GÊNESIS - CAPÍTULO 2- ESTUDANDO A BÍBLIA DE FORMA EFICIENTE - REALIZAÇÃO: CANAL DA BÍBLIA - MINISTÉRIO EM DEFESA DA FÉ APOSTÓLICA E CENTRO DE FORMAÇÃO APOSTÓLICA
Os primeiros três versículos deste capítulo
pertencem apropriadamente ao conteúdo do capítulo 1, visto que trata do sétimo
dia na série da criação. Durante seis dias, Deus esteve criando e formando a
matéria inorgânica, as plantas, os animais e o homem. De certo modo, tudo isso
ocupa e está relacionado com o espaço. O homem recebeu a ordem específica de
sujeitar o que se encontrava no âmbito espacial. Deus inspecionou tudo e
considerou muito bom; Ele concluiu tudo que quis criar. Certos rabinos antigos
ficaram aborrecidos porque pensaram ter visto aqui uma indicação de que Deus trabalhara
no sábado. O rabino Rashi declarou que o que faltava para o mundo era descanso,
e assim o último ato de Deus foi a criação do Sábado, no qual há quietude e
repouso. Nos Dez Mandamentos, a relação dos seis dias do trabalho de Deus com
as coisas materiais para um dia de descanso serve de base para a observância do
homem de um dia de descanso (Êx 20.8-11). Este é um dia estabelecido por Deus e
deve ocorrer regularmente. Outros dias importantes podem ser estabelecidos
pelo homem e oscilar conforme as estações, mas este dia é independente das
estações ou dos problemas de fixar uma data específica. Neste dia, a ordem de
Deus para o homem conquistar a natureza é posta de lado e o homem reconhece uma
lei superior, na qual ele se entrega a Deus. No Salmo 95.11 há a alusão de que
Deus nega um “descanso” (um sábado) a quem o desobedece. O escritor do Livro de
Hebreus se apropria desta sugestão para declarar que ainda resta um descanso
sabático para o povo de Deus: “Procuremos, pois, entrar naquele repouso” (Hb
4.11). O sábado indicaria a cessação de atos de desobediência e a aceitação do
governo de Deus sobre o ser interior. Ao contrário do sabbattu babilônico, no
qual demônios perigosos perambulavam livremente, o sábado instituído aqui foi
santificado por Deus. Era para ser um dia de alegria e contentamento, de
renovação interior, de louvor a um Deus misericordioso. Na crença pagã, certas
forças naturais, coisas, lugares, animais ou pessoas eram intrinsecamente
santos, até divinos; mas em nenhuma parte desta história da criação a santidade
é atribuída a algo que venha da natureza. Tudo que Deus havia criado era muito
bom, mas nada foi considerado santo. O primeiro item que foi declarado santo é
a porção de tempo do sábado. Deus reservou o sábado para que nele o homem
aprofundasse sua relação com seu Criador. Deus santificou o sétimo dia da
criação, estabelecendo com ele uma relação especial. Nos Dez Mandamentos, o
homem tem de santificar repetidamente o sábado, reconhecendo que ele tem uma
relação especial com Deus.' O fato de, basicamente, a santidade estar associada
com o tempo e não com um lugar fixo possibilitou no exílio a construção de
sinagogas. Desta forma, as duas instituições, o sábado e a sinagoga, puderam
resistir a todas as vicissitudes da dispersão; até hoje permanecem forças
poderosas no judaísmo. O mesmo é verdadeiro acerca do sábado e a igreja cristã
ao longo da história. A base do sábado foi trocada do evento da criação para o
evento da ressurreição; por conseguinte, o tempo foi mudado do sábado para o
domingo. Contudo, o mesmo princípio subjacente persiste; seis dias são dados
para o domínio do homem sobre a natureza, mas o sétimo dia é o Dia do Senhor. O
CRIADOR EM RELAÇÃO À CRIAÇÃO, Gn 2.4-3.24 A significação especial do homem como
a mais sublime criação de Deus é o ponto central desta história. Ela descreve a
relação ideal entre Deus e o homem, a qual, por sua vez, é a base para a
relação ideal entre o homem e a mulher no casamento. Como ponto contrastante,
aqui é mostrada a natureza do pecado que leva estas relações ao caos. A
história tem uma sequência clara. Há um cenário geral (2.4-14), uma ordem
(2.1517), a inserção do ato criativo (2.18-25), um ato de violação (3.1-8), um
questionamento (3.9-13), um julgamento (3.14-21) e uma expulsão (3.22-24). Pelo
fato de o capítulo 3 conter a narrativa da violação e do julgamento, seu tom de
dúvida, medo e raiva é notavelmente diferente do encontrado no capítulo 2, que
possui uma atmosfera de paz, harmonia e encanto. 1. O Homem com o Fôlego da Vida
(2.4-7) A palavra gerações tem um significado mais vasto que o termo
genealogia. O conceito de origens (4) não é essencial à palavra. Há outras dez
ocorrências em Gênesis (Gn 5.1; 6.9; 10.1; 11.10,27; 25.12,19; 36.1,9; 37.2),
uma delas (37.2) sem ter genealogia; mas, na maioria dos casos, é apresentado
muitos acontecimentos significativos, como também uma genealogia. Certos
expositores colocariam a primeira parte do versículo 4 com o material
precedente, mas nas outras ocorrências em Gênesis a expressão: Estas são as
origens de (ou gerações de), serve de cabeçalho ao que vem a seguir. É o que
