A SOBERANIA DE DEUS NOS ENSINOS DE PAUL YONGGI CHO - PAULO RODRIGUES ROMEIRO É UM PASTOR E APOLOGISTA CRISTÃO EVANGÉLICO BRASILEIRO. FOI PRESIDENTE DO INSTITUTO CRISTÃO DE PESQUISAS (ICP) EM SÃO PAULO, E ATUALMENTE É PASTOR PRESIDENTE NA IGREJA CRISTÃ DA TRINDADE
Paul Yonggi Cho, um dos maiores líderes evangélicos do mundo hoje, pastor e fundador da Igreja Central do Evangelho Pleno, em Seul, na Coréia (a maior do mundo), afirma em seu livro A Quarta Dimensão que o subconsciente é o nosso espírito e que a quarta dimensão é o mundo espiritual (pp. 41-43). O mundo espiritual está sempre afetando o mundo físico (terceira dimensão) e se nós conseguirmos, através de nosso subconsciente, afetar o mundo espiritual, poderemos assim transformar as circunstâncias do mundo físico em nosso favor. Além disso, Paul Yonggi Cho ensina uma lei da fé chamada incubação, que inclui visualizações, isto é, uma imagem mental direcionada a um alvo desejado. Assim, se temos o desejo de receber algo de Deus, devemos ficar "grávidos" do que desejamos até que o recebamos (pp. 17-38).
A Bíblia fala de visão e não de visualização. A visão é produzida por Deus, enquanto a visualização é psicologicamente induzida, sendo produto da ativação subjetiva da imaginação pela vontade humana. Um dos perigos da visualização é que tal prática não leva em conta a natureza caída do ser humano. A visualização pode também abrir brechas para atividades demoníacas na vida de alguém. Vários homens e mulheres tiveram visões na Bíblia. Tais visões foram experiências sobrenaturais sempre controladas por Deus, e não pela vontade humana, e tinham o fim de comunicar-lhes os desígnios divinos.
Outro conceito contido no livro é o do poder criativo da palavra falada (p. 67); nossa palavra seria, assim, o material que o Espírito Santo usa para criar (p. 69). Observe esta frase: "Falamos a língua do Espírito Santo. Criamos. Aleluia!" (p. 56). Entretanto, onde ensina a Bíblia tais coisas? Em toda a Bíblia, somente Deus tem poder para criar e ninguém mais. Certamente que conceitos como incubação, visualização, poder criativo e outros são alheios à Bíblia Sagrada.
Quanto à oração, Cho relata que, certa vez, pediu ao Senhor uma escrivaninha, uma cadeira e uma bicicleta e não as recebeu. Depois Deus lhe disse por que não podia responder à sua oração: ele não havia especificado seus pedidos ao Senhor. Veja como Deus lhe respondeu:
Sim, esse é o seu problema, o problema de todos os meus outros filhos. Imploram exigindo todo o tipo de coisas, mas o fazem com termos tão vagos que não posso responder. Será que você não sabe que há dezenas de tipos de escrivaninhas, cadeiras e bicicletas? Mas você simplesmente pediu-me uma escrivaninha, uma cadeira e uma bicicleta. Não pediu uma escrivaninha específica, nem uma cadeira nem uma bicicleta específicas.30
Depois de pedir perdão a Deus por não haver especificado seus pedidos, Cho disse então a Deus que queria uma escrivaninha feita de mogno das Filipinas, uma cadeira de aço com rodinhas e uma bicicleta fabricada nos Estados Unidos, com algumas marchas. Ele acrescenta ainda:
Encomendei estas coisas em termos tão específicos que Deus não poderia cometer erro algum em entregá-las. Então realmente senti a fé fluir do coração e regozijei-me no Senhor.31
Há sérios problemas com este relato de Paul Yonggi Cho, quando examinado à luz das Escrituras. Primeiro, Deus não lhe podia responder porque não sabia os detalhes dos objetos solicitados por Cho. Dá a impressão de que Deus sentiu aliviado depois que as especificações foram feitas, possibilitando-Lhe finalmente responder à oração do pastor. Ora, isto agride de imediato um dos atributos de Deus, a onisciência, muito bem demonstrada no Salmo 139. A Bíblia diz: "Porventura quem repreende as nações, não há de punir? aquele que aos homens dá conhecimento?" (Salmo 94:10). E ainda: "Que perversidade a vossa! Como se o oleiro fosse igual ao barro, e a obra dissesse do seu artífice: Ele não me fez; e a cousa feita dissesse do seu oleiro: Ele nada sabe" (Isaías 29:16). Veja ainda o que Jesus disse no Sermão do Monte: "Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais" (Mateus 6:8). No caso de Paul Yonggi Cho, Deus não sabia, uma posição que entra em conflito com a Palavra de Deus.
