DEUS REALMENTE ZOMBA DOS QUE NÃO CONFIAM NELE? POR QUE O SALMISTA DAVI DISSE QUE SIM? POR FERNANDO PEREIRA
Quando cursei psicanálise aprendi com um dos meus professores que as
piadas/anedotas já foram alvo de sérios estudos, inclusive do próprio pai-inventor
desta ciência que estuda o subconsciente humano, Sigmund Freud, que desenvolveu
o estudo “O chiste e sua relação com inconsciente”. Em seu estudo, Freud
classificou as piadas em duas categorias: as “ingênuas” (que é produzida pelo
jogo das palavras) e os “chistes tendenciosos” (que se baseia num veio erótico
e/ou preconceituoso). No primeiro caso,
o humor consiste no trocadilho, e, no segundo, na aversão às diferenças e/ou
estereótipos traduzidos no modo de ser, se vestir, falar, andar, agir de um
modo geral. Você deve estar se perguntando qual a relação entre o que foi dito
na introdução com o que está proposto no título deste texto. Pois bem, vamos
lá. A Bíblia, no livro dos salmos, mais precisamente no de número dois, nos
relata, no versículo quatro, o seguinte: “Aquele que habita nos céus se rirá; o
Senhor zombará deles”. Duas palavras/verbos precisam destacadas: “rir” e
“zombar”. Conforme meus professores de português, “quem ri, ri de algo, de
alguém e/ou para alguém”, e quem zomba, “zomba de algo, de alguém e/ou para
alguém”. Logo, a pergunta a ser feita é: de quem Deus rirá e/ou zombará (a
ideia é a mesma nas duas frases do versículo)? Se olharmos o contexto do que
está sendo dito, à luz, sobretudo do que diz a última frase do versículo 12 do
mesmo capitulo (“bem-aventurados todos aqueles que nele confiam”), logo
saberemos que o Senhor “rirá”/”zombará” dos que nele deixam de confiar. À luz do que significa “zombar”, palavra
utilizada pelo tradutor da bíblia, o salmista diz que Deus, grosso modo, à luz
do que eu conheço a cerca do que entendeu Freud , se referirá aos que nele não
confiam, usando um tom de zombaria, ou seja: quem deixa de confiar no Senhor,
ganha contornos de uma piada pelo modo como age, e pelo que decide. À luz da expressão antropomórfica – quando
se atribui a Deus comportamentos/sentimentos que são próprios dos seres homens
– do salmista, chegaremos à conclusão de que, na verdade, Deus não faz dos que
nele não confiam uma piada, mas é o salmista é que acha inconcebível alguém
deixar de confiar no Senhor para ser arvorar em sua própria força e/ou
sabedoria. E por que o salmista acha isso? Porque suas experiências com Deus
fixaram nele essa mentalidade/paradigma. Embora no texto hebraico o autor seja
omitido, os apóstolos, no Novo Testamento, deixam claro que quem escreveu o
salmo dois foi Davi (At 2.24-25). O contexto do salmo deixa claro que o rei
Davi falava de seu reino (o que também é uma referência ao reino de
Cristo/messiânico), de como Deus o escolhera e ungira/untara para tal, e de
como os reis inimigos almejavam derrubá-lo. Ele se via em uma situação,
humanamente falando, de perigo. Mas não temia, pois era escolhido de Deus, e
sua confiança não estava fixada a nada que está ligado tão somente a esfera
terrena. Nessa época ele já havia tido muitas experiências em guerras das quais
ele saíra vencedor, ele já havia vencido os leões, os ursos, já havia matado o
gigante Golias… Ou seja, seu modo de agir estava estritamente preso à vontade
de Deus, e suas experiências o haviam feito experimentar as intervenções
poderosas do Senhor. Lição: A lição que eu aprendo com Davi neste salmo é a de
que, para vivermos uma vida de paz, precisamos nos meter em experiências com
Deus para construirmos uma mentalidade que já não veja mais a possibilidade de
agir sem que Deus esteja no negócio, e também para não temermos o que de mal
possa nos acontecer, pois se por acaso vier nos acontecer, acontecerá segundo a
vontade de Deus, e sempre para o nosso bem – “Ainda que eu ande pelo vale da
sombra da morte, não temerei mal algum (…) Preparas uma mesa perante mim na
presença dos meus inimigos (…)” (Sl 23. 4,5). Precisamos conhecer Deus através
de nossas experiências, e não tão somente conhecer sobre ele (Os 6.3; Jó 42.5).
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