‘VENEZUELA DESRESPEITA DIREITOS HUMANOS’, DIZ ANISTIA INTERNACIONAL - SEGUNDO RELATÓRIO DA ONG DIVULGADO NESTA TERÇA EM MADRI, O PODER JUDICIÁRIO DO PAÍS NÃO É INDEPENDENTE E SOFRE INTERFERÊNCIAS DO GOVERNO LIDERADO PELO PRESIDENTE NICOLÁS MADURO
A
Anistia Internacional (AI) denunciou nesta terça-feira (24) que continuam
impunes as violações de direitos humanos nos protestos ocorridos na Venezuela
no ano passado, destacando que o sistema judiciário do país sofre interferência
do presidente Nicolás Maduro. Essas são algumas das conclusões do relatório
‘Venezuela, os rostos da impunidade’, que o órgão apresentou nesta terça-feira
(24) em Madri. O estudo, realizado entre fevereiro e julho de 2014, documenta
43 mortos, 878 feridos e 3.351 presos durante as manifestações contra o governo
da Venezuela no ano passado. Outras 27 pessoas ainda estão à espera de
julgamento. O relatório faz referência também a prisão, no último dia 19
fevereiro, do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, “em circunstâncias que
sugerem motivação política”. Entre os presos que aguardam julgamento, a AI
detalhou cinco casos e “pôde constatar que estão detidos arbitrariamente”, entre
eles Leopoldo López, líder do partido de oposição Vontade Popular, Daniel
Ceballos, prefeito de San Cristóbal, e Rosmit Mantilla, ativista LGBT. Ao longo
de suas 47 páginas, o documento recolhe 21 testemunhos chocantes de abusos
cometidos nos protestos de fevereiro a julho de 2014. “Nos colocaram em posição
fetal, ajoelhados e nos espancaram, nos espancaram, nos espancaram. Um guarda
saiu e disse que nem se rezássemos ao maldito Deus iam nos salvar, que este era
nosso último dia. Baixaram minha cueca e colocaram algo por trás”, relata Juan
Manuel Carrasco, de 21 anos, detido em 13 de fevereiro em Valencia, no norte.
Em alguns casos, “as forças de segurança torturaram os detidos com corrente
elétrica no corpo, asfixia com saco plástico na cabeça e queimaduras com
objetos pontiagudos”, afirma o documento, produzido após meses de entrevistas
com mais de 100 vítimas, advogados, defensores dos direitos humanos e
testemunhas. O diretor da AI na Espanha, Esteban Beltrán, afirmou que as
instituições da Venezuela precisam de uma clara orientação “rumo à
independência e à imparcialidade”. “Qualquer governo ou instituição que
estabeleça interlocução com o governo da Venezuela deve colocar o respeito aos
direitos humanos no centro da agenda, incluindo que não haja impunidade frente
aos graves abusos ocorridos no país”, acrescentou, destacando a importância de
a Venezuela voltar à Corte Interamericana e aceitar as visitas de inspeção das
Nações Unidas. O relatório recomenda que “as pessoas detidas sejam libertadas
sem demora”, que “as autoridades garantam o direito a todas as vítimas de
violações de direitos humanos à Justiça e a uma reparação adequada”. Além
disso, pede que o governo pare de usar as Forças Armadas para controlar a ordem
pública. A AI alerta que, com a falta de compromisso do governo venezuelano com
os direitos humanos, novos casos podem voltar a ocorrer, especialmente no atual
contexto de crescente descontentamento social.
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