ROBERTO CABRINE PEDE OS CARNAVALESCOS PARA PEDIR DESCULPAS A POPULAÇÃO
Sua primeira cobertura internacional pela Globo foi em Buenos Aires, um jogo entre a seleção brasileira e a argentina. Em seguida, foi recrutado para cobrir as eliminatórias da Copa do Mundo de 1982. Durante a competição, foi destacado para ser correspondente na Espanha, local do torneio.
Em 1983, o jornalista deixou a Globo para estudar inglês nos Estados Unidos. “Entrei numa faculdade de jornalismo, e, seis meses depois, a Globo me chamou de volta. Fui para o escritório de Nova York, onde tive de fato minha primeira experiência como correspondente”, relembra Roberto Cabrini, que atuava como freelancer. “Não havia CNN, não havia televisão a cabo. O que as pessoas conheciam sobre o exterior era aquilo que era mostrado pelos correspondentes internacionais. E foi uma época de grande profusão de fatos”.
No ano seguinte, foi convidado por Luciano do Valle para participar do programa Show do Esporte, na TV Bandeirantes, onde permaneceu até 1988. Pela emissora, cobriu as Olimpíadas de Los Angeles (1984) e de Seul (1988). Entre 1989 e 1992, Roberto Cabrini assumiu a direção de Esportes do SBT.
Em 1992, voltou para a Globo, agora como correspondente do escritório de Londres, então chefiado por Silio Boccanera. “Havia uma ênfase muito grande para dar uma visão brasileira no exterior. A Globo tinha uma estrutura boa, três cinegrafistas fixos, dois freelancers e três produtores”, relembra.
Um dos marcos de sua carreira foi quando o repórter localizou Paulo César Farias, que fora tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello e estava foragido. Cabrini conseguiu entrevistá-lo em duas ocasiões. Da primeira vez, descobriu-o em Barcelona. “Gravei a entrevista com ele e saí que nem um louco para gerar matéria. Peguei congestionamento, cheguei atrasado, não consegui gerar a tempo do Jornal Nacional. Eu tinha um furo de reportagem na mão, mas os editores do Rio resolveram guardar para o dia seguinte. Na mesma noite, a Folha de S. Paulo deu a matéria. Foi a maior frustração que tive na vida. Mas também foi a energia de que precisava para fazer o que veio depois”, conta.
Seis meses mais tarde, quando PC já era um fugitivo da justiça brasileira, o repórter o localizou em Londres, em um furo ainda maior de reportagem. “Veiculamos a matéria no Jornal Nacional. A repercussão foi brutal, algo impressionante. Eu tive de ficar por três dias em endereço desconhecido porque as pessoas, como não conseguiam chegar até o PC, vinham atrás de mim”, completa.A carreira investigativa do repórter deslanchou. No mesmo ano, localizou a ex-procuradora Jorgina de Freitas, chefe de uma quadrilha que fraudou o INSS em cerca de 500 milhões de reais. Por essa cobertura, levada ao ar no Globo Repórter, Roberto Cabrini ganhou o 1º Prêmio Previdência Social de Jornalismo (1998). Ainda em 1998, recebeu o VI Prêmio Líbero Badaró de jornalismo, pela A Verdadeira História do Voo 254, que contava em detalhes um dos piores desastres da aviação brasileira.
Apesar da trajetória de sucesso, o repórter não teve a mesma sorte quando tentou encontrar os assassinos do ativista Chico Mendes. “É preciso paciência e determinação. As pessoas ficam sabendo das investigações que dão resultado e não daquelas que você gasta tempo, dinheiro, adrenalina e não resultam em nada. Fiquei um bom tempo na fazenda dos assassinos do Chico Mendes, sabendo onde eles estavam, mas sem ter como entrar. Gastei tempo, dinheiro, me arrisquei e não deu resultado”.
Outra faceta do jornalista foi a cobertura de guerras. Roberto Cabrini foi o único brasileiro a cobrir a ascensão do Talibã no Afeganistão, em 1994. Também atuou como correspondente em conflitos no Camboja (1990), na Palestina (1967-1993), na Guerra dos Curdos (1991) e na Caxemira (1999).“Na minha carreira, tive a chance de cobrir cinco guerras que me desafiaram, testaram meu equilíbrio. Mas acho que nada foi mais desafiador, para mim, do que noticiar a morte de Ayrton Senna. Eu cobria todas as corridas de Fórmula 1 na época. E estava no autódromo de Imola quando o acidente aconteceu”, conta. Cabrini foi o repórter que anunciou a morte do ídolo brasileiro: “Morreu Ayrton Senna da Silva, uma notícia que a gente jamais gostaria de dar”. Ele se lembra da dificuldade que teve para manter a precisão das informações e passar a emoção necessária, sem perder o controle: “Era uma frase simples, mas acho que simbolizou bem, porque as pessoas ainda se lembram”.
Entre as coberturas marcantes de que participou, vale destacar, ainda, a do tetracampeonato da seleção brasileira de futebol, na Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos. No ano seguinte, o repórter deixou a Globo e voltou a trabalhar no SBT, onde ganharia o Prêmio APCA de melhor programa jornalístico por uma entrevista com Fernando Collor de Mello. Na emissora paulista, onde permaneceu até 1997, realizou documentários no Afeganistão e no Iraque que lhe renderam o Prêmio Vladimir Herzog, em 1996, e o 14º Prêmio de Direitos Humanos da Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos, em 1997.
De volta à Globo, mudou-se para Nova York, onde morou até o ano 2000, trabalhando como repórter especial e fazendo matérias para o Jornal Nacional e o Fantástico. Uma dessas reportagens foi reconhecida pela Anistia Internacional e pela ONU. “Eu fiz uma matéria mostrando o tráfico de crianças no Sri Lanka. Eu denunciei isso. Quase um ano depois, voltei lá e provei que continuava acontecendo. Muito em função dessa reportagem, exibida no Fantástico, a ONU tomou providências e conseguiu diminuir o tráfico de crianças”, relata.
Em 2001, contratado pela TV Bandeirantes, passou a apresentar o programa Brasil Urgente e o Jornal da Noite. Em seguida, transferiu-se para a TV Record, na qual trabalhou até voltar para o SBT, em 2009, para ancorar o programa Conexão Repórter. Em 2010, Cabrini e sua equipe receberam o Prêmio Esso de telejornalismo, pela reportagem Sexo, Intrigas e Poder, que investigou casos de pedofilia envolvendo representantes da Igreja Católica em Arapiraca, Alagoas.
Apesar de exercer a função de âncora, Cabrini ressalta que sua essência é de repórter. “Eu acho que ‘estou’ âncora. Mas jamais deixarei de ser repórter”, completa.
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