ENTREVISTA COM DIRETOR DE FILME SOBRE MÁRTIR IRANIANO
Joseph Hovsepian nasceu em 1973
no Irã. Ele começou filmando e editando um evento aos 17 anos, e finalmente se
interessou e encarou o desafio de entrar no campo do cinema. Depois do martírio
de seu pai em 1994 no Irã, dirigiu seu foco para filmes com temas espirituais.
Joseph estudou Cinema e Filmagem na escola de Arte Guildford, na Inglaterra, e
desde 1998 trabalha integralmente produzindo e dirigindo filmes. Logo após
imigrar para a Califórnia, em 2000, Joseph Hovsepian fundou a JFA Produções
(Joseph Film & Animation, LLC) e tem produzido desde então projetos
independentes e trabalhos marcantes para TV e estações a cabo. Por que você
escolheu contar a história de seu pai por meio de um documentário em vez de
criar um filme biográfico com a encenação de sua vida e martírio? O
documentário é mais real. E, em nosso caso, tínhamos muitos materiais de vídeo
da vida de meu pai e sobre a situação no Irã; foi a melhor escolha. Com um
custo sensato, foi também adequado para o nosso orçamento. Todavia, espero que
um dia eu tenha a oportunidade e o orçamento para produzi-lo seguindo as
características de filme. O que você ganhou criando um documentário que seria
perdido num filme biográfico? Que mensagem ou informação o formato de
documentário permite transmitir? Testemunhos e entrevistas permitem que o
documentário tenha uma ampla perspectiva de dimensão, cultura e globalização. O
mais importante é que o documentário pode descrever melhor a real
característica de meu pai, Haik Hovsepian, dando oportunidade à plateia de
encontrar um verdadeiro herói e observá-lo em cada parte da historia, até seu
martírio. Através desse documentário, o espectador pode ouvir sua voz,
cantando, e seu amor pela família, amigos e inimigos. Então, não poderiam
existir dúvidas na mente do espectador sobre o modo como o ator está retratando
o verdadeiro Haik Hovsepian. A Cry from Iran foi filmado em cinco países
diferentes e seis estados nos Estados Unidos. Quantos dias foram necessários
para a filmagem? Nós gastamos mais de dois meses filmando e viajando pelos
Estados Unidos e demais locais de filmagem, exceto o Irã. Os clipes do Irã
ocorreram dentro de um longo período de tempo, anos antes de iniciarmos a
edição do filme. Alguns desses clipes foram trazidos para os Estados Unidos por
nós mesmos, e alguns foram enviados mais tarde. Porque a Turquia foi escolhida
para a filmagem dos fatos ocorridos? Certas regiões da Turquia são muito
similares ao Irã. A forma como as pessoas se vestem, a postura das mulheres de
cobrir suas cabeças, o fluxo de pessoas, todas essas características são
similares. Existia também menos limitações e perigo para nós, comparado com o
Irã. Nós também tínhamos acesso a muitas pessoas na Turquia que estavam
motivadas a contribuir com esse projeto, como extras ou assistentes de
produção. As entrevistas nesse documentário são cuidadosa e perfeitamente
entrelaçadas com imagens, refilmagens e sonoplastia dirigidas por seu irmão
André. Qual é a experiência dele em edição? Quando adolescente, em 2003, André
Hovsepian começou editando shows de TV e logo demonstrou ser uma pessoa com
visão única, capaz de ver o poder da criação no drama. Quando chegou o momento
de editar A Cry from Iran, ele já tinha experiência e estava treinado. Nesse
documentário, André viu cenas de nosso pai que ele não tinha visto na vida
real, porque tinha somente 10 anos quando meu pai foi martirizado. O processo
de edição desse filme foi uma nova chance para André ver papai quadro a quadro
e conhecê-lo um pouco mais. Que processo você usou para selecionar mais de 200
horas de imagens e escolher quais clipes deveria usar no documentário? Essa foi
a parte mais difícil do processo para nós. Tivemos que separar nosso
envolvimento do documentário. Tínhamos que considerar a melhor forma de contar
toda a história pensando no que deveria ser política e socialmente correto. Nós
concluímos o projeto com um documentário de duas horas. Então teríamos o
período mais difícil, de ‘cirurgia’, para cortar 55 minutos. Nós tivemos que
agir de forma consistente para cortar passagens repetitivas ou que não seriam
úteis para os espectadores. Fomos agraciados, pois tínhamos pessoas em nossa
equipe que não estavam ligados emocionalmente a Haik Hovsepian. Eles
compartilharam conosco honestamente suas opiniões sobre os vídeos que deveriam
ser cortados. Como a Portas Abertas Internacional tornou-se a produtora
executiva desse documentário? Vocês os encontraram ou eles te encontraram? Isso
é muito interessante – como se esse encontro fosse pré-planejado nos céus. Eu
nunca soube que a Portas Abertas Internacional tinha interesse por filmes. Eu
entrei em contato primeiro com a Voz dos Mártires, mas, após várias discussões,
ao contrário de nossa expectativa, eles não puderam assumir esse projeto. Após
alguns meses, o irmão Johan da Portas Abertas nos visitou e, como se fôssemos
amigos há tempos, a ideia desse projeto nasceu. Ele solicitou que enviasse uma
