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MINISTÉRIO EM DEFESA DA FÉ APOSTÓLICA


PASTOR SERGIO LOURENÇO JUNIOR - REGISTRO CONSELHO DE PASTORES - CPESP - 2419

METODISMO NA INGLATERRA, NOS ESTADOS UNIDOS E NO BRASIL

Talvez a primeira coisa a estabelecer é que o Metodismo faz parte integrante do movimento Protestante. Somos herdeiros da Reforma, mediante a Igreja da Inglaterra, cujos Trinta e Nove Artigos formam a base dos Artigos de Religião do Metodismo e cuja liturgia (O Livro de Oração Comum) exerceu muito mais influência na liturgia metodista do que muitos metodistas imaginam. Podemos dizer que o Metodismo aceitou as três colunas principais da Reforma, a saber: — A autoridade das Escrituras, — a Justificação pela Fé — e o Sacerdócio Universal dos crentes Ou seja, aceitou os pelos Três “P" da Reforma Protestante: Palavra, Perdão e Povo. Tendo dito isso, temos que notar que, pela ênfase wesleyana na Santificação e Perfeição Cristã, o Metodismo também tem uma afinidade básica com o Catolicismo. Aliás, alguns estudiosos do Metodismo consideram essa ênfase dupla de JUSTIFICAÇÃO/SANTIFICAÇÃO uma de nossas principais características (vejam, por exemplo, W. Hinson, A Dinâmica do Pensamento de Wesley. Assim, podemos pensar em mais um "P", a Perfeição Cristã, cuja essência é perfeição em amor. I. O METODISMO NA INGLATERRA NO TEMPO DE WESLEY: CINCO CHAVES PARA COMPREENDER NOSSA HERANÇA METODISTA Nesta parte, ao invés de tentar contar uma história do movimento metodista na Inglaterra do século XVIII, o século de Wesley, tentaremos detectar algumas características chaves que nos poderão ajudar a compreender este movimento, do qual nós metodistas brasileiros somos herdeiros. 1. A experiência religiosa de Aldersgate. É quase inevitável começarmos no dia 24 de maio de 1738. A famosa experiência de João Wesley numa reunião à Rua Aldersgate, em Londres, a exemplo de Martinho Lutero, na torre de Wittenberg, marcou o cIímax de uma longa busca de um relacionamento satisfatório com Deus em Cristo. Qual é o sentido desse evento? Pela descrição do próprio Wesley, os metodistas têm, tradicionalmente, enfatizado o "coração quente". E certamente a emoção fez parte da experiência; afinal, o ser humano não é só cérebro, mas os sentimentos e emoções lhe são molas de ação. Mas uma das coisas mais importantes da descrição do próprio Wesley sobre sua experiência em "Aldersgate" é que houve uma íntima ligação entre sua experiência religiosa e a sua doutrina. Uma outra maneira de dizer a mesma coisa seria dizer que a compreensão doutrinária de Wesley (muito embora profundamente fundamentada na Palavra de Deus) surgiu de sua experiência. Teologia, em Wesley, não é algo distante, especulativo, divorciado da vida; pelo contrário, ela nasce da vida religiosa, ou seja, da experiência da salvação. É uma teologia que nasce da oração e da experiência de Deus e uma oração que brota da sua teologia. Por isso vale a pena estudarmos o registro de Wesley sobre o que aconteceu no dia 24 de maio. Podemos fazer isso em poucas linhas, mas cada uma poderia fornecer matéria para uma boa discussão. a) A experiência de Wesley nasceu da Palavra de Deus. Alguém lia do Prefácio de Lutero à Epístola aos Romanos. Foi no momento que Wesley ouviu da "mudança que Deus opera no coração pela fé em Cristo" que ele experimentou a fé! Confirmou o que Paulo dissera que "a fé é pelo ouvir e o ouvir pela palavra de Deus" (Rm 10.17). b) A experiência foi fundamentalmente o dom da fé. Mas Wesley aprendeu, com Lutero, de que consiste a verdadeira fé — é confiança (não crença). "Senti que confiava em Cristo, Cristo tão somente para minha salvação...". Fé, então, é confiar a vida nas mãos de Cristo, estabelecer aquele relacionamento pelo qual Cristo se torna Senhor e Salvador pessoal. c) Com o ato de confiar sua vida a Cristo, estabelecendo um novo relacionamento, Wesley foi perdoado (o que Lutero chamava de "justificação pela fé", conforme Rm 1.17), ou seja, percebeu que Cristo havia tirado seus pecados — não era apenas" o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29), mas o Salvador que tirava concretamente os pecados de João Wesley (e os nossos!). d) Daquilo que Cristo lhe fizera, o Espírito