MUITA POLÊMICA É SINAL DE POUCA MATURIDADE TEMOS DE DISTINGUIR DUAS COISAS IMPORTANTES: O QUE É A DEFESA DA VERDADE DO QUE SEJA A CONTENDA. POR MAYCSON RODRIGUE
A fé evangélica surgiu num contexto polêmico, de batalhas pela verdade, e estamos celebrando neste ano um grande acontecimento (tal qual que ainda acontece no mundo) que são os 500 anos da Reforma Protestante. Logo ou tendo dito estas coisas, não podemos agir na inocência de que a defesa da verdade do evangelho não seja uma pauta legitimada por Cristo e seus apóstolos.
Tanto Jesus quanto Paulo tiveram duros opositores. Cristo lidou com os fariseus; Paulo, com os cristãos judaizantes. Ambos tiveram de argumentar e contra-argumentar, ouvir e retrucar, considerar o posicionamento antagônico e responder à altura para que prevalecesse a verdade de Deus em meio a tantas elucubrações sofismáticas.
Portanto, não quero aqui relativizar a necessidade de luta por aquilo que deve ser preservado nem mesmo fazer o tipo do “deixa disso” no cenário teológico/cristão atual, pois importa mais é que o conselho soberano e infalível de Deus em sua Palavra seja exaltado sobre toda a maneira carnal de pensar.Entretanto, temos de distinguir duas coisas importantes: o que é a defesa da verdade do que seja a contenda.
A defesa da verdade exige um debruçamento bíblico, uma vida de oração profunda, uma compaixão pelos pequeninos e um espírito de misericórdia para com aquele que tem propagado um falso ensino ou agido mal com relação a conduta digna do evangelho de Cristo. Já a contenda é uma obra da carne, da qual Deus não tem prazer algum. Veja o que o Eterno diz em sua Palavra:
“Estas seis coisas o Senhor odeia, e a sétima a sua alma abomina: Olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, o coração que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal, a testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos.” (Provérbios 6.16-19)
Diz Salomão que Deus odeia os olhos altivos, a língua mentirosa, as mãos que derramam sangue inocente, o coração que produz perversidade, os pés que correm para o mal, a falsa e mentirosa testemunha – mas, quando se refere ao “que semeia contendas entre irmãos”, o rei afirma que Deus abomina o que comete tal prática.
Deus não tem prazer algum no pecado, mas há pecados de morte e destruição, dos quais o sentimento divino é mais aguçado, fazendo com que responda mais duramente no seu juízo justo. E um destes pecados de destruição é o semear contendas entre irmãos.
Estamos assistindo de camarote uma “troca de farpas gospel” protagonizada especialmente pelo pastor Silas Malafaia onde, movido pelo incômodo de ter sido citado como parte de um grupo de hereges pelo pastor Paulo Júnior, do canal do YouTube “Defesa do Evangelho”, partiu para o “contra-ataque” em suas redes sociais e no seu programa de TV, buscando assim não só responder a acusação, mas tentar de diversas formas elencar críticas aos calvinistas e a todo um grupo de cristãos que, segundo ele, “odeiam a teologia pentecostal”.
Eu não tratarei aqui do teor da resposta do pastor Silas e nem do teor da afirmativa do pastor Paulo Júnior (que gerou tudo isso), mas somente quero dizer que nada disso exalta a Cristo e testemunha da verdade do evangelho ao mundo – e, portanto, é uma perda de tempo imensa e uma demonstração de que tempo de carreira não define a experiência nem a maturidade de ninguém, tornando-nos assim mais dependentes ainda da graça divina para sermos conforme ele quer que sejamos. Quem pensa está de pé, cuide para não cair.
O episódio em si traz um pastor criticando a teologia do outro, mas em contextos distintos. Um, trouxe o seu posicionamento para o seu rebanho, veiculado ou divulgado por seu canal na internet; o outro, além de trazer o seu posicionamento ao seu rebanho, usou a sua hora milionária na TV e todos os outros veículos de comunicação cibernética para demonstrar a sua insatisfação e revolta com o vídeo que cita-o.
Não é preciso ser muito vivido no evangelho para perceber que algo está errado, especialmente por parte do pastor Silas. Um vídeo não pode derrubar a convicção de ninguém, a não ser que este não tenha de fato uma firme convicção acerca do que faz ou ensina. E o que podemos perceber é que o pastor ficou bastante atordoado, e isso já o tem levado (por duas semanas ininterruptas) a fazer denúncias e acusações graves a outros irmãos – como o conhecido pastor e missionário americano Paul Washer –, o que piora ainda mais o cenário.
Será que ninguém percebe que não é maduro nem saudável gastar tanto tempo defendendo a si mesmo?
O evangelho deve ser defendido pelo povo de Deus, mas o povo de Deus se defende com as armas de Deus e não com a força do próprio punho intelectual. Alguém precisa avisar isso ao pastor urgentemente.
Não quero fomentar vilões e mocinhos, como se eu fosse alguém isento de falhas humanas (vivo estarrecido por Romanos 3.23). Longe de mim! Sendo que já passou da hora de homens tão experientes agirem como homens de Deus, como gente que reflete o caráter de Cristo. E jamais alguém refletirá a Cristo sendo um ávido pela polêmica, apaixonado pela contenda. Isso vale para mim (que quase ninguém conhece), vale para os referidos pastores e vale para você. Quem é ser humano precisa examinar a si mesmo, no caminho.
Da soberba só provém a contenda, mas com os que se aconselham se acha a sabedoria. Provérbios 13:10
Deus não está com o contencioso. Deus não aprova uma defesa de si quando se pode e deve defender e pregar a verdade do evangelho em vez de. Deus não estenderá a sua mão misericordiosa sobre aquele que, dando vazão à ira, age infantilmente e berra pelos microfones abertos da sociedade virtual e real para atacar e atacar e tentar construir um “muro de Berlim evangélico”, para que pentecostais e reformados se odeiem, e arminianos e calvinistas se digladiem até ferirem de morte um ao outro. Isso não é nada cristão.
Eu quero dizer que todos, em Cristo e a despeito das discordâncias, somos um. E que há falsos ensinos como o da teologia da prosperidade que devem ser combatidos pela Igreja. E que todo mestre deve rever o seu ensino e reconhecer o erro, caso errado esteja. Afirmo também que a boa teologia tem por propósito supremo a glória de Deus e não a satisfação do homem. E que ninguém é intocável, pois o Ungido é Cristo, aquele que é a Cabeça da Igreja. Caiu sobre a Cabeça a Unção do Espírito de Deus, e dela respinga no Corpo.
Isto posto, conclamo: parem de criar contendas entre os irmãos sob o pano de fundo bizarro de que se está defendendo alguma verdade. Pois a presença da polêmica pode revelar a ausência de maturidade.
Que Deus tenha misericórdia de todos nós, e nos faça andar no caminho, verdade e vida que é Cristo e não os homens e suas causas fúteis.
Para reflexão:
O que ama a transgressão ama a contenda; o que exalta a sua porta busca a ruína. Provérbios 17:19
O homem iracundo suscita contendas, mas o longânimo apaziguará a luta. Provérbios 15:18
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