Graças a Deus porque, apesar da nossa ignorância e imperfeição, o Espírito Santo nos ajuda na oração, como diz a Escritura: "Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis" (Romanos 8:26). Ouçamos ainda as palavras do rei Davi sobre a onisciência de Deus: "Sabes quando me assento e quando me levanto; de longe penetras os meus pensamentos. Esquadrinhas o meu andar e o meu deitar, e conheces todos os meus caminhos. Ainda a palavra me não chegou à língua, e tu, SENHOR, já a conheces toda" (Salmo 139:2-4). Diante dessas passagens, não precisamos temer, como Paul Yonggi Cho, que Deus cometa algum erro ao entregar nossos pedidos. O Deus que se revela na Bíblia é onisciente, onipresente e onipotente, sendo, portanto, impossível ele errar.
Creio que qualquer crente tem toda a liberdade de especificar seus pedidos quando ora a Deus, compartilhando com ele seus desejos e aspirações nos mínimos detalhes. Isto, porém, não garante que Deus vá responder tudo exatamente como pedimos. Ele sabe o que é melhor para nós mais do que nós mesmos. Se Deus respondesse todas as nossas orações, seria uma tragédia. Creio que foi a esposa de Billy Graham quem disse certa vez: "Se Deus tivesse respondido todas as minhas orações, eu teria me casado com o homem errado". Tiago escreveu: "pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres'' (Tiago 4.3)
Estava ensinando sobre isso numa igreja quando um irmão me disse que pediu uma esposa ao Senhor, tomando todo o cuidado de especificar suas preferências ao orar. Pediu alta, veio baixa, pediu loira, veio morena, tudo ao contrário. O melhor de tudo é que o irmão está muito feliz com a esposa que o Senhor lhe deu. Novamente, não sou contra o cristão especificar seus pedidos na oração. O que não concordo é em afirmar que só assim Deus responde às nossas petições, transformando isto numa regra a ser seguida rigidamente, tanto por nós que oramos quanto pelo Senhor que responde à oração. A afirmação de que só assim Deus responde às orações não encontra base nas Escrituras.
Por incrível que pareça, a Bíblia mostra que nem sempre Deus responde a todas as orações, sendo Moisés um exemplo muito vivido disto. A Escritura diz: "Falava o SENHOR a Moisés face a face, como qualquer fala a seu amigo" (Êxodo 33:11), e ainda: "Boca a boca falo com ele, claramente, e não por enigmas; pois ele vê a forma do SENHOR" (Números 12:8). Foi absolutamente fantástico o relacionamento que este homem teve com Deus, porém, apesar disso, quando rogou fervorosamente a Deus que lhe permitisse entrar na boa terra dalém do Jordão, o Senhor não o atendeu (Deuteronômio 3:23-27). Paulo também orou três vezes ao Senhor sobre o seu espinho na carne e Deus não respondeu como o apóstolo pediu. Mas Deus lhe deu uma coisa melhor, isto é, graça para servir a Deus vitoriosamente, mesmo em fraquezas (2 Coríntios 12:7-10).
Ao fazer alguns ligeiros comentários sobre o livro A Quarta Dimensão não pretendemos, de forma alguma, desabonar a pessoa e os motivos de Paul Yonggi Cho. Creio ser ele um homem de Deus que tem trazido muitas almas para o seu reino. Não questionamos o seu caráter, mas, sim, alguns aspectos de seus ensinos.
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