MAIS MÉDICOS: A ORDEM ERA IGNORAR A DIPLOMACIA DO PAÍS – ÁUDIO DE REUNIÃO NO MINISTÉRIO DA SAÚDE REVELA QUE A DIPLOMACIA OFICIAL ERA EXCLUÍDA DAS DECISÕES SOBRE A CONTRATAÇÃO DE MÉDICOS CUBANOS
O
áudio de uma reunião realizada no dia 13 de julho de 2013 nas dependências do
Ministério da Saúde revela os bastidores das negociações entre Brasil e Cuba
que deram origem ao programa Mais Médicos. A gravação completa, de 44 minutos e
59 segundos, que foi obtida pelo ‘Jornal da Band’, diz muito sobre as práticas
do governo da presidente Dilma Rousseff. Além
dos trechos já divulgados, como os que mostram os funcionários do Ministério da
Saúde e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) discutindo como burlar a
obrigação de submeter ao Congresso Nacional o acordo bilateral entre Cuba e
Brasil, há outros, ainda inéditos, que revelam o desprezo do governo pelos
ritos da diplomacia formal e o poder que Marco Aurélio Garcia, assessor
especial para Assuntos Internacionais da Presidência, angariou nessa área. Em
um trecho da conversa, a representante da Opas, Maria Alice Barbosa Fortunato –
que foi indicada para a função pelo então ministro da Saúde Alexandre Padilha –
sugere que o Ministério das Relações Exteriores seja ignorado na discussão do
plano para acobertar o verdadeiro objetivo do convênio com a Opas: ocultar o
fato de que a contratação de médicos cubanos era um acordo bilateral entre
Brasil e Cuba. O então assessor jurídico do Ministério da Saúde, Jean Uema,
afirma na gravação que o Itamaraty pode reclamar e pergunta se todos estão
dispostos a ignorar a pasta. E, como prova de que o Itamaraty não teria poder
para atrapalhar o acordo, Uema afirma que “o programa é da Dilma”. O Mais
Médicos foi um dos mais importantes elementos da campanha de reeleição da
presidente, apesar de seu impacto no atendimento à população ter sido
amplamente exagerado. Os participantes aceitam a sugestão de Uema e tratam com
desdém os servidores do Itamaraty. O então chanceler Antonio Patriota é chamado
de “Cabelinho” por Kleiman e Maria Alice, que afirma não confiar no ministro
para a realização da operação que eles desenhavam clandestinamente. Kleiman revela
que Marco Aurélio Garcia tratou dos termos do acordo bilateral diretamente com
os cubanos.
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