A FESTA DE PURIM E O LIVRO DE ESTER POR MATHEUS ZANDONA DA ASSOCIAÇÃO MINISTÉRIO ENSINANDO DE SIÃO
O livro de Ester tem representado uma grande incógnita para muitos
teólogos cristãos e estudiosos judeus há vários séculos. A principal razão para
tal caracterização se dá pelo fato de não se ter mencionado no livro de Ester o
nome de D-us; ou seja, o tetragrama não é mencionado sequer uma única vez ao
longo do enredo descrito. Mas, porque os sábios e escribas judeus optaram por
incluir o livro de Ester entre os escritos sagrados, aceitando sua história
como verídica? Quais foram os critérios utilizados para se aceitar o livro de
Ester como sendo “divinamente” inspirado? Se analisarmos com cautela o conteúdo
da trama do livro, veremos que as personagens e os eventos ali narrados são
comprovados historicamente através de outras fontes escritas, a maioria de origem
babilônica e grega. Apesar dos reis persas se casarem apenas com mulheres de
linhagens reais e nobres, escritos gregos datados do séc II A.C comprovam que o
rei Xerxes I (Assuero), realizou um grande banquete para escolher para si uma
nova esposa, já que estava extremamente decepcionado não apenas com a rebeldia
da rainha Vasti (Amestris), mas também com as sucessivas derrotas para o
emergente império grego. Além disso, a tradição criada em decorrência da
história do livro de Ester é guardada por judeus de todo o mundo há mais de
2000 anos através da Festa de Purim (Et 9:27 e 28). Mordechai, primo de Ester,
dotado de autoridade real, ordenou que fosse celebrada ao longo das gerações do
povo judeu a Festa de Purim (Pur=sorte), nos dias 14 e 15 do mês de Adar, como
constante recordação do grande livramento que tiveram os judeus das mãos do
malvado Hamân (Hamã). Por isso, a festa de Purim é celebrada por judeus de todo
o mundo, até os dias de hoje. Mas a
pergunta primordial ainda se encontra sem resposta: Porque o nome de D-us não é
mencionado no Livro de Ester? Ibn Ezra, o grande sábio rabino medieval, afirmou
que apesar do tetragrama (YHVH) não ser mencionado sequer uma vez em Ester, a
mão do D-us de Israel é claramente visível nos eventos narrados. O Rabino Ezra
ainda vai além ao analisar da seguinte forma a ausência do nome de D-us: “O
Sábio Mordechai ordenou para que fosse celebrada a Festa de Purim como memorial
entre os judeus da diáspora. Certamente, a história de Purim deveria ser lida
durante as comemorações. Os judeus da diáspora habitavam entre povos pagãos, e
se o tetragrama fosse utilizado na escrita, certamente esses povos iriam
profanar o Santo nome do Eterno, substituindo-o pelo nome de seus deuses. Por
isso, nossos sábios do passado optaram por não utilizar a grafia do nome do
Eterno no livro de Ester.” A explanação do sábio Ibn Ezra é bem condizente com
o que a Torá diz a respeito do nome de D-us, e possivelmente, foi o que ocorreu
com o livro de Ester. Outro livro que compõe os escritos judaicos e que também
apresenta o mesmo problema do livro de Ester é o Cântico dos Cânticos, escrito
pelo Rei Salomão. Neste livro, não encontramos sequer uma referência ao nome de
D-us. Como então justificar sua inclusão entre os livros sagrados, ou a inspiração
divina por parte do Rei ? Os sábios judeus da antiguidade chegaram a uma
conclusão bem interessante quanto ao Cântico dos Cânticos. Segundo eles, a
troca de elogios e o amor idealizado entre o noivo e a noiva, são na verdade,
uma alusão do amor de D-us para com Israel, e por isso, a obra pode ser
considerada divinamente “inspirada”. As
tradições de Purim incluem a “seudát Purim” (um jantar com os deliciosos “osnêi
Haman”), a leitura da Meguilát Ester e “matanôt la-evionim” (doações de
alimentos e dinheiro para os mais necessitados da comunidade) A verdade é que
podemos extrair do Livro de Ester grandes princípios e exemplos para nossas
vidas. Vemos, ao longo do enredo, que D-us está no controle de nossos destinos,
e que Ele sempre se apresenta como El Yeshuá, ou seja, o D-us que salva,
disposto a ouvir as orações dos seus servos quando em situações impossíveis de
serem resolvidas aos olhos dos humanos. Vemos também a sabedoria de Ester e de
seu primo Mordechai, os quais souberam fazer uso de sua posição e status para
abençoar a muitos. Além disso, o livro de Ester nos mostra que muitas vezes
devemos lutar para obter a vitória assim como fizeram os judeus habitantes da
Pérsia, e não apenas nos acomodarmos “esperando” um milagre. Como diz o velho
ditado judaico: “creia nos milagres, mas não dependa deles”! Chag Purim
Sameach! (Feliz Festa de Purim)!
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