CRISTÃOS EGÍPCIOS SE TORNAM ‘CATADORES DE LIXO’ EM BUSCA DE ASCENSÃO SOCIAL A COMUNIDADE CRISTÃ ENXERGA NA RECICLAGEM DE LIXO UMA CHANCE DE CONSEGUIR SUSTENTO FINANCEIRO EM MEIO À DISCRIMINAÇÃO RELIGIOSA E SOCIA
A comunidade de cristãos coptas, que forma um dos principais grupos
etno-religiosos do Egito, representa apenas 10% da população formada por mais
de 82 milhões de pessoas. Por outro lado, o grupo se tornou maioria num
singular subúrbio do Cairo: a Cidade do Lixo. Nessa região, os cristãos são
conhecidos como Zabaleen — um termo derrogatório para definir catadores de
lixo. Eles se estabeleceram em uma pedreira abandonada e, desde os anos 70,
coletam o lixo no Cairo de graça para receber um sustento através da
reciclagem. A triagem dos materiais que foram descartados é feita à mão, antes
de serem vendidos para a "indústria do lixo". Os resíduos são
pulverizados, derretidos e compactados até que sobre apenas material orgânico
em decomposição, que serve de alimento para porcos mantidos em conjuntos
habitacionais do local. Em meio aos entulhos de papéis e comidas podres, a
Cidade do Lixo se tornou um lugar de oportunidades. Os Zabaleen estão entre os
melhores recicladores do mundo, e o aumento da demanda mundial por materiais
reciclados fez com que novas empresas surgissem no local. É comum encontrar na
região alguns jovens empreendedores em ternos de grife e relógios caros. Muitos
deles têm diplomas, mas, na maioria dos casos, ter acesso à educação básica e
uma conta bancária já resolve. Adel é um desses jovens que, através dos
negócios de reciclagem, deixou Cidade do Lixo para morar em um condomínio de
luxo do Cairo. Ao abrir a porta de seu armazém para uma equipe da BBC, ele
mostra uma roda de plástico verde. "Fui o primeiro a comprar essa máquina
aqui. Ela transforma garrafas plásticas em espirais de encadernação. Agora,
recebo lixo do Egito inteiro", explica. Hoje, Adel vende seus produtos
reciclados ao redor do mundo, se tornou sócio de um ilustre clube do Cairo e
tem sua filha matriculada em uma escola particular de renome da cidade. Ainda
assim, socialmente, a posição de Adel é precária e discriminada. "Não tenho
vergonha de ser Zabal, mas espero que minha filha encontre outra
carreira".
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