A PROSPERIDADE: UMA AVALIAÇÃO BÍBLICA - PAULO RODRIGUES ROMEIRO É UM PASTOR E APOLOGISTA CRISTÃO EVANGÉLICO BRASILEIRO. FOI PRESIDENTE DO INSTITUTO CRISTÃO DE PESQUISAS (ICP) EM SÃO PAULO, E ATUALMENTE É PASTOR PRESIDENTE NA IGREJA CRISTÃ DA TRINDADE
Os pregadores da confissão positiva vão muito além da Bíblia quando afirmam que a prosperidade financeira é uma das marcas da fidelidade de um cristão a Deus. Chegam a dizer que Jesus usava roupa de griffe, que morava numa grande casa e que liderava um ministério com muito dinheiro, a ponto de ter um tesoureiro. Observe algumas de suas declarações sobre este assunto:
...Filho de Deus, Jesus não andou em pobreza. Leia cuidadosamente a alimentação dos cinco mil. Quando eles viram os cinco mil, literalmente disseram isto. Agora, eu sei o que os teólogos farão com isso, mas eu não estou tentando impressionar os teólogos. Estou tentando impressionar pessoas que querem saber o que a Palavra de Deus diz. Estou tentando colocar alguma verdade em seu espírito. E você lê a narrativa, e ela literalmente diz: o discípulo disse: "Compraremos comida e alimentaremos todos estes? E eles disseram: 'Duzentos dinheiros seriam necessários para alimentar a todos. Iremos nós comprar a comida?'" Eles tinham o dinheiro na bolsa para alimentar cinco mil, mais as mulheres e crianças. Estou lhe dizendo, Jesus não liderou um ministério de pobreza (John Avanzíni, gravado em 14.12.91, no programa Believer's Voice of Victory).
Jesus estava administrando muito dinheiro, pois o tesoureiro que ele tinha era um ladrão. Agora, você não vai me dizer que um ministério com um tesoureiro ladrão pode operar apenas com poucos centavos. Era necessário muito dinheiro para operar aquele ministério, pois Judas estava roubando da bolsa (John Avanzini, gravado em 15.7.1988, no programa Praise The Lord, da Trinity Broadcasting Network).
João 19 nos diz que Jesus usava roupas de griffe... A túnica era sem costura, tecida de cima até embaixo. Era o tipo de vestimenta que os reis e os mercadores ricos usavam (John Avanzini, gravado em 20.1.1991, no programa de Kenneth Copeland).
Não ore mais por dinheiro... Exija tudo o que precisar (Kenneth Hagin citando Jesus, How God Taught Me about Prosperity, p. 17).
Jesus disse: "Tenho dito ao meu povo que ele pode ter o que diz, mas meu povo está dizendo o que tem" (Charles Capps, God's Creative Power Will Work for You, p. 26).
Deus quer que seus filhos usem a melhor roupa. Ele quer que eles dirijam os melhores carros e quer que eles tenham o melhor de tudo... simplesmente exija o que você precisa (Kenneth Hagin, New Thresholds of Faith, 1985, p. 55).
... Esta Bíblia é um livro de prosperidade!... A única vez em que as pessoas foram pobres na Bíblia foi quando elas estiveram sob uma maldição. E a única razão de terem estado sob maldição é porque não ouviram e não fizeram o que Deus lhes dissera que fizessem (Robert Tilton, gravado em 27.12.1990).
A Palavra de Deus jamais tratou os pobres com desdém, como se fossem amaldiçoados. Ao contrário, a preocupação de Deus para com o pobre é clara em toda a Escritura: "Pois nunca deixará de haver pobres na terra: por isso eu te ordeno: Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o necessitado, para o pobre na terra" (Deuteronômio 15:11). Isso foi endossado pelo Senhor Jesus, ao afirmar: "Porque os pobres sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem" (Marcos 14:7); e por Paulo também: "Ou menosprezais a igreja de Deus, e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto certamente não vos louvo" (1 Coríntios 11:22). "recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por fazer" (Gálatas 2:10).
Quando Jesus foi apresentado no templo, seus pais levaram ao sacerdote a oferta do pobre: "e para oferecer um sacrifício, segundo o que está escrito na referida lei: Um par de rolas ou dois pombinhos" (Lucas 2:24, de acordo com Levítico 12:8). A situação financeira de José e Maria não indica, de modo nenhum, que estivessem sob algum tipo de maldição.