proposta para a gerência da Portas Abertas Internacional e eu o fiz. Semanas
mais tarde, nós estávamos iniciando o projeto, e eu estava realmente motivado
pela porta que o Senhor abriu, uma porta que eu não esperava. Nesse caso, o
Senhor realmente abriu as portas, por meio da Portas Abertas. Como o Senhor te preparou para iniciar e
finalizar a produção de A Cry from Iran por meio de experiências da vida que te
conduziram para dirigir esse projeto? Eu penso que foi um processo de
restauração bem como de desafio para nós. Eu queria fazer esse projeto desde o
martírio de meu pai, mas é como se Deus quisesse que estivéssemos
emocionalmente preparados. Esse período de tempo nos deu a oportunidade de nos
encontrarmos nos braços do Senhor novamente, para estarmos certos de que foi
nos dado tempo para sermos treinados e para que adquiríssemos habilidades
necessárias para nos desligar emocionalmente desse projeto. Isso também nos
permitiu considerar os Estados Unidos para viver e trabalhar. Como foi reviver
e filmar os eventos que envolveram o assassinato de seu pai? Houve momentos em
que você e seu irmão sentiram que não seria possível dar continuidade ao
projeto? Como eu compartilhei no documentário, ver meu pai totalmente
ensanguentado deixou-me em choque, como uma foto na minha mente que causou
efeitos por longo tempo. Mas sempre confiei que o Espírito Santo é o poder que
ajuda a superar qualquer coisa, mesmo as piores tragédias. Na noite antes da
filmagem do martírio, eu estava nervoso, mas dediquei mais tempo orando e
focando nos resultados que o filme poderia ter. Eu olhava para o futuro mais do
que para o passado.No dia de filmar a cena do assassinato, quando o responsável
pela maquiagem estava preparando a camisa ensanguentada nas cicatrizes de faca
e golpes no corpo, eu de repente percebi que meu irmão André Hovsepian sumiu.
Eu procurei por ele, e alguns minutos mais tarde o encontrei no banheiro com
lágrimas nos olhos. O ator que fez o papel de meu pai naquela cena era
exatamente como ele. E a maquiagem foi cuidadosamente preparada para ser fiel
às contusões que ele sofreu, cicatrizes e golpes conforme as fotos originais do
assassinato. Era como se nós tivéssemos visto o martírio de meu pai naquele
momento, diante dos nossos olhos. Qual foi o maior obstáculo que você enfrentou
durante o processo de filmagem e como você superou isso? Nós enviamos um
equipamento especial de filmagens para um amigo no Irã. Então ele faria algumas
das filmagens lá, porque nós precisávamos de algumas cenas no formato HD. Essa
pessoa filmou quase tudo o que foi solicitado, mas, um pouco antes de nos
enviar a filmagem, ele se envolveu com trabalhos evangelísticos e outras
atividades da igreja. Tivemos que esperar ansiosamente para que eles pudessem
nos ajudar, pois era o único contato de trabalho. Infelizmente ele não pôde nos
ajudar a tempo e tivemos que usar a filmagem em SD para cobrir a parte que
precisávamos. Qual foi a lição mais significativa que Deus te ensinou, em seu
lado pessoal, durante a filmagem de A Cry from Iran? Que Ele é fiel a mim agora
e sempre será. Ele permitiu que eu pudesse realizar o desejo do meu coração de
fazer esse filme. Ele me ensinou a confiar Nele em todas as circunstâncias de
minha vida. E, finalmente, por meio desse filme, Ele permitiu mais uma vez que
eu vivesse com meu pai, quadro a quadro, e me deixou ver o herói que ele foi, e
ter a certeza de que eu vou me encontrar com ele novamente no céu. A história
do acidente de carro, onde seus pais perderam seu primeiro filho, que na época
era o único, e o casal de missionários que estava com eles que perdeu os três
filhos, foi extremamente comovente. Como seus pais falavam com vocês desse
assunto? Considerando que eu nasci quatro anos após o acidente, eu vi a reação
durante muito tempo. No entanto, sempre que o nome do meu irmão era citado,
sempre vinha acompanhado de referências ao céu, e como em breve iríamos
encontrá-lo lá. Ele seria quatro anos mais velho do que eu; muitas vezes
calculávamos quantos anos ele teria. Mas, geralmente, meus pais eram calmos
sobre esse assunto, o que fez com que eu percebesse como o céu era muito
próximo para eles. Pela sua estimativa, quantas pessoas foram tocadas
diretamente por seu pai, por seu testemunho de vida, de pregação, ensinamento e
trabalho social? Eu acredito que no mínimo alguns milhares. Isso no tempo em
que a Igreja não era grande. Mas muitas pessoas, mesmo no oeste, foram
abençoadas por seus sermões e suas conferências pelo mundo. Muitos muçulmanos
no Irã, nas regiões de terremoto, foram abençoados por sua ajuda. Os refugiados
curdos também foram abençoados por sua ajuda. Quantos membros de sua família (irmãos, tios
etc.) são pastores, apesar do que aconteceu com seu pai? Todos os irmãos de meu
pai (meus três tios) são pastores. E minha família por completo está de alguma
forma envolvida com a pregação do evangelho. Meus dois irmãos e eu não temos o
título de pastor, mas nos últimos anos nós temos pregado na TV via satélite.
