PESQUISADORA DIZ QUE PLANO DOS EVANGÉLICOS É GANHAR A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA PARA INTERVIR NA JUSTIÇA
A eleição do bispo Marcelo Crivella (PRB) para a prefeitura do Rio de
Janeiro disparou alarmes nos analistas políticos e estudiosos do crescimento
dos evangélicos na sociedade brasileira, que muitas vezes acusam esse segmento
de querer transformar o país em uma teocracia. A pesquisadora Christina Vital,
42 anos, ligada à Universidade Federal Fluminense, concedeu uma entrevista e
falou sobre as consequências da vitória de Crivella para a presença evangélica
na política. De acordo com suas observações, os evangélicos estariam planejando
chegar à presidência da República para influenciar as nomeações ao Supremo
Tribunal Federal (STF). Nas declarações dadas à Folha de S. Paulo, Christina
Vital diz, no entanto, que a força da Igreja Universal não é vista com bons
olhos pelas demais igrejas evangélicas do país: “Há uma tensão diante do
crescimento do PRB. A IURD vem comprando horários em outras emissoras, não só
na Record, encarecendo-os, fazendo uma gentrificação do espaço público. Muitas
lideranças da Assembleia de Deus e outras denominações veem com apreensão o
crescimento de uma corrente que não lhes representa e é avassaladora em termos
econômicos e de ocupação do espaço público”, afirmou. O plano evangélico de
ocupação da política, de acordo com Vital, vem sendo desenvolvido desde a
reeleição de Dilma Rousseff (PT), candidata que representava o oposto da visão
social dos cristãos. “Desde pelo menos 2014, há um investimento de importantes
lideranças evangélicas em torno de unidade para ocupação dos Executivos. No
Legislativo, é mais fácil, você fala para um núcleo. Para o Executivo, tem de
conciliar a fala para a base religiosa com a fala para a sociedade em geral”,
observou. O passo inicial para alcançar a façanha de eleger um presidente da
República seria dado a partir das próximas eleições, conforme previsão da
pesquisadora: “A possível candidatura presidencial de 2018 em torno do
[deputado do PSC-RJ, Jair] Bolsonaro é talvez mais representativa de um
movimento de unidade de diferentes denominações. A Assembleia de Deus, a Sara
Nossa Terra e a Igreja Batista já o apoiam”, frisou. Christina Vital recorre à
história das últimas três décadas para contextualizar o crescimento evangélico
no país: “Os evangélicos estão na política há muitos anos, tiveram papel
importante na Constituinte e foram ganhando espaço desde então. Mas, a partir
do primeiro mandato do ex-presidente Lula, os evangélicos que, de modo geral,
apresentavam-se como minoria em termos percentuais e mesmo do seu lugar na
agenda pública, crescem. Coincidência ou não, em 2003, a frente parlamentar
evangélica passa por uma reestruturação”, recapitulou. “No nosso livro que será
lançado, o pastor Everaldo falou claramente na estratégia de assumir a
‘cabeça’, falou exatamente a palavra ‘cabeça’, em uma referência à importância
da ocupação da presidência, que é por onde passa a indicação para o Supremo
Tribunal Federal. A gente acompanha o crescimento de mobilização de juízes
evangélicos ou sensíveis à causa evangélica na Associação de Juristas
Evangélicos, que se espelha na Associação de Juristas Católicos, da qual Ives
Gandra Martins é o grande representante”, comentou. Para a pesquisadora, a
chegada dos evangélicos a um nível tão alto na política seria o início de uma
resposta à postura que o Supremo vem adotando há dez anos: “Desde pelo menos
2006, o Judiciário tem sido o Poder que vinha possibilitando a garantia de
direitos de algumas minorias, direitos esses ameaçados, digamos assim, pelo
comportamento legislativo. Os evangélicos falam de uma judicialização da política
e eles estavam se organizando para combatê-la. […] Mesmo esses religiosos no
Congresso Nacional não representam todos os evangélicos no Brasil em todas as
pautas. Na questão do aborto e LGBT, sim, há correspondência”, concluiu.
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