acontece aqui. Há paralelo entre os versículos 4 e 5 deste capítulo e os
versículos 1 e 2 do capítulo 1. Porém, o capítulo 2 fala pouco sobre os eventos
criativos intermediários que levam à criação do homem. Não há indicação clara
de que a história no capítulo 2 tenha alguma parte na sequência de tempo do
aparecimento de plantas e animais. Pelo contrário, a atenção é focada no fato
de que sem chuva e o cuidado vigilante do homem a terra era originariamente
estéril. Por conseguinte, Deus forneceu umidade e formou o homem para que as
plantas que precisam de cultivo frutificassem. Mais detalhes sobre a criação do
homem são dados aqui que em Gn 1.27. Em Gn 2.7, o homem é apresentado como
criatura da terra. Ele é formado do pó. Com profundo interesse, Deus inalou
vida no homem, ato que realça o fato de que a vitalidade do homem e a dinâmica
interna vêm diretamente de Deus. Qualquer outro objeto do afeto e esperança do
homem é ilusão. Ele é feito para dois mundos; portanto, ser separado de Deus é
murchar como o fruto de uma videira cortada. As duas expressões: o fôlego da
vida (7, nishmat chayyim) e a alma vivente (nefesh chayyah) têm muito em comum.
Ambas podem ser usadas para referir-se tanto a animais como ao homem. Fôlego
(nishmat) está mais associado com o homem, mas é designado a animais em 7.22.
Alma vivente se aplica a todos os tipos de animais em 1.20,21,24,30; 2.19;
9.12,15,16. O termo hebraico nefesh tem conotação mais ampla que o termo
nishmat. Ambos podem significar “respiração, fôlego, hálito”, mas nefesh também
inclui estes significados: ser vivo, alma, vida, ego, pessoa, desejo, apetite,
emoção e paixão.' O homem é único. Ele é o que é, porque Deus... soprou em seus
narizes o fôlego da vida. Deus nunca fez isso com um animal. O Jardim da
Delícia (2.8-14) A palavra jardim (8) é tradução da palavra hebraica gan, que
designa lugar fechado. A Septuaginta traduz o hebraico por “paraíso”,
paradeison, termo persa que significa um parque. Éden não é traduzido mas
transliterado para nosso idioma. Basicamente, significa “prazer ou delícia”.
Parece indicar uma região. Éden pode ser derivado da palavra assíria edinu, que
significa “planície, pradaria ou deserto” e designa a terra entre o rio Tigre e
o rio Eufrates. Se a frase saía um rio (10) for compreendida no sentido de rio
acima, o jardim estaria situado no vale mesopotâmico inferior. Se for entendida
no sentido de rio abaixo, teria de estar situado na Armênia, onde as nascentes
dos rios Tigre e Eufrates se originam perto uma da outra (ver Mapa 1).
Atualmente, não há como obter conclusão definitiva sobre esta questão. Mais
importante para a história é a presença da árvore da vida e da árvore da
ciência do bem e do mal (9). Pelo visto, a primeira árvore mencionada era a
fonte de vida, da qual o homem, depois que pecou, teve de ser separado
(3.22-24). Uma “árvore de vida” é mencionada em Provérbios 3.18; 11.30; 13.12;
15.4, onde, em sentido figurado, representa fonte de felicidade, sabedoria e
esperança. A frase também é encontrada no Livro do Apocalipse como o dom
supremo para o crente fiel (Ap 2.7) e como símbolo da vida eterna (Ap 22.2,14).
Com respeito à árvore da ciência do bem e do mal, os dois opostos, o bem e o mal,
representam os extremos da ciência ou conhecimento e, assim, servem de
expressão idiomática para referir-se à perfeição — neste caso, onisciência e
poder. Em Deuteronômio 1.39 e Isaías 7.14-17, a falta de conhecer o bem e o mal
indica imaturidade, ao passo que em 2 Samuel 19.35, a plena maturidade está,
por vias indiretas, associada com a habilidade de discernir entre o bem e o
mal. Mas Gênesis 3.5 sugere que este poder é atributo divino, e Provérbios 15.3
faz a afirmação clara de que é equivalente de onisciência (ver 2 Sm 14.17; 1 Rs
3.9). O rio Pison (11) nunca foi satisfatoriamente identificado, embora haja
suposições, entre as quais figuram o rio Indo, da índia. Havilá (11) diz
respeito a um país arenoso que produz ouro bom. Essa terra também produzia
bdélio (12), resina de grande valor conhecida pelos israelitas (ver Nm 11.7). É
duvidoso que pedra sardônica (12) seja a tradução correta do termo hebraico
shoham; a Septuaginta sugere berilo. A identificação de Giom (13) é
desconhecida. Há muito que o rio Nilo é conjetura favorita, porque a
Septuaginta e a Vulgata identificam a palavra hebraica kush (Cuxe) com a
Etiópia. Mas, pela razão de Gênesis 10.7-10 mencionar que os descendentes de
Cuxe são árabes e tribos ou cidades mesopotâmicas, há quem afirme que Giom é o
rio Araxes, que deságua no rio Ciro e depois desemboca no mar Cáspio. Cuxe
seria o nome hebraico para referir-se aos cassitas que habitavam naquela
região. O nome do terceiro rio é Hidéquel (14), que é o famoso rio Tigre (ver
Mapa 1), o qual em acádio antigo era chamado idiqlat. O rio Eufrates corre
paralelo ao rio Tigre, com o qual se unia para irrigar o vale mesopotâmico.
