QUATRO PRINCÍPIOS BÍBLICOS PARA SE ENTENDER A BATALHA ESPIRITUAL - BATALHA ESPIRITUAL - AUGUSTUS NICODEMUS LOPES
As igrejas históricas do mundo todo têm sido desafiadas nestas últimas
três décadas a dar respostas às ênfases de um movimento dentro das
suas fileiras que ficou conhecido como "movimento d e ‘batalha espiritual’". O
nome em si já sugere do que se trata: é um movimento cuja ênfase maior é
na luta
da Ig reja de Cristo contra Satanás e seus demônios, conflito este de natureza
espiritual, quanto aos métodos, armas, estratégias e objetivos.
Esse crescente interesse em círculos evangélicos por Satanás, dem ônios,
espíritos malignos, e o misterioso mund o dos anjos, corresponde ao surto de
misticismo atual, um interesse crescente no mundo nos dias de hoje
pelos anjos maus e bons, e pelo oculto. Mas não somente no mund o,
dentro da própria igreja cristã assistimos o crescimento vertiginoso da
busca pelo miraculoso e sobrenatural, na
esteira do neopentecostalismo.
Por
neopentecostalismo quero dizer aq ueles movimentos surgidos em décadas
recentes, que são desdobramentos do pentecostalismo clássico do início
do século, mas que abandonaram algumas de suas ênfases características
e adquiriram marcas próprias, como ênfase em revelações diretas,
curas, batalha espiritual, e particularmente uma maneira de encarar a
realidade espiritual.
Esse movimento é caracterizad o por um a leitura das Escrituras e
da realidade sempre em termos da ação sobrenatural de Deus. Deus é
percebido somente em termos de sua ação extraordinária. Assim, para o
neopentecostal típico, Deus o guia na vida diária através de impulsos, sonhos,
visões, palavras proféticas, e dá soluções aos seus prob lemas sempre de
forma miraculosa, como libertações, livramentos, exorcismos e curas. A
doutrina que caracteriza, mais que qualquer outra, as igrejas evangélicas no
Brasil hoje, é a crença em milagres. É claro que não estou dizendo que crer
em milagres seja errado. O queestou dizendo é que, na hora em
que a crença em milagres contemporâneos e diários
passa a ser a característica maior da igreja evangélica, algo está
errado.
A hermenêutica sobrenaturalista do neopentecostalismo representa um providência de Deus. Partindo das Escrituras, os reformados usam o termo
providência para se referir à ação de Deus, pelo seu Espírito, ag indo no mundo
através de pessoas e circunstâncias da vida para atingir seus propósitos. Esses
meios não são intervenções miraculosas ou extraordinárias de Deus na
vida humana, mas simplesmente meios naturais
secundários. Os calvinistas reconhecem que Deus
intervém miraculosamente neste mundo, mas sempre em regime de exceção.
Normalmente, ele age através dos meios naturais.
O neopentecostalismo, por enfatizar a ação sobrenatural e miraculosa de
Deus no mundo (a qual não negamos, diga-se), acaba por negligenciar a
importância da operação do Espírito Santo através de meios secundários
e
naturais. Essa neg ligência torna-se mais séria quando nos conscientizamos que
o Espírito normalmente trabalha através de meios secundários e naturais para
salvar os pecadores. Acredito não ser difícil de provar que a esmagadora
maioria dos cristãos foram salvos através de meios naturais – como o
testem unho de alguém, a leitura da Bíblia, a pregação da Palavra – e
não através de intervenções miraculosas e extraordinárias, como foi a
conversão
de Paulo.
Como resultado do sobrenaturalismo neopentecostal, as igrejas
reformadas por ele afetadas tendem a considerar os meios naturais
como sendo espiritualmente inferiores. Um bom exemp lo é a tendência de
considerar
o tom ar reméd ios como falta de fé por parte do crente adoentado. Um outro
resultado é a diminuição d a pregação do Evangelho como meio de
salvação dos pecadores, e a ênfase na realização de como meio evangelístico.
Assim, a obra do Espírito na Igreja e no mundo através dos meios naturais
secundários
é negligenciada, com graves e perniciosos efeitos nas vidas dos que abraçam a
cosmovisão neopentecostal.
As conseqüências desta maneira de ver a realidade espiritual são sérias
para a área do conflito da igreja contra as hostes das trevas, pois a concebe
apenas em termos do sobrenatural, negligenciando o ensino bíblico de
que Satanás procura atingir a Igreja de Cristo através da carne e do
mundo – meios que não são necessariamente sobrenaturais.
Conquanto devamos dar as boas vindas a todo e qualquer movimento na
Igreja que venha nos ajud ar a melhor nos preparar para enfrentar os ataq ues
das hostes malignas contra a Igreja, este movimento p olêmico tem
trazido alg umas preocupações sérias a pastores, estudiosos e líderes
evangélicos no mund o tod o, não somente das ig rejas evangélicas históricas,
como até mesmo
de ig rejas pentecostais clássicas.(1) Mesmo organizações internacionais, como
o Comitê de Lausanne para Evangelização Mundial, têm expressado suas
preocupações com os ensinos deste movimento, numa declaração do seu
Grupo de Trabalho feita em 1993, em Londres.(2)
Existem várias razões para essa preocupação. Uma delas é que o
movimento, onde tem ganhado a adesão de pastores e comunidades,
tem produzido um tipo de cristianismo em que a atividade satânica se
tornou o centro e mesmo a razão de ser da existência destes
ministérios e igrejas.Nestes casos, embora geralmente as doutrinas fundamentais da fé cristã não
tenham sido negadas (há exceções), elas são, via de regra, relegadas a planosecundário, desaparecendo do ensino e da liturgia. O que resulta é um
cristianismo distorcido, deformado, onde doutrinas como a salvação pela
fé somente, mediante o sacrifício redentor, único e expiatório de Cristo.
A doutrina da pessoa de Cristo, sua mediação e ofícios, e doutrinas como a
da queda, da depravação do homem, d a santificação progressiva
mediante os meios de graça, são negligenciadas. Não é que estas igrejas e os
proponentes do movimento neguem necessariamente estes pontos; mas
certamente não lhes dão a ênfase necessária e devidas, que recebem nas
próprias Escrituras.
O fato é que o movimento de "batalha espiritual" tem produzido o
surgimento de novas igrejas (e mesmo denominações) cujo ministério principal
é a expulsão de demônios e a "libertação" de crentes e descrentes da opressão
demoníaca a todos os níveis (espiritual, moral e física, bem como geográfica,
estrutural e social). Mas não som ente isto — as idéias e práticas
difund idas pelo movimento tem se infiltrado nas ig rejas históricas, cativando
muitos dos seus pastores, oficiais e membros.
O objetivo desse capítulo é apresentar alguns princípios bíblicos
pelos quais os evangélicos em geral, e presbiterianos em particular, poderão
orientar sua com preensão acerca de tema tão atual e polêmico.
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