GÊNESIS - CAPÍTULO 3- ESTUDANDO A BÍBLIA DE FORMA EFICIENTE - REALIZAÇÃO: CANAL DA BÍBLIA - MINISTÉRIO EM DEFESA DA FÉ APOSTÓLICA E CENTRO DE FORMAÇÃO APOSTÓLICA
A serpente (1) se enfiou sorrateiramente no jardim tranquilo como um
visitante sinistro. Por todo o antigo discurso semítico, os répteis estavam
relacionados com influências demoníacas e este versículo descreve que a
criatura era mais astuta que todas as alimárias do campo. À medida que a
história progride, a serpente é apresentada em todos os lugares como
instrumento de certo poder espiritual oculto. No Novo Testamento, Jesus
relaciona a serpente ao diabo (Jo 8.44), como também o faz Paulo (Rm 16.20; cf.
2 Co 11.3; 1 Tm 2.14) e João (Ap 12.9; 20.2). Em todos estes exemplos, a fonte
da tentação é objetivamente distinta de Deus ou do ser humano. Em nenhum caso,
a serpente é considerada apenas a “personificação da tentação” ou a
“representante do poder da tentação”.” A serpente começou a conversa com uma
expressão de surpresa: Não comereis de toda árvore do jardim?, e passou a citar
erroneamente a ordem original de Deus, tornando-a absurda. A proibição original
estava relacionada só com uma árvore, mas a serpente disse de toda árvore,
frase que em 2.16 é encontrada na ordem permissiva e não na ordem negativa
(2.17). A serpente pôs em dúvida a bondade de Deus: Ele foi muito restritivo,
retendo desnecessariamente benefícios de grande valor. Esta primeira pergunta
era aparentemente inocente, mas enganou a mulher (2), fazendo com que ela
também citasse erroneamente a ordem. Ela tornou a proibição muito mais forte
do que realmente era. Deus não dissera: Nem nele tocareis (3). Mas Ele fizera a
ameaça de castigo muito mais forte do que para que não morrais. Ela tornou, sem
perceber, a ordem irracional e o castigo mera possibilidade, em vez de ser um
resultado inevitável. A mulher perdeu a oportunidade de ouro de derrotar a
sugestão da serpente. Tivesse ela citado a ordem corretamente e se aferrado a
ela, o inimigo não teria podido prosseguir com seu intento. A serpente percebeu
a vantagem e passou a negar categoricamente a verdade da declaração punitiva de
Deus, declarando positivamente: Certamente não morrereis (4). Ele concentrou
seu ataque incitando ressentimento contra a restrição e suscitando desejo de
poder. Deus não estava usando a finalidade da morte como dispositivo para
sonegar ao gênero humano a descoberta de algo — se abrirão os vossos olhos (5)?
Ele não estava impedindo o homem de possuir um bem que o homem tinha o direito
de ter? A serpente estava acusando Deus de motivo impróprio, de egoisticamente
manter o homem em nível de existência inferior. O verdadeiro destino do homem,
a serpente indicou, era ser como Deus. A característica principal do ser divino
era o poder de saber o bem e o mal.' Este saber não era conhecimento abstrato,
mas a habilidade prática de saber todas as coisas, inclusive a inteligência de
inventar e estabelecer padrões éticos. Engenhosamente, a serpente sugerira que
desobedecer a ordem de Deus ocasionaria, não a morte, mas uma vida completa e
rica para o homem. Não foram feitas promessas positivas, só a sugestão de
possibilidades que eram fascinantes e misteriosas. Este era o apelo nuclear do
paganismo, a crença de que grandes realizações, pensamento profundo ou ritual
cuidadosamente observado introduziriam a pessoa no reino divino. Este também é
o pecado básico do homem, alcançar o estado de ser absolutamente livre e
auto-suficiente. Em Gn 3.1-6, ternos “O Apelo da Serpente”. 1) Ao desejo
físico, 6ab; 2) À curiosidade intelectual, 5; 3) À disposição de
auto-afirmação, 1,3 (G. B. Williamson). O Ato de Violação (3.6-8) Os argumentos
da serpente atraíram três facetas da natureza da mulher, cada uma parte
legítima de sua natureza de criatura. A fome física foi estimulada, pois aquela
árvore era boa para se comer (6). O apetite estético foi provocado, pois era
agradável aos olhos. E a capacidade de sabedoria e poder foi atiçada, pois era
árvore desejável para dar entendimento, o que incluía a habilidade de dominar
os outros (cf. a tentação de Jesus, Mt 4.1-11; Lc 4.1-13; 1 Jo 2.16). Na
verdade, há muito que a mulher fora derrotada e sua contemplação logo resultou
em ação. A ordem de Deus foi desobedecida e, incrivelmente, seu marido a seguiu
na desobediência. Depois de terem comido, foram abertos os olhos de ambos (7),
mas não do modo em que a serpente indicou. Em vez de passarem para um nível de
existência superior, eles caíram a um nível inferior. Eles conheceram que