Algumas vezes pregamos e compartilhamos a mensagem em diferentes mídias,
tornando-a mais atrativa e fácil de comunicar aos iranianos e para o mundo de
língua farsi. Como as pessoas nos Estados Unidos, cristãos e não cristãos,
reagiram em relação ao filme? Além de nossas expectativas. Naturalmente, os
cristãos encontraram grande inspiração para sua fé e caminhada com o Senhor por
meio dessa história. Eles têm sido desafiados na fé, no perdão, na missão e no
cuidado com as áreas de perseguição no mundo. Esse filme tem sido visto
constantemente em pequenas e grandes igrejas do mundo como uma ferramenta para
a igreja local. Algumas igrejas têm nos convidado para compartilhar após
assistir o filme. A TBN já veiculou o filme oito vezes, e milhões de pessoas
foram tocadas. Os não cristãos têm sido profundamente tocados pelo filme e
alguns já se converteram por meio dele. Vale a pena mencionar que os muçulmanos
pelo mundo, incluindo o Irã, têm amado o filme, e alguns deles distribuem o
filme pela vizinhança. Eles não consideraram este filme uma ameaça, ataque, ou
vingança ao Islã, mas uma mensagem de amor e sacrifício. Eu tenho sido
convidado por vários canais de TV e programas de rádio de comunidades
muçulmanas e sou bem recebido por eles. Como é a condição do cristianismo no
Irã atualmente? Como os cristãos ocidentais podem orar pelos cristãos do Irã?
Como podemos orar pelos muçulmanos no Irã? Eles estão sedentos por conhecer
Jesus. Enquanto o governo e os líderes fanáticos ainda criam problemas para
qualquer pessoa cruzar a linha da religião, a média dos muçulmanos mostra
grande abertura para ouvir sobre a Bíblia e sobre Jesus Cristo. O número de
cristãos no Irã não é exato, mas está na faixa de milhares e milhares. Nós no
oeste precisamos orar pela proteção de Deus e força para suas vidas. Nós
precisamos orar pedindo sabedoria de Deus, para que saibam como compartilhar
sua fé em um país que na superficialidade está tão perto do evangelho, mas no
fundo está completamente aberto a ele. Nós também precisamos orar pelos
muçulmanos no Irã, sabendo que eles desejam encontrar a verdade. Eles merecem
ter um relacionamento com o Deus vivo. Nós precisamos orar para que o Santo
Espírito toque seus corações e abra suas mentes, para que reconheçam a verdade
entre as mentiras, pois eles têm sido enganados por décadas. Quando sua família
se mudou do Irã para os Estados Unidos? Por que vocês decidiram deixar o Irã? Nós
mudamos seis anos após o martírio de meu pai, no ano 2000. Depois que tudo
passou, e de tudo o que havíamos feito por anos após a morte de meu pai para
fortalecer e encorajar a igreja, sentimos que era o tempo para nós virmos para
os Estados Unidos. Aqui, minha mãe pode estar com sua família, pois não tinha
parentes no Irã. Outro forte motivo para deixar o Irã foi para que pudéssemos
servir no campo por meio da mídia da melhor forma, devido a todas as
limitações. Hoje, o resultado de nosso ministério pela TV por satélite para o
Irã mostra que foi válida a nossa decisão em 2000. Seria possível produzir A
Cry from Iran se ainda estivessem morando no Irã? Não, de forma alguma. Com o
controle governamental e o nível de perseguição, não haveria uma opção que
pudesse passar pela nossa mente. A distância do país e o fato de fazermos o filme
independentemente fez com que não tivesse ligação alguma entre o filme e a
igreja local do Irã, anulando qualquer tipo de perigo ou ameaça para eles. Qual
é o próximo projeto da JFA Produções? Céu e inferno – um filme característico
adaptado para os iranianos. Nós ainda estamos discutindo se precisaremos ou não
de ajuda para fazer algo similar em inglês. Nós estamos trabalhando no roteiro
do filme e esperamos encontrar recursos que irão prover as necessidades para
iniciar a produção. Por outro lado, estamos produzindo vídeos musicais
cristãos, curtas e programas para a juventude, e algumas outras mídias de
pacotes de discipulados para o crescimento das células nos lares do Irã.
Algumas de nossas produções podem ser vistas previamente no site www.JFAproduction.com. Deixe o seu comentário:
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