PRIMÓRDIOS DO MOVIMENTO PENTECOSTAL
No ano de 1900, um pregador metodista influenciado pelo movimento de
santidade, Charles Fox Parham (1873-1929), criou um instituto bíblico na cidade
de Topeka, Estado do Kansas, na região central dos Estados Unidos. Há cerca de
dez anos ele vinha ensinando que a glossolalia – falar em línguas desconhecidas
ou estrangeiras – devia acompanhar esse batismo no Espírito Santo tão popular
nos círculos holiness. Por algum tempo, ele chegou a acreditar que os crentes
receberiam o conhecimento sobrenatural de línguas terrenas para que pudessem
rapidamente evangelizar o mundo antes da volta de Cristo. Já havia ocorrido a
manifestação de línguas em anos anteriores nos Estados Unidos, assim como em
outros períodos da história do cristianismo. A novidade na teologia de Parham é
que ele foi o primeiro a considerar o “falar em línguas” como a evidência
inicial do batismo no Espírito Santo. Foi essa característica que se tornou a
marca distintiva do movimento pentecostal. No dia 31 de dezembro de 1900,
Parham e seus alunos realizaram um culto de vigília em seu instituto bíblico
para aguardar a chegada do novo século. Uma evangelista de 30 anos, Agnes
Ozman, pediu que lhe impusessem as mãos para que ela recebesse o Espírito Santo
a fim de ser missionária no exterior. Ela falou em línguas, fenômeno esse que
se repetiu nos dias seguintes com metade das pessoas da escola, inclusive
Parham. Nos anos seguintes, Parham deu continuidade ao seu trabalho em várias
partes dos Estados Unidos e no Canadá, atraindo milhares de seguidores. Nessa
mesma época, ocorreu um movimento semelhante na Grã-Bretanha, que ficou
conhecido como “o grande avivamento do País de Gales”. O avivamento galês
despertou em muitos o desejo de que um episódio semelhante ocorresse novamente,
multiplicando-se as reuniões de oração nesse sentido. O movimento de Parham
recebeu diferentes nomes – fé apostólica, movimento pentecostal ou chuva tardia
– todos os quais apontavam para características marcantes da nova cosmovisão.
Uma das idéias centrais era o que se denomina “repristinação” ou
restauracionismo, isto é, o desejo de voltar aos dias iniciais do cristianismo,
aos primeiros tempos da igreja primitiva, idealizados como uma época de maior
fervor e plenitude cristã. Associada a isso estava a nova linguagem que dava
ênfase ao poder do Espírito, conforme manifesto entre os apóstolos através de
sinais e maravilhas. Essa linguagem passou a ser uma distinção importante entre
os dois movimentos: enquanto a tradição holiness dava maior destaque à
santidade ou santificação, o movimento pentecostal passou a privilegiar o
conceito de poder. O terceiro nome, “chuva tardia”, se tornou especialmente
significativo porque por meio dele os pentecostais puderam entender o seu relacionamento
tanto com a igreja apostólica quanto com o iminente final dos tempos. Dayton
explica a lógica interna do movimento: “O Pentecoste original do Novo
Testamento foram as ‘primeiras chuvas’, o derramamento do Espírito que
acompanhou a ‘plantação’ da igreja. O pentecostalismo moderno são as ‘últimas
chuvas’, o derramamento especial do Espírito que restaura os dons nos últimos
dias como parte da preparação para a colheita, o retorno de Cristo em
glória”. O mesmo autor observa que a estrutura da “chuva tardia” transforma
o maior problema apologético do pentecostalismo – sua descontinuidade com as
formas clássicas do cristianismo – em um valioso recurso apologético: “A longa
estiagem desde o período pós-apostólico até o tempo presente é vista como parte
do plano dispensacional de Deus para as eras”. Em suma, o pentecostalismo
foi entendido pelos seus primeiros simpatizantes como o derramamento final do
Espírito de Deus que iria preparar a igreja para o derradeiro esforço pela
evangelização do mundo antes da volta do Senhor.
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