Santo testificou (cf. Rm 8.16), pois no mesmo momento "uma segurança" lhe foi dada de que Cristo havia tirado seus pecados e o havia salvado "da lei do pecado e da morte". e) Só? Não, há mais! Wesley diz que começou a orar pelos inimigos e perseguidores! Sem mencionar o Novo Nascimento, Wesley demonstrava nesta nova capacidade de perdoar que Deus não havia apenas lhe perdoado, mas também transformado o seu íntimo. Como nós cantamos: "Tu não somente perdoas, purificas também, ó Jesus". Concluímos, então, nesta primeira parte, com a afirmação, que uma das principais características do metodismo wesleyano era, ao invés de uma teologia especulativa, uma íntima conexão entre a doutrina* e a experiência. 2. A segunda chave é a evangelização. Devemos lembrar que não foi apenas João Wesley que teve uma experiência religiosa transformadora em maio de 1738. Carlos Wesley, seu irmão, também recebera o dom da fé, no domingo anterior. Carlos traduziu sua experiência, que ocorrera no Domingo de Pentecostes, num hino que lembra as línguas de fogo do primeiro Pentecoste — "Mil Línguas eu Quisera Ter". Em certo sentido, enquanto João viajava por toda parte proclamando através da pregação as boas novas de vida nova em Cristo, Carlos Wesley também proclamava o evangelho através de seis mil e quinhentos hinos de sua autoria. Há certas características da evangelização wesleyana que deviam ser notadas. Primeiro, o século XVIII presenciou o nascimento de uma nova classe social, a dos operários. Os primeiros representantes dessa nova classe eram os mineiros. Oprimidos pelas longas horas de trabalho árduo e pelo baixo salário, os mineiros não eram levados em conta pela Igreja oficial, e poucos deles procuravam a mesma. A Igreja não os enxergava e eles não sentiam falta da Igreja.Foi aos mineiros de Kingswood e Bristol que os metodistas primeiro foram para lhes oferecer vida em Cristo! Mais tarde, com o crescimento das fábricas, os operários e operárias seriam objeto da mensagem metodista, e fariam parte integrante das sociedades e classes metodistas. Muito antes de a Igreja Anglicana tomar consciência da própria existência dessa nova classe, os metodistas já lhes ministravam. A segunda coisa a notar é que havia necessidade de descobrirem-se novos métodos e agências para atender a essa nova situação. A pregação ao ar livre provou ser o meio para atingir esta nova classe. George Whitefield e João Wesley pregavam aos mineiros ao saírem estes das minas, pois os mineiros não procuravam a Igreja. Nas praças de Londres, Bristol e Newcastle, os metodistas ofereciam Cristo ao público atônito com essa inovação! Mas se a pregação ao ar livre provou ser o instrumento, os agentes, muito mais do que ministros ordenados, passaram a ser os pregadores leigos. Desde a pregação do jovem leigo Tomás Maxfield, que trabalhava com João Wesley como "filho no Evangelho" no seu centro em Londres (a "Fundição") e que Susana Wesley considerava tão vocacionado como seu próprio filho João! — pessoas com "graça" (experiência pessoal de fé), "dons" (capacidade para proclamar claramente as boas novas) e "frutos" (resultados positivos da sua pregação em termos de despertamento e conversão) e que se dispunham não apenas a trabalhar nos lugares onde Wesley indicava, mas que se comprometiam a ler pelo menos seis horas por dia, militavam como "profetas" (proclamadores) sob a orientação de João Wesley. A terceira coisa a ser notada nesta evangelização metodista é sua estreita ligação com o serviço ao povo e à ação. Talvez baste lembrarmos que a última carta que o velho Wesley escreveu foi endereçada a William Wilberforce, encorajando-o na sua luta no Parlamento Inglês contra a escravidão. 