A REFORMA PROTESTANTE NA INGLATERRA
Vários fatores contribuíram para a introdução da Reforma Protestante na
Inglaterra: o anticlericalismo de uma grande parcela do povo e dos governantes,
as idéias do pré-reformador João Wycliff, a penetração de ensinos luteranos a
partir de 1520, o Novo Testamento traduzido por William Tyndale (1525) e a
atuação de refugiados que voltaram de Genebra. Todavia, quem deu o passo
decisivo para que a Inglaterra começasse a tornar-se protestante foi o rei
Henrique VIII. Henrique VIII (1491-1547) começou a reinar em 1509. Sendo muito
católico, em 1521 escreveu um folheto contra Lutero que lhe valeu o título de
“defensor da fé”. Era casado com a princesa espanhola Catarina de Aragão, viúva
do seu irmão, que não conseguiu dar-lhe um filho varão, mas somente uma filha,
Maria. Henrique pediu ao papa Clemente VII que anulasse o seu casamento com
Catarina para que pudesse casar-se com Ana Bolena (Anne Boleyn), mas o papa não
pode atendê-lo nesse desejo. Uma das principais razões foi o fato de que
Catarina era tia do sacro imperador germânico Carlos V. Em 1533, Thomas Cranmer
(1489-1556) foi nomeado arcebispo de Cantuária e poucos meses depois declarou
nulo o casamento do rei. Em 1534, o parlamento aprovou o Ato de Supremacia,
pelo qual a Igreja Católica inglesa desvinculou-se de Roma e o rei foi
declarado “Protetor e Único Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra.” O bispo
John Fisher e o ex-chanceler Thomas More opuseram-se a essas medidas e foram
executados (1535); os numerosos mosteiros do país foram extintos e suas
propriedades confiscadas (1536-1539). Nos anos seguintes, Henrique ainda teria
outras quatro esposas: Jane Seymour, Ana de Cleves, Catarina Howard e Catarina
Parr. Henrique morreu na fé católica e foi sucedido no trono por Eduardo VI
(1547-1553), o filho que teve com Jane Seymour. Os tutores do jovem rei
implantaram a Reforma na Inglaterra e puseram fim às perseguições contra os
protestantes. Foram aprovados dois importantes documentos escritos pelo
arcebispo Cranmer, o Livro de Oração Comum (1549; revisto em 1552) e os
Quarenta e Dois Artigos (1553), uma síntese das teologias luterana e calvinista.
Eduardo era doentio e morreu ainda jovem, sendo sucedido por sua irmã Maria
Tudor (1553-1558), conhecida como “a sanguinária”, filha de Catarina de Aragão.
Maria perseguiu os líderes protestantes e muitos foram levados à fogueira. Os
mártires mais famosos foram Hugh Latimer, Nicholas Ridley e Thomas Cranmer.
Muitos outros, os chamados “exilados marianos”, foram para Genebra, Estrasburgo
e outras cidades protestantes. Com a morte de Maria, subiu ao trono sua
meio-irmã Elizabete I (1558-1603), filha de Ana Bolena, em cujo reinado a
Inglaterra tornou-se definitivamente protestante. Em 1563, foi promulgado o Ato
de Uniformidade, que aprovou os Trinta e Nove Artigos. O resultado foi o acordo
anglicano, que reuniu elementos das principais teologias evangélicas, bem como
traços católicos, especialmente na área da liturgia. Além dos anglicanos, havia
outros grupos protestantes na Inglaterra, como os puritanos, presbiterianos e
congregacionais. Os puritanos surgiram no reinado de Elizabete e foram assim
chamados porque reivindicavam uma Igreja pura em sua doutrina, culto e forma de
governo. Reprimidos na Inglaterra, muitos puritanos foram para a América do
Norte, estabelecendo-se em Plymouth (1620) e Boston (1630), na Nova Inglaterra.
Outro grupo protestante inglês foram os batistas, surgidos a partir de 1607 sob
a liderança de John Smyth e Thomas Helwys. Este fundou em 1612 a primeira
igreja batista geral. No século 17, no contexto da guerra civil entre o rei
Carlos I e um parlamento puritano, foi convocada a Assembléia de Westminster
(1643-1649). Essa célebre assembléia elaborou uma série de documentos
calvinistas para a Igreja da Inglaterra, entre os quais a Confissão de Fé e os
Catecismos Maior e Breve, que se tornaram os principais símbolos confessionais
das Igrejas reformadas ou presbiterianas.
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