A SOBERANIA DE DEUS NÃO ANULA A NOSSA RESPONSABILIDADE. - MARTINHO LUTERO COM A SERIE NASCIDO ESCRAVO
Erasmo, você alicerça seu argumento nas palavras de Mateus 7.16, que dizem: “Pelos seus frutos os conhecereis...”, asseverando que a Bíblia diz que o fruto é nosso, e que, portanto, não pode o mesmo ser- nos dado por Deus através do seu Espírito. Esse é um argumento tolo! Pois, é dito que Cristo é nosso, embora O tenhamos recebido. Os nossos olhos são nossos embora não os tenhamos criado! E em seguida, você usa outro argumento, alicerçado em Lucas 23.34: “Pai, perdoa-lhes, por- que não sabem o que fazem”. Você afirma que se a nossa vontade não é livre, então teria sido mais certo se Jesus tivesse desculpado os seus assassinos, por não terem eles “livre-arbítrio”, e nem poderem eles agir de outra maneira. A resposta, entretanto, encontra-se nas próprias pa- lavras de nosso Senhor: “...não sabem o que fazem”. Poderia ser dito ainda mais claramente que Cristo estava afirmando que seus algozes eram incapazes de querer fazer o que é bom? Como poderiam querer fazer aquilo que desconheciam? Nenhuma afirmativa mais forte pode ser apresentada acerca da pobreza da vontade humana. Não somente a vontade humana não pode fazer o bem, mas também nem ao menos re- conhece quanto mal está fazendo, nem conhece no que consiste o bem! Em seguida, você usa novamente a passagem de João 1.12: “Mas,
a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: aos que crêem no seu nome”, e argumenta que não lhes poderia ter sido conferido o direito de tornarem-se filhos de Deus, se não houvesse liberdade da vontade. Atentemos cuidadosamente ao que diz esse versículo. João fala da completa transformação de quem, sendo filho do diabo, passa a ser um filho de Deus. Esse alguém nada faz; antes, é transformado em algo! Tornamo-nos filhos de Deus através da operação de Deus, e não por qualquer atuação do “livre-arbítrio” em
nós. João está nos dizendo que o evangelho da graça, que não impõe a exigência de obras, cria uma esplêndida oportunidade para todos os ho- mens tornarem-se filhos de Deus, se vierem a crer no Senhor. Todavia, esse querer e esse crer são questões acerca das quais eles não tinham qualquer conhecimento prévio. Muito menos ainda, eles poderiam fazer essas coisas contando apenas com suas próprias forças. Os homens ja- mais poderiam conceber, por si mesmos, um evangelho que envolvesse fé em Cristo, como Filho de Deus e Filho do homem. Como, portanto, poderiam eles estar dispostos ou ser capazes de receber o evangelho? João não estava anunciando as virtudes do “livre-arbítrio”, e, sim, as riquezas do reino de Deus, dadas a conhecer ao mundo inteiro, através do evangelho. João também mostrou quão poucos são aqueles que re- cebem o evangelho, exatamente porque o “livre-arbítrio” dos homens se lhe opõe. O poder do “livre-arbítrio” resume-se nisto — Satanás domina-o inteiramente, de tal maneira que o “livre-arbítrio” rejeita a graça de Deus. E também rejeita o Espírito Santo, o qual cumpre em nós a lei, visto que o “livre-arbítrio” imagina que é capaz de obedecer à lei mediante os seus próprios esforços.
Por fim, você cita Paulo como apoio à sua posição. (Paulo, o grande adversário da idéia do “livre-arbítrio”!) Você usa o trecho de Romanos 2.4: “Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?” E então indaga: “Como poderiam ser acusados de desprezar as realidades divinas, aqueles que não possuem o “livre-ar- bítrio”? Visto que Deus é o Juiz que compele os homens a praticarem o mal, como poderia Ele condená-los?” Será que você não vê que as palavras de Romanos 2.4 são uma advertência, cujo propósito é fazer os ímpios perceberem quão incapazes são? Tendo-os humilhado, Deus queria prepará-los para receber a sua graça.
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