3. A terceira chave: o povo João Wesley nunca teve a intenção de que o Metodismo passasse a ser uma nova Igreja; ele pretendia que fosse um movimento dentro da sua amada Igreja Anglicana (da qual nunca saiu) para seu despertamento e capacitação para o exercício da missão de Deus. A preocupação de Wesley era sempre o POVO e os seus seguidores, ele os chamava de "o povo chamado Metodista". Já vimos acima que deste povo Wesley conseguiu seus pregadores e pregadoras — pois Wesley permitia que mulheres como Mary Bosanquet pregassem. De Mary, Wesley dizia que sua palavra era tudo "luz" e fogo". Assim, Wesley descobriu um modo prático de expressar a doutrina de Lutero, o "Sacerdócio Universal do Crente". Mas a ênfase no povo não para com a pregação de leigos e leigas, por mais importante que fosse; o Metodismo via sua missão como uma obra realizada pelo povo e em prol do povo. É por isso que nos principais centros do metodismo wesleyano surgiram escolas, orfanatos, ambulatórios, fundos de empréstimo, centro de artesanato, etc. Foi por isso que Wesley e os metodistas lutavam contra a escravidão, que degradava e explorava o povo africano. Foi para poder servir ao povo que o próprio Wesley procurava ganhar todo o dinheiro possível, economizar o máximo — não para ficar rico, mas para ter recursos para "dar tudo possível". Por isso, já nos seus dias de professor em Oxford, ele havia economizado o dinheiro que normalmente teria gasto com carvão para sua lareira. Ele agüentava o frio dos invernos ingleses para ter dinheiro para pagar uma professora de uma classe de crianças pobres da cidade de Oxford. 4. A quarta chave é a ênfase na santificação/perfeição cristã. Para João Wesley, a santificação é um processo de crescimento em graça que começa no momento que, pela fé, Deus perdoa o pecador arrependido e inicia o processo da sua transformação íntima. A perfeição é um dom de Deus pelo qual aperfeiçoa sua obra no crente, enchendo-o de amor para com Deus e para com o próximo. A chave para entendermos a perfeição cristã é o AMOR. Wesley tinha muitos sinônimos para a perfeição, sinônimos estes que não inventou mas achou na Palavra de Deus. Perfeição é pureza de coração (Mt 5.8, Tg 1.27); é "imitação de Cristo" (Fp 2.5 ss); é comunhão ininterrupta com Deus e com seus propósitos (1Ts 5.16-18); mas mais do que qualquer outra coisa, é o amor (Mt 5.43-48; Mt 22.37-40; etc). O estudo do livro aos Hebreus o convenceu da absoluta necessidade de santidade na vida do discípulo de Jesus (especialmente Hb 12.10 e 14). Já Carlos Wesley ensinou aos metodistas a doutrina* através dos seus hinos, poucos dos quais chegaram a nós. Talvez a mais clara expressão da doutrina* se encontra no seu hino "Amor Divino que Excede todos os Amores" ("Grande Amor", o hino de número 293 do Hinário Evangélico). Infelizmente, quase toda a ênfase na perfeição cristã da letra do hino desapareceu na tradução feita do inglês para a língua portuguesa. A terceira estrofe ,numa tradução literal, diz o seguinte: "Vem, ó Todo-Poderoso para libertar Deixa-nos toda a Tua vida receber Volta de repente e nunca Nunca mais no templo abandones Queremos sempre Te abençoar E servir-Te como Tuas hostes no Céu Orar e louvar-Te sem cessar Gloriar-nos no Teu perfeito amor. Para Wesley, a Primeira Epístola de João é talvez o melhor comentário sobre a perfeição cristã. Nesta epístola, a ligação entre o amor e a vida cristã autêntica é patente. "Aquele que diz que está na luz, mas odeia seu irmão ainda está nas trevas até agora" (1Jo 2.9). O mesmo autor adverte: "Filhinhos, não amemos de palavras, nem de língua, mas por ações e em verdade" (1Jo 3.18), o que muito nos lembra de Tiago que questiona a fé daquele que nada faz em prol do irmão ou irmã sem roupa nem alimento (Tg 2.14-15). 5. Uma quinta chave é a ênfase missionária do Metodismo Wesleyano. Os metodistas definiram a razão de sua existência (ou o porque Deus ter levantado os metodistas) com o objetivo "reformar a nação, particularmente a Igreja, e espalhar a santidade bíblica por toda a nação". Acabamos de ver como os metodistas se viam impulsionados a levar as boas novas aos operários e aos pobres, geralmente negligenciados pela Igreja oficial. Mas havia também algo dentro do metodismo que o fez vencer as barreiras dos mares, pois logo ele é levado, espontaneamente, para Irlanda, Escócia, as Ilhas do Canal, para o Continente Europeu e para o Novo Mundo (para Antigua, no Caribe; para as colônias inglesas na América que viriam a ser os Estados Unidos; para Terra Nova, que é parte do atual Canadá). Aliás, uma Igreja que não é missionária é ou morta ou moribunda. Mas o Metodismo norte-americano constitui um novo capítulo.

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