquer prática mística aqui, mas a algo genuinamente cristão.
A contemplação a princípio tem o poder de gerar forçosamente em nós a admiração
das coisas. Esta, por sua vez é o segundo passo para a verdadeira reflexão.
Esta, por sua vez, é “voltar-se para si”, para “dentro”, “dobrar-se sobre si” e
é com tal prática que podemos digerir melhor as ideias, pensarmos nas bobagens
que falamos e como temos sido superficiais. A reflexão genuína gerará alguma
ação, a qual, neste caso, envolve necessariamente uma atitude mais criteriosa
com o que se vê, se ouve, se fala ou se lê. Esta ação não é fruto de nenhum afã
superficial, mas o resultado de um amadurecimento que se estabelece a cada passo
em que se obedece o ciclo, fazendo de nós pessoas mais conscientes, inclusive
de nossos próprios limites. É o velho “conhecer-se a si mesmo”, enfim, que nos
ajudará a sermos mais do que “papagaios de redes sociais”. Aqui, valho-me do
preceito bíblico, exposto por toda a Escritura, da busca pela aquisição de
Sabedoria. A Sabedoria, a que somos incentivados a buscar e adquirir, é tão
necessária como sempre foi. Mas hoje, dada a massificação de informações,
propiciada pela tecnologia, faz-se mais urgente do que nunca. E é o nosso apego
à Sabedoria que poderá nos tornar pessoas efetivamente relevantes “numa geração
corrompida”, como nos diz Paulo na Epístola aos Filipenses. Ao invés de
falarmos, escrevermos, gritarmos e repetirmos todo o processo, com muita gente
“escutando”, mas cada vez menos pessoas “ouvindo” – porque estão tão ou mais
preocupadas do que nós em falar também -, propaguemos o que interessa, a quem
se interessa e a cada dia, daquilo que é bom, útil e proveitoso, e veremos a
diferença das mensagens realmente sábias do restante do caos de informações
inúteis, falsas e erradas que nos cercam e podem nos submergir, como um mar de
letras em caos.
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