QUAL O RISCO DE UM ATENTADO TERRORISTA DO ESTADO ISLÂMICO NO BRASIL? GUGA CHACRA É COMENTARISTA DE POLÍTICA INTERNACIONAL DO ESTADÃO E DO PROGRAMA GLOBO NEWS EM PAUTA EM NOVA YORK. NA ÚLTIMA QUARTA-FEIRA (25), ELE PUBLICOU UMA ANÁLISE SOBRE A POSSIBILIDADE DE UM ATAQUE DO ESTADO ISLÂMICO (EI) NO BRASIL. CONFIRA A SEGUIR
Existe
risco de terrorismo no Brasil? Claro que sim. Nenhum lugar do mundo está imune
a um atentado. Mas a probabilidade de uma pessoa morrer em um ataque terrorista
no território brasileiro hoje é próxima de zero. Afinal, nunca ocorreu uma ação
destas no país e nem mesmo tentativas (falo do terrorismo atual, com a religião
por atrás). Isso não significa que não irá ocorrer. O risco de um homicídio não
é bem maior do que de terrorismo? É infinitamente mais provável que um
brasileiro seja morto em um homicídio. Com 56 mil assassinatos ao ano, o Brasil
apenas perde da Síria em mortes violentas se compararmos com os países do
Oriente Médio. Um diplomata de uma nação desta região me disse estar complicado
convencer outros diplomatas a irem viver em Brasília, São Paulo ou Rio, em
consulados ou embaixadas, porque eles temem a violência no território
brasileiro. Por que não dá para descartar 100% o risco de um atentado? Porque o
Estado Islâmico está perdendo a guerra no Iraque e na Síria. Para buscar
mostrar que não está enfraquecido, talvez tente atentados em outras partes do
mundo. O Estado Islâmico já fez ataques terroristas fora do Iraque e da Síria? Devemos
lembrar, no entanto, que o Estado Islâmico, ao contrário da Al Qaeda, não tem
organização para ataques terroristas globais. Até hoje, cometeu apenas um fora
do Iraque e da Síria – justamente o da Tunísia. Segundo analistas, com as
derrotas que vem sofrendo nos campos de batalha, isso pode mudar. Quem poderiam
ser os terroristas brasileiros? No Brasil, a tradicional comunidade muçulmana
vinda do Líbano e também da Síria é super bem integrada e sem relação com o
Estado Islâmico e a Al Qaeda. É quase impossível um muçulmano brasileiro com
esta origem se envolver em terrorismo. Os muçulmanos brasileiros são médicos,
engenheiros, professores, advogados, comerciantes, industriais e até surfistas
e lutadores de jiu-jitsu. São exatamente iguais aos evangélicos, aos católicos,
aos judeus e ateus. Torcem para o Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo.
Votaram no Aécio e na Dilma. Voam de TAM e de GOL. Comem arroz e feijão, e
também macarrão, quibe e esfiha. Existe, porém, um número pequeno (minúsculo,
possível de contar nos dedos) de convertidos ao islamismo que adotam discursos
radicais e o Estado Islâmico, por meios das redes sociais, talvez tente
cooptá-los. Antes de perguntarem, lembro que o Hezbollah é xiita e um dos
maiores inimigos do Estado Islâmico e da Al Qaeda no mundo. Seria um ataque de
lobo solitário? Ainda que o Estado Islâmico consiga convencer alguém no Brasil
a cometer um ataque terrorista, não veremos mega atentados como o 11 de
setembro, metrô de Londres, boate em Bali ou trens de Madrid. Mas podem ocorrer
ações de lobos solitários, bem mais difíceis de serem impedidas, como vimos no
mercado kosher de Paris e, depois, na Dinamarca. Devemos ter medo do atentado? Resumindo,
ninguém precisa deixar de dormir à noite com medo de um ataque terrorista no
Brasil. Os EUA, um alvo infinitamente maior do que o Brasil para o terrorismo,
desde o 11 de setembro, foi alvo de apenas um atentado. Isso não significa que
as autoridades brasileiras devam ignorar o risco. Devem, especialmente com a
Olimpíada, ficar de olho em possíveis terroristas dentro do país ou que possam
cruzar a fronteira. O artigo não expressa a opinião da Portas Abertas Brasil e
serve apenas como informação de interesse público.
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