Ainda é um rio importante. O nome assírio era puratu, mas no persa antigo era
ufratu, que serviu de base para a palavra grega euphrates.” A Ordem que Fixou
Limites (2.15-17) Quando Deus colocou o homem no jardim (15), Ele lhe deu duas
tarefas: para o lavrar e o guardar. Em contexto agrícola, lavrar significa
cultivar, ação que inclui o ato de podar videiras. Quando ordenou o SENHOR Deus
ao homem (16), Ele deixou claro sua relação soberana com o homem e a relação
subordinada do homem com Ele. Deus tinha este direito, porque Ele é o Criador e
o homem é a criatura. Para expressar proibição, aqui é empregada a maneira mais
forte possível em hebraico para colocar a árvore da ciência do bem e do mal
(17) fora da alçada do homem. Visto que o discurso direto é inerentemente
pessoal, a ordem: Não comerás, é pessoal e a qualidade do negativo hebraico a
coloca em negação permanente. A importância da ordem é aumentada pela
severidade do castigo. Isto é muito forte na sintaxe hebraica, sendo que a
força é um tanto quanto mantida na tradução com a palavra certamente. A Mulher
que Deus Formou (2.18-25) Havia um aspecto da criação de Deus que não estava
totalmente satisfatório. O fato de o homem ainda estar só (18) não era bom. O
isolamento é prejudicial. Por dedução, a relação social, ou seja, o
companheirismo, é bom. Por conseguinte, Deus determinou fornecer ao homem uma
adjutora que esteja como diante dele, literalmente, uma ajudante que lhe
correspondesse, alguém que fosse igual e adequada para ele. “Uma ajudante certa
que o complete” (VBB). A Bíblia Confraternidade traduz: “Uma ajudante como ele
mesmo”. Considerando que não há formas de tempos verbais em hebraico, não se
conclui necessariamente que Deus formou os animais depois de ter formado o
homem. Pode igualmente significar que depois que o homem foi colocado no
jardim, os animais que Deus previamente formara foram trazidos a Adão (19). A
sequência de tempo não é o item importante aqui. Um aspecto da imagem de Deus
foi demonstrado pelo poder de Adão discernir a natureza de cada animal e dar um
nome certo, pois em hebraico, nome e caráter coincidiam. Quando Adão pôs os
nomes (20), ele mesmo foi capaz de discernir que nenhum dos animais era uma
adjutora que estivesse como diante dele. Ele, como também Deus, tinha de saber
disso para apreciar o que Deus estava a ponto de fazer. O sono pesado (21) é o
tipo no qual os sentimentos ou capacidade emotiva deixam de funcionar
normalmente. Ver Gênesis 15.12; Jó 4.13; 33.15, onde a frase está ligada com
visões; e 1 Samuel 26.12 e Jonas 1.5, onde o termo não está relacionado com
visões. Ver também Isaías 29.10, onde a expressão sugere falta de sensibilidade
espiritual. A costela (22) pode significar o osso e a carne que a envolve. É a
parte do corpo mais próxima do coração, que para os hebreus era o lugar dos
afetos. A mulher não foi feita de substância inferior. Para acentuar a
singularidade deste ato, é usado um verbo hebraico diferente (yiben), que
significa “construir”, detalhe completamente perdido na palavra traduzida por
formou. Deus trouxe-a a Adão para sua aprovação e avaliação. Assim, parte da
história segue a sequência dos dias criativos no capítulo 1, isto é, a decisão
(18-20), o ato criativo (21,22) e a aprovação (23). De imediato, Adão (23) viu
a conveniência desta ajudante. Ela era parte íntima dele, osso dos meus ossos e
carne da minha carne e, desta forma, adequada para ele. Mas ele também
demonstrou sua posição de autoridade ao lhe dar um nome. Com efeito, esta foi a
instituição da relação matrimonial. Desde o princípio, Deus quis que o
casamento fosse exclusivo e íntimo. Não era simplesmente para a mulher
agarrar-se ao homem como um apêndice. Para deixar clara a responsabilidade do
homem, Deus ordenou que o homem se apegasse à sua mulher (24) no compromisso
mútuo da verdadeira união. O casamento tem de permanecer irrompível ao longo da
vida, pois foi dito: E serão ambos uma carne, ou seja, uma identificação
completa entre si. E nisto eles não se envergonhavam (25).
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