CRISTIANISMO NO MUNDO HELÊNICO
Foi sobretudo graças à atuação de são Paulo, divulgador da mensagem
cristã na Anatólia, que o movimento religioso iniciado por Cristo na Palestina
estendeu-se para o mundo helênico. A crença de pobres camponeses e pescadores
passou a conquistar adeptos entre as famílias pertencentes às classes médias
urbanas. O culto cristão foi progressivamente adaptado às formas de expressão
mística do Oriente e sua liturgia passou a empregar a língua grega. Fez-se
também a tradução da Bíblia para o grego, conhecida como versão dos Setenta, e
a atitude ética proposta pelo cristianismo complementou-se com um enfoque
conceitual e doutrinário. A elaboração teórica começou com os apologetas, entre
os quais destacou-se Orígenes, empenhados em defender a validade da crença
cristã diante da cosmovisão grega. Dois centros de cultura cristã assumiram uma
importância excepcional nessa época: Alexandria, no Egito, e Antioquia, na
Síria. Em Alexandria predominava a influência platônica e uma interpretação das
Escrituras voltada para a alegoria; em Antioquia prevalecia a interpretação
histórico-racional, de raiz aristotélica. O período que abrange os séculos IV e
V caracterizou-se pela atuação de intelectuais católicos como Atanásio,
Basílio, Gregório de Nissa, Gregório Nazianzeno, João Crisóstomo e Cirilo de
Alexandria, todos pertencentes ao clero católico. A consolidação dos dogmas
cristãos nessa época gerou divergências doutrinais conhecidas como heresias. O
primeiro concílio ecumênico realizou-se em Nicéia em 325, convocado pelo
imperador Constantino. Coube a Teodósio I reunir o segundo concílio ecumênico
em 381, na cidade de Constantinopla, com a participação apenas dos bispos
orientais. O terceiro concílio realizou-se em Éfeso, no ano 431, e proclamou a
origem divina da maternidade de Maria. A maior assembléia cristã da antiguidade
foi o Concílio de Calcedônia, realizado em 451. Desde o