A PIA DESIDERIA E A REFORMA DE SPENER QUE O EXEMPLO DE SPENER ECOE EM NOSSA MENTE, FAZENDO BROTAR EM NOSSOS CORAÇÕES DESEJOS PIEDOSOS E SINCEROS - EDUARDO VASCONCELLOS MINISTRO DISTRITAL NA IGREJA DO NAZARENO NO FAROL, EM MACEIÓ. POSSUI GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA, PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO E FAZ MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO DE IGREJA PELO SEMINÁRIO NAZARENO DE LAS AMERICAS (SENDAS/COSTA RICA). LECIONA NO SEMINÁRIO TEOLÓGICO NAZARENO DO BRASIL E NO SEMINÁRIO TEOLÓGICO BATISTA DE ALAGOAS, AMBOS EM MACEIÓ
A considerar as circunstâncias e as causas que motivaram a Reforma
Protestante em 1517, a História da Teologia e da Igreja reserva vários capítulos
para a biografia de homens zelosos que não se conformaram ao ver a congregação
levando uma vida piedosa insossa devido a um discurso falso do evangelho que
partia do púlpito. É certo que nem todos tiveram o reconhecimento ou a
notoriedade histórica de Martinho Lutero, por isso gostaria dedicar algumas
linhas a um desses deutero-reformadores. Trata-se de Phillip Jacob Spener,
teólogo luterano, que viveu pouco mais de 100 anos após o cisma da Igreja na
Europa. Spencer foi profundamente influenciado pela obra Verdadeiro
Cristianismo, de Johann Arndt, a qual fez leitura e prefaciou a convite de um
editor de Frankfurt. Nela, Arndt se preocupa com a união mística entre o crente
e Cristo, e esforça-se, chamando a atenção para a vida de Cristo em Seu povo,
para corrigir o lado puramente legal da teologia da Reforma, que prestou
atenção quase exclusiva à morte de Cristo por Seu povo. Spener, como era seu
costume, discutiu essa atribuição com seus colegas ministros e apresentou o seu
manuscrito em 1675. Suas observações, dedicadas a todos os funcionários e
pastores, ganhou aclamação imediata e depois de seis meses, ele publicou o
prefácio separadamente com o seu próprio título, a Pia Desideria ou “Desejos
Piedosos”. Neste trabalho, Spener respondeu às condições espirituais que
observou com um programa seis vezes maior de renovação da igreja. Sua principal
preocupação era o “mundanismo escandaloso” das igrejas e sua esperança de
renovação foi baseado na conversão de judeus ao cristianismo nos primeiros
séculos da igreja. A Pia Desideria é a declaração clássica do pietismo e Spener
é, por muitos, considerado o fundador desse movimento histórico. O pietismo
combinava o luteranismo do tempo da Reforma Protestante, enfatizando a
conversão pessoal, a santificação, a experiência religiosa, diminuição na
ênfase aos credos e confissões, a necessidade de renunciar o mundo, a
fraternidade universal dos crentes e uma abertura à expressão religiosa das
emoções[1] As igrejas da Alemanha, um século após a Reforma, estavam
enfraquecidas por causa da ênfase excessiva dada aos sacramentos e o clero,
freqüentemente, estava envolvido em disputas teológicas intermináveis. A
espiritualidade da membresia estava em baixa. Conforme relata Olson: No início
do século XVII, muito do protestantismo Europeu tinha caído em uma escolástica
seca, uma “graça barata” (para usar um termo de Dietrich Bonhoeffer, do século
XX), e a salvação sacramental era desprovida de qualquer necessidade de
arrependimento ou mudança de vida diária. O livro de Arndt desencadeou uma nova
paixão para a renovação espiritual interior e experiência com Deus para além do
intelectual e sacramental.[2] O trabalho de Spener está dividido em três
seções. Na primeira, o autor comenta sobre as condições políticas, econômicas e
religiosas no Luteranismo alemão. Ele é especialmente crítico da visão
contemporânea da Ceia do Senhor, confissão e absolvição. Ele observa o
desrespeito entre os cristãos para os problemas crescentes de consumo de bebida
alcoólica e adultério. Em uma segunda seção, Spener descreve sua esperança para
a melhoria da igreja. Embora possa não ser possível realizar o ideal, o autor
está convencido de que a igreja deve procurá-lo fervorosamente e sempre tentar
aproximar-se dele. Na terceira seção da Pia, Spener apresenta seis medidas
concretas para a reforma da igreja. Em resumo, são estas[3]: Uma tentativa mais
séria para disseminar a Palavra de Deus. Os pastores devem pregar toda a Bíblia
e os cristãos devem reunir-se em pequenos grupos para estudá-la. A doutrina
luterana do sacerdócio de todos os crentes deve receber uma nova ênfase. As
diferenças entre os leigos e o clero devem ser minimizadas. O clero, em
particular, deve reconhecer que sua vocação envolve o estudo da Bíblia –
exortando, redargüindo e consolando através da Palavra – e, uma vida santa
pessoal. Mais atenção deve ser dada para o cultivo da vida espiritual
individual. O amor a Deus e o homem deve ter prioridade sobre disputas
teológicas. O conhecimento é secundário para a prática. A verdade não é
estabelecida em disputas, mas através do arrependimento e uma vida santa. Os
candidatos para o ministério devem ser “verdadeiros cristãos”. O treinamento
deve incluir a participação em pequenos grupos para a vida devocional e estudo
pessoal da Bíblia. Sermões não devem mostrar erudição do pregador, mas a tentativa de
edificar os crentes e produzir os efeitos da fé. Este trabalho produziu uma
grande impressão em toda a Alemanha e, embora um grande número de teólogos e
pastores luteranos ortodoxos tenha sido profundamente ofendido por Spener em
seu livro, as suas reivindicações foram admitidas e muito bem justificadas.
Conseqüentemente, um grande número de pastores imediatamente adotou suas
propostas. Podemos dizer que Spener logrou seu objetivo de “reformar” a Igreja
devido à nova postura adotada pelo clero alemão. Mas, não só. O pietismo ganhou
força e influenciou o surgimento de movimentos religiosos independentes de
inspiração protestante tais como o metodismo, o Movimento de Santidade, o
evangelicalismo, o pentecostalismo, o neo-pentecostalismo e grupos
carismáticos, além de influenciar a teologia liberal de Friedrich
Schleiermacher e a filosofia de Immanuel Kant. É evidente após este breve
relato que a fé e o zelo de um só homem pode produzir fruto abundante, muito
além daquilo que podemos imaginar através da imaginação humana. A maioria dos
avivamentos históricos surgiu após a postura resoluta de um ou vários homens
contrária à apatia espiritual e à impiedade dentro da Igreja. Que o exemplo de
Spener ecoe em nossa mente, fazendo brotar em nossos corações desejos piedosos
e sinceros por “uma igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa
semelhante, mas santa e irrepreensível.” [Ef 5:27] [1] Collins
Winn, Christian T. ; Gehrz, Christopher; Carlson, G. William; Holst, Eric. The
Pietist Impulse in Christianity. Pickwick Publications: 2011 [2] Olson, Roger
E. Reclaiming pietism: retrieving an evangelical tradition / Roger E. Olson and
Christian T. Collins Winn. Eerdmans Publishing: 2015
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