Certa vez, perguntado se era lícito pagar tributo a César, Jesus respondeu: "Por que me experimentais? Trazei-me um denário, para que eu o veja" (Marcos 12:14-16). Foi necessário que alguém lhe trouxesse uma moeda para que Jesus pudesse vê-la, o que indica que o Mestre não tinha consigo uma moeda. Ele mesmo afirmou numa outra ocasião não ter onde reclinar a cabeça (Lucas 9:58).
Kenneth Hagin acrescenta:
Muitos crentes confundem humildade com pobreza. Um pregador certa vez me disse que fulano possuía humildade, porque andava num carro muito velho. Repliquei: "Isso não é ser humilde — isto é ser ignorante". A idéia que o pregador tinha de humildade era a de dirigir um carro velho. Um outro observou: "Sabe, Jesus e os discípulos nunca andaram num Cadillac". Não havia Cadillac naquela época. Mas Jesus andou num jumento. Era o "Cadillac" da época — o melhor meio de transporte existente.32
Concordo com Hagin que humildade e pobreza não são a mesma coisa. Entretanto, ele se esqueceu de que a carruagem, e não o jumento, era o "Cadillac" da época. Além disso, ele se esqueceu também de que o jumento fora emprestado. Tal fato não prova, de maneira alguma, que Jesus vivesse uma vida de luxo.
Outro incidente de extrema importância para nossa análise encontra-se no livro de Atos. Quando Pedro e João chegaram à porta do templo, chamada Formosa, um coxo pediu-lhes uma esmola. Pedro disse ao paralítico: "Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!" (Atos 3:1-8), e o homem foi curado. Naturalmente Pedro e João não estavam debaixo de qualquer maldição, em pecado ou sem fé, só porque não tinham prata nem ouro. Eles tinham algo melhor, a graça e o poder de Deus.
Jesus mesmo nos exortou a buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas nos seriam acrescentadas (Mateus 6:33). Parte do Sermão do Monte tratou exatamente disto: da ansiedade, da preocupação exagerada pela sobrevivência e pelos cuidados materiais. Jesus ensinou que não nos desesperássemos, mas que colocássemos nossa confiança em Deus. Se ele sabe cuidar dos pássaros e dos lírios do campo, cuidará melhor ainda de nós, seus filhos, feitos a sua imagem e semelhança. Há muitas outras passagens da Bíblia que poderiam ser citadas aqui no tocante ao assunto. Vamos encerrar esta seção com apenas mais uma: Hebreus 11.
Este é, de fato, um dos textos favoritos dos pregadores da confissão positiva. Trata-se da galeria dos heróis da fé. Não deixam de enfatizar o valor da fé e de como ela levou os servos de Deus, na Bíblia, a grandes vitórias e fantásticas proezas. Começando com Abel, do versículo 4 até o 35, há uma lista de homens e mulheres que triunfaram pela fé. A partir do versículo 35 até o 38, vemos um segundo grupo de pessoas que, pela fé, passaram por sofrimentos atrozes: "Alguns foram torturados, não aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição; outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões. Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos ao fio da espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra".
O primeiro grupo, no capítulo 11 de Hebreus, triunfou pela fé. O segundo grupo sofreu terrivelmente pela fé. Será que o primeiro grupo tinha mais fé que o segundo? Obviamente a resposta é não. Creio ser necessário ter muito mais fé para sofrer pelo evangelho do que para desfrutar de suas bênçãos. Além disso, quando a Bíblia diz: "dos quais o mundo não era digno" (v. 38) está-se referindo ao segundo grupo, e não ao primeiro. Os ensinadores da Prosperidade evitam sempre comentar sobre o final do capítulo 11 de Hebreus.