estavam nus. Em vez de ficarem unidos com Deus, alcançando essência igual com
Ele, eles foram alienados um do outro pela consciência de que seu ato não
produziu o que esperavam. A frustração estava relacionada com o novo
conhecimento de nudez. A desobediência gerou culpa e vergonha. Em reação ao
sentimento de vergonha, os dois apanharam folhas de figueira, com as quais
fizeram para si aventais (ou “cintas”). Eram tangas simples e transpassadas. O
homem e a mulher estavam familiarizados com a voz do SENHOR Deus (8), como se
deduz pela comunhão frequente com o Criador. A viração do dia é expressão
idiomática para aludir à noite, pois no Oriente Próximo sopra um vento fresco
sobre a terra ao pôr-do-sol. Desta vez, o casal não estava preparado para
encontrar-se com Deus. A expressão a presença é caracteristicamente vívida em
hebraico. Não é uma influência vaga e indefinível, mas uma confrontação
direta, bem definida e pessoal. O casal culpado escondeu-se, mas de nada
adiantou. A Intimação para Comparecer na Presença de Deus (3.9-13) A pergunta: Onde
estás? (9), não foi feita por Deus não saber o paradeiro deles, mas porque Ele
queria induzir a resposta e fazer o homem e a mulher saírem do esconderijo
pela própria confissão. A resposta de Adão: Temi (10), esclarece o motivo de
terem se escondido. Participar do fruto da árvore não o fez semelhante a Deus,
como sugeriu a serpente, mas comprometeu sua verdadeira essência de ser homem
diante de Deus. Deus conhece o bem e o mal da perspectiva da bondade divina e
soberana. Mas o homem, sendo homem e dependente de Deus, só pode conhecer o bem
e o mal da perspectiva da obediência à vontade de Deus ou da perspectiva da
desobediência, que é a rejeição da vontade expressa de Deus. O alcance do
homem ao estado divino só o lançaria no papel da desobediência; por
conseguinte, seu conhecimento do bem e do mal estava misturado com culpa e
medo. A primeira pergunta foi feita diretamente ao homem: Comeste tu? (11).
Adão não tinha desculpa, porque ele sabia qual era a ordem. Tratava-se de uma
proibição simples e clara. Mas Adão não enfrentou sua responsabilidade; ele
passou a culpa para a esposa — ela me deu (12) — e Deus não a deu para ele?
Certamente, ela era digna de confiança como guia para a ação. A mulher (13)
também tentou evadir-se da responsabilidade, dizendo: A serpente me enganou.
Então ela se deu conta de que a serpente “a fez de boba”. Em 3.6-11, G. B.
Williamson destaca “Deus e o Pecador”. 1) O pecado causa culpa pessoal,
7,10,11; 2) O pecado separa Deus e o homem, 8b; 3) Deus busca o homem pecador,
8a,9; 4) Deus perdoa a culpa do homem, 21. O Pronunciamento dos Veredictos
(3.14-19) Os pecados cometidos estão refletidos nas punições, as quais foram
aplicadas em partes. A serpente (14) foi amaldiçoada. Mais que é tradução
incorreta, pois sugere que outros animais também foram amaldiçoados. O sentido
correto é “à parte” ou “separado de entre”. Moffatt traduz: “Uma maldição em ti
de todas as criaturas!” A serpente posou como supremamente sábia, mas sua
maneira de se locomover sempre seria símbolo de sua humilhação. A frase sobre o
teu ventre não significa que a serpente tinha originalmente pernas e as perdeu
no momento em que a maldição foi imposta, mas que seu modo habitual de
locomoção tipificava seu castigo. A frase pó comerás é idiomaticamente equivalente
a “tu serás humilhado” (cf. Si 72.9; Is 49.23; Mq 7.17, onde a frase “lamberão
o pó” tem claramente este significado). O castigo envolveria inimizade (15),
hostilidade entre pessoas. A semente da serpente, que Jesus relaciona aos
ímpios (Mt 13.38,39; Jo 8.44), e a semente da mulher, têm ambas sentido
fortemente pessoal.' Deus disse à serpente: A Semente da mulher te ferirá a
cabeça. Compare a referência de Paulo a isto em Romanos 16.20. A serpente só
poderia ferir o calcanhar da Semente da mulher. De fato, ferir não é forte o
bastante para traduzir o termo hebraico, que pode significar moer, esmagar,
destruir. Uma cabeça esmagada que leva à morte é contrastada com um calcanhar
esmagado que pode ser curado. O versículo 15 é chamado “proto-evangelho”, pois
contém uma promessa de esperança para o casal pecador. O mal não tem o destino
de ser vitorioso para sempre; Deus tinha em mente um Vencedor para a raça
humana. Há um forte caráter messiânico neste versículo. Em 3.14,15, vemos “O
Calcanhar Ferido”. 1) O Salvador prometido era a Semente da mulher — o
Deus-Homem; 2) Esta Semente Santa feriria a cabeça da serpente conquistar o
pecado; 3) A serpente feriria o calcanhar do Salvador — na cruz, ele morreu (G.
B. Williamson). O castigo da mulher seria o oposto do “prazer” que ela procurou
no versículo 6. Ela conheceria a dor (16) no parto, que é bem diferente do novo
tipo de vida que ela tentou alcançar pela desobediência. Igualmente, a futura
ligação do seu desejo ao seu marido era repreensão à sua decisão de buscar
independência. Ela sempre seria dependente dele. Em 3.1-15, Alexander Maclaren
vê “Como o Pecado Entrou”. 1) O induzimento ao mal, 1-5; 2) A entrega ao
tentador, 6; 3) As consequências fatais, 7-15. Deus pôs uma maldição
diretamente na terra em vez de colocá-la no homem. Adão foi comissionado a
trabalhar com a terra (2.15), mas já não seria por puro prazer. O homem se
submeteu tão facilmente ao apelo da mulher que ele comeu o fruto proibido.
Agora seu trabalho na terra seria misturado com dor (17). De todos os lados,
ele seria confrontado por competidores: espinhos e cardos (18), que crescem
profusamente sem cultivo e não produzem comida para o homem. Em Oséias 10.8,
estas plantas aparecem como símbolos de julgamento e desolação no lugar da
adoração. Compare também com Juízes 8.7,16; 2 Samuel 23.6; Salmo 118.12; Isaías
32.13; 33.12; Jeremias 4.3; 12.13 e Ezequiel 28.24. Em todo caso, uma conotação
ruim é ligada à natureza destas plantas (ver tb. Mt 13.7; Hb 6.8). A morte
física não seria imediata, mas seria inevitável, porquanto és pó e em pó te
tornarás (19). O tipo imediato de morte que o homem sofreu foi espiritual:
separação de Deus. Em 3.14-19, encontramos retratada “A Maldição Causada pelo
Pecado”. 1) Na serpente, 14; 2) Na mulher, 15,16; 3) Em Adão, 17,19. 4) Na
terra, 17b,18 (G. B. Williamson). A Expulsão do Jardim do Éden (3.20-24) Na
melancolia sombria do julgamento havia raios de esperança e misericórdia. O
homem podia ver a possibilidade de um futuro através de sua esposa. Agora ele a
chama Eva (20), que significa “vida”, pois dela viria uma posteridade.
Misericordioso, Deus providenciou para eles túnicas de peles (21). Estas
indumentárias podem ter vindo de animais sacrificados, ainda que o texto não o
diga especificamente. Há um toque de ironia na observação divina de que este
casal humano é como um de nós (22). A preposição de (min) destaca uma nítida
distinção entre Deus e o homem em vez de mostrar identidade. Está em contraste
com como um, que denota unidade. O homem e a mulher tinham buscado ser como
Deus, que sabe o bem e o mal, como seres que são soberanos. Mas nunca poderiam
alcançar este status. Eles só possuíam o fôlego (2.7) e a imagem (1.26,27) de
Deus. Por conseguinte, sua intrusão em um âmbito que não era deles foi uma
negação do seu estado de criatura e uma rebelião contra a singularidade do
Criador. O homem tinha de ter o acesso impedido à árvore da vida para que ele
não se fixasse na rebelião. Os querubins (24) são seres angelicais que
representam o poder de Deus e estão relacionados com seu trono. Duas figuras de
querubins estavam na tampa da arca (Êx 25.18-22; 37.7-9), e muitos estavam
entretecidos nas cortinas do tabernáculo (Êx 26.1,31; 36.8,35) e esculpidos nas
paredes e portas do templo (1 Rs 6.23-35; 2 Cr 3.10-13). Ezequiel os descreveu
com a combinação de quatro faces: um leão, um boi, uma águia e um homem, com
mãos de homens, pés de bezerros e quatro asas (cf. as quatro criaturas de Ap
4.6-8). Estas criaturas foram incumbidas com a tarefa de deter o acesso do
homem à árvore da vida enquanto este estiver carregado com o fardo do pecado.
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