ROBERTO DE LUCENA: O QUE FAZER QUANDO AS CORTINAS CAÍREM SE AS CORTINAS CAÍRAM, NÃO HÁ MAIS O QUE FAZER A NÃO SER ERGUÊ-LAS NOVAMENTE NA HORA CERTA. O ESPETÁCULO DA VIDA PRECISA CONTINUAR
Anos atrás, estava participando de um culto na Igreja O Brasil Para
Cristo em Arujá, onde aconteceu uma apresentação teatral. No momento em que as
cortinas deveriam ser abertas, algo de errado aconteceu e caíram com tudo no
chão, juntamente com o cabo de aço que lhes servia de trilho. Eu fiquei
chocado, claro, mas vi, aliviado e orgulhoso, que os jovens integrantes do
elenco tiveram a presença de espírito de darem sequência ao seu trabalho, mesmo
diante do imprevisto. Ao mesmo tempo, notei que o responsável pelas cortinas,
um então adolescente, deixou o seu lugar e saiu apressadamente por uma porta
lateral do templo, aproveitando-se de que as luzes estavam apagadas. Ao ver a
maneira, como saiu, percebi que não estava bem e por isso, mesmo que
discretamente, para não chamar a atenção, logo fui atrás dele e o vi descer
correndo pela rua. Estava indo embora, fugindo da situação, envergonhado! Ah,
não tive dúvidas! Corri atrás dele! E quando ele percebeu que alguém o estava
seguindo, correu ainda mais rápido. Como consegui alcançá-lo, até hoje não sei.
Mas alcancei-o algum tempo depois. Então, deparei-me com um rosto desesperado.
Era comovente. Ele chorava, soluçava. Pedia-me perdão pela falha da cortina e
que o soltasse para que fosse embora. Eu o segurei firme, olhei fixamente em
seus olhos, chamei-o pelo nome e disse: "Filho, você está com vergonha?”.
Ele disse: “Sim, estou”. E chorava. Eu falava alto, com a intenção de ajudá-lo
a sair daquele surto. "Você está com vergonha porque a cortina caiu, e
fugiu por causa disso? É isso o que está me dizendo?” Ele respondeu: “Sim, a
cortina caiu”.Então, eu o sacudi mais uma vez e disse-lhe: "E você
acredita mesmo que essa será a última vez na sua vida que uma cortina vai cair?
Sinceramente acredita nisso? Isso provavelmente acontecerá muitas vezes ao
longo de sua vida. E o que vai fazer quando isso acontecer? Me responda! Vai
sair correndo cada vez que uma cortina cair? Vai passar a vida fugindo? Você
acredita mesmo que comigo ou com seus pais nunca aconteceu algo parecido? Os
seus colegas estão lá. Passaram por cima da cortina caída e estão valentemente
enfrentando a situação e dando prosseguimento à apresentação. Você vai
deixá-los sozinhos? Não vou mais correr atrás de você. Decida se quer continuar
fugindo. Se fizer isso, vai ter que fugir o resto da vida, ou então decida se
quer voltar e enfrentar essa situação com seus amigos, passar por cima das
cortinas, continuar o seu trabalho, e corrigir o que não deu certo". Aquele
garoto, hoje, é um homem. Um grande profissional em sua área. Casado e pai de
lindos filhos. É o executivo de uma empresa instalada no nordeste do Brasil.
Tenho amor por ele, como a um filho. Ele é perfeccionista desde criança e
sempre exigiu muito de si mesmo. Por isso, sentiu-se tão frustrado e
envergonhado com a queda das cortinas. Culpava-se e não conseguia perdoar-se
pelo ocorrido. Felizmente, naquela noite ele voltou comigo. Caminhamos em
silêncio, lado a lado, abraçados, até
chegarmos ao templo. Eu imagino o esforço que ele estava fazendo a cada passo
que dava, mas graças a Deus tomou a decisão certa e voltou. Foi uma libertação!
Nenhum de nós está imune à possibilidade de passarmos por experiências
semelhantes. Cortinas caem. A questão é o que fazer diante disso. Qual o lugar
que esse "incidente" vai ocupar em nossa mente e coração. Diante de
uma cortina caída há frustração, muitas vezes humilhação, decepção e vergonha.
Ou corremos ladeira abaixo e fugimos, aproveitando as sombras e recuamos, nos
apequenamos; ou enfrentamos, passando por cima da cortina caída, engolimos o
choro, e fazemos o espetáculo continuar. Na Bíblia Sagrada, há um episódio
muito parecido com essa experiência da cortina: Josué havia liderado os hebreus
na conquista de Jericó, a poderosa cidade-fortaleza, e marchou em seguida
contra a pequena cidade de Aí, mas o seu exército foi humilhado diante de uma
batalha aparentemente ganha – e não existe batalha ganha antes de se lutar. Foi
uma tragédia! Houve frustração, decepção, vergonha. O que sobrou do seu
exército e o seu povo estavam abatidos e chorosos, sem perspectiva. Foi quando
ele recebeu uma direção para que parassem de chorar, corrigissem o que
precisava ser corrigido, se organizassem estrategicamente e reagissem. Voltaram
a enfrentar o povo de Aí e seu exército, e venceram. Depois dessa batalha
venceram mais 29 nações na terra de Canaã. Nem sempre tudo sai como se planeja.
E nem sempre também a plateia é tão solidária e respeitosa quanto aquela
congregação. Em relação a plateia, muitas vezes, a falta de generosidade, de
humanidade, de civilidade e de respeito faz com que algumas pessoas tripudiem
sobre as desventuras dos outros. Esquecem-se essas pessoas do conselho de
Jesus: "O que quereis que os homens vos façam, façais-vos primeiro",
e também de que a vida é cíclica – é uma roda gigante. Quem está em cima pode
em algum momento estar embaixo, e quem está embaixo pode depois estar em cima. Em
relação às cortinas, seja em qual área for, se caíram, não há mais o que fazer
a não ser erguê-las novamente na hora certa. O que não tem solução, solucionado
está. É necessário prosseguir. O espetáculo da vida precisa continuar! Desejo a
todos paz e bênçãos! Roberto de Lucena é pastor, escritor, conferencista, deputado
federal, vice-presidente Nacional da União Geral dos Trabalhadores (UGT), e
presidente da Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa na Câmara Federal. *As
opiniões aqui expressas são de exclusiva responsabilidade do autor do texto e
não refletem necessariamente o posicionamento oficial do Portal Guiame.
Nenhum comentário
Postar um comentário