O Rev. Caio Fábio foi muito feliz ao fazer a seguinte declaração, num de seus livros mais recentes:
À medida que se parte para a ênfase do ter, perde-se o ser. Isso porque a fé cristã é uma fé baseada totalmente no ser. Em Hebreus 11:1-40 temos um texto que afirma a fé. Do v.1 ao 35 se fala daqueles que foram (ser) e tiveram (possuir, conquistar), como Abraão, que foi e teve... No entanto, já do v.35 em diante fala-se daqueles que foram e não tiveram... Vejo os irmãos adeptos da teologia da prosperidade afirmando o ter. Peço então a eles que leiam Hebreus 11, tentando mostrar-lhes que a fé profunda, genuína, nem sempre é a fé que garante o ter, mas é sempre fé que garante o ser. O interessante é que do 35 em diante é que se fala dos homens dos quais "o mundo não era digno"... Não estou dizendo com isto que não possamos ter. Ao contrário, o próprio texto de Hebreus mostra que é possível e é bom ser e ter. No entanto, quando a busca do ter é o alvo da vida, o ser se desvanece.33
Joni Eareckson Tada alcançou fama mundial depois de sofrer um trágico acidente. Em conseqüência dele, teve de aprender a viver numa cadeira de rodas e a pintar usando a boca. Tive o privilégio de conhecê-la pessoalmente na cidade de Amsterdã. A maior contribuição que Joni tem dado ao mundo é o seu testemunho de fé. Diz ela sobre o materialismo e o cristão: "A essência do Evangelho não é a saúde nem a prosperidade nem a felicidade, mas a submissão a Cristo".34 Infelizmente, a confissão positiva prepara seus adeptos para a prosperidade e se esquece de prepará-los para as adversidades da vida, que poderão vir, na maioria das vezes, de forma inesperada.
Não há dúvida, à luz da Bíblia, de que a prosperidade financeira na vida do cristão é uma verdadeira bênção. Não precisamos vasculhar a Palavra de Deus em busca de homens que serviram fielmente a Deus e que foram prósperos financeiramente. Ao falar sobre este assunto, nomes como o de Abraão, Davi, Salomão e Jó nos vêm imediatamente à mente. A Bíblia está cheia de promessas de Deus em relação à prosperidade material de seus filhos. Mesmo a história das missões da Igreja tem sido marcada pelo sucesso, muitas vezes, devido às contribuições de grandes somas em dinheiro feitas por cristãos abastados. Sem dúvida, isto é uma bênção.
Um dos nomes de Deus na Bíblia é Jeová Jiré, que significa "o Senhor proverá". Deus de fato supre a nossa necessidade e tenho experimentado isto pessoalmente, até mesmo de forma inesperada e milagrosa. A Bíblia diz que o amor ao dinheiro é a raíz de todo o mal (1 Timóteo 6:10), e não o dinheiro em si. Já ouvi alguém dizer que o dinheiro pode ser tanto um péssimo patrão quanto um bom empregado.
Devemos buscar a Deus muito mais pelo que ele é do que por aquilo que ele pode nos dar. Devemos também buscar e estar abertos para receber tudo o que ele tem para nos dar, sejam bênçãos espirituais, sejam materiais. Entretanto, não é isto o que se passa dentro do movimento da fé, em que há uma onda de ganância, de materialismo, de desfrutar tudo aqui e agora. Isto leva a pessoa a buscar muito mais a mão de Deus do que a sua face. Hendrik Hanegraaíl resumiu tudo isto muito bem quando afirmou: "Muitos são atraídos para a mesa do Mestre não para ter comunhão e intimidade com ele, mas para desfrutar do que está sobre ela''.35
A Bíblia nos mostra o profeta Habacuque como um grande exemplo de firmeza e confiança em Deus, ainda que as circunstâncias não sejam favoráveis. Ele declara: "Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco e nos currais não haja gado, todavia eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação" (Habacuque 3:17, 18).
Seria muito oportuno citar aqui as palavras de Charles R. Swindoll, pastor da Primeira Igreja Evangélica Livre de Fullerton, Califórnia, EUA: Falando de forma geral, há dois tipos de testes na vida: a adversidade e a prosperidade. Dos dois, o último é o mais difícil. Quando a adversidade chega, as coisas se tornam simples; o alvo é a sobrevivência. E o teste de manter o básico, como comida, roupa e moradia. Mas quando a prosperidade chega, cuidado! As coisas se complicam. Todos os tipos de tentações sutis chegam também, exigindo satisfação. E em tal circunstância que a integridade da pessoa é colocada à prova.36
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