LIDERANÇAS RELIGIOSAS NÃO DEVERIAM SE ENVOLVER COM POLÍTICA SE ASSIM ACONTECESSE, O MUNDO DA VIDA E DOS CÉUS AGRADECERIAM POR CLEITON MACIEL BRITO AMAZONENSE, 27 ANOS. BACHAREL EM CIÊNCIAS SOCIAIS, MESTRE EM SOCIOLOGIA, E DOUTORANDO EM SOCIOLOGIA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS. MEMBRO DA IGREJA PRESBITERIANA DO COROADO III EM MANAUS. CASADO COM JEANNE MACIEL
Vários líderes religiosos estão trocando o púlpito pelo palanque ou
fazendo do púlpito um palanque e, em muitos casos, transformando a vida em um
palanque político. Entretanto, líderes religiosos não deveriam nem estar, nem
fazer política sob nenhuma destas formas. Mas, infelizmente, não é isso o que
vem ocorrendo. No tocante ao primeiro aspecto, por exemplo, há uma grande
quantidade de religiosos confessionais que migraram para o campo da política
sob a justificativa de influenciar o mundo por meio institucional do Estado.
Acerca deste item, escrevi neste portal um artigo indicando o sentido
sociológico desse deslocamento:. Sobre o segundo aspecto, ainda que os líderes não se candidatem a um cargo
eletivo do Estado, estão levando a política para dentro da igreja, seja
indicando em quais políticos os membros devem voltar, seja oferecendo o púlpito
ao candidato. Dessa forma, a pregação cede lugar ao discurso eminentemente
partidário, fazendo com que a mensagem bíblica passe a ser mero adereço dentro
das igrejas. No que diz respeito ao último item, faço referência a uma nova
forma de como os líderes religiosos adentram o campo político ou,
dialeticamente, como a política tem adentrado as igrejas. Refiro-me às redes
sociais. Nelas, pastores, bispos, presbíteros e padres passam a hastear sua
bandeira partidária por meio de posts em vídeos e em texto. Alguns deles têm
conotação jocosa e hostil e, em muitos casos, causam discussões sem fim, com
conteúdo, inclusive, desrespeitador. Isso nos faz pensar se os líderes têm
sopesado esse tipo de atitude ou seja, refletido se atos dessa natureza não
estão fazendo com se perca o bom testemunho daqueles que estão fora da igreja,
como Paulo nos adverte na carta a I Timóteo 3: 7, criando apenas discussões
inúteis? Temo que não. Muitos deles, pode-se dizer, publicam posts provocadores
apenas para gerar tumultos virtuais. Como se percebe, são envolvimentos
políticos variados, que colocam um desafio fulcral à igreja contemporânea, pois
são os próprios líderes que estão protagonizando um processo que eu considero
uma espécie de “desvio” da finalidade do episcopado bíblico, que seja:
pastorear o rebanho de Deus, combatendo o bom combate com fé, boa consciência,
piedade, contentamento e mansidão, mas sem ira, jactância, desejo de riquezas
ou poder, e sem propalação de palavras que só geram contendas e que para nada
aproveitam. Vale destacar que, além das questões que envolvem a laicidade do
Estado – amplamente discutidas alhures – estes três espectros de questões são
prejudiciais, primeiramente à igreja, porque ao se adentrar o campo da
política, ao invés de “influenciá-la”, acaba-se sendo engolido por ela, que é o
que está acontecendo hoje em âmbito nacional. Isso se explica, em parte, em
face de o campo da politica ser o campo das relatividades, das verdades, das
negociações. O da religião, mormente, as cristãs, é o da norma, dos padrões e
da doutrina. E misturar esses dois campos é como que se chocassem partículas de
matéria e antimatéria, criando ultra fagias cósmicas. Por isso, argumento que
líderes religiosos não deveriam se envolver, discursiva e eleitoralmente, na
política, haja vista que, dentre outras razões, quando eles tomam partido –
literalmente, nesse caso – isso acaba criando divisões dentro da própria igreja
ou, em um pior resultado, afugenta os membros que pensam diferente,
politicamente, dele. Mas sendo o líder o “pastor” de TODA a igreja, a atitude
deste deveria ser a do acolhimento e da mediação das diferenças, das variadas
formas de visões de mundo que os membros possuem. Infelizmente, esse elemento
axial da liderança cristã tem sido colocado em xeque ao assumir-se, perante a
grei, um discurso político, quando, na verdade, o encaminhamento dessas
questões deveria ser outro: “deixar” que os membros das igrejas, enquanto
cidadãos livres que são, façam a política, e no lugar apropriado – a vida
social – sem qualquer cor ou natureza religiosas. Se assim acontecesse, o mundo
da vida e dos céus agradeceriam.
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