AGÊNCIA CHINESA SERIA RESPONSÁVEL PELO ENVIO DE ‘ESCRAVOS’ AO BRASIL OPERAÇÃO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO EM LANCHONETES E PASTELARIAS BUSCOU E ACHOU INDÍCIOS DE TRABALHO ESCRAVO
Auditores do Ministério do Trabalho que investigam o suposto uso de
trabalho escravo de chineses em pastelarias do Rio de Janeiro apuraram que uma
agência na província de Guangdong, no sul da China, seria responsável pelo
envio dos profissionais ao Brasil. Segundo a auditora Márcia Albernaz, a
agência é ligada a uma espécie de máfia baseada na comunidade chinesa no
Brasil, que atuaria especialmente em São Paulo. Desde 2014, seis chineses foram
encontrados em situação análoga à escravidão no Rio. Na semana passada, uma
operação em lanchonetes buscou indícios de trabalho escravo. Levou alguns
chineses para prestar depoimento, com ajuda de tradução. As informações sobre a
agência de Guangdong e seu modo de operação constam do depoimento de Tangzi
Jan, de 21 anos, considerado “esclarecedor” pelos auditores. Ele contou que
está no Brasil há três anos – dois foram em São Paulo. Seu passaporte foi
mandado para a China e está com os pais. Não “precisa” do documento (de posse
obrigatória para estrangeiros no País), disseram-lhe. Veio após ser convidado
por um “amigo”, que seria filho do dono de uma pastelaria em São Paulo. Para
vir para o Brasil, Jan procurou a agência, no sul do país. O serviço era
anunciado por meio de uma placa. Após o pagamento, a empresa teria se
encarregado dos custos da viagens e dos trâmites para que Jan chegasse a São
Paulo. O rapaz admitiu que atualmente não recebe holerite e vive com o chefe,
mas tem a chave do local. Sua situação atual não foi considerada análoga à
escravidão pelos auditores do Ministério do Trabalho. Suspeita, porém, que ele
tenha sido submetido a regime de trabalho escravo quando estava em São Paulo.
Atualmente, trabalha em Vila Isabel, bairro da zona norte da capital
fluminense. No mesmo dia em que a lanchonete onde Jan trabalha foi fiscalizada,
dois chineses foram flagrados em situação análoga à escravidão em uma
pastelaria no Centro do Rio. Eles viviam no próprio estabelecimento, em más condições de higiene
e salubridade, e não tinham documentos. Duas carteiras de trabalho foram
expedidas em caráter imediato para ambos. O empregador se comprometeu a pagar
R$ 33 mil para cada em dívidas trabalhistas. À auditora, um desses trabalhadores,
Mai Jiam Bo, de 23 anos, admitiu em depoimento que fica com apenas R$ 300 de um
salário de R$ 1,5 mil. O resto é enviado diretamente, pelo patrão, para os pais
do jovem, na China. Ele também veio da província de Guangdong. Márcia Albernaz
ressalta que as ações estão no início e acredita que o apoio dos trabalhadores
brasileiros dessas lanchonetes, como ocorreu na fiscalização da última
sexta-feira, pode aumentar o número de denúncias. Ela espera “robustecer as
provas” e entregar um relatório ao Departamento de Erradicação do Trabalho
Escravo, que fica em Brasília e é subordinado à Secretaria de Inspeção ao
Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego. “Começou a se fazer aqui no Rio o
que foi feito em São Paulo com os imigrantes bolivianos”, observa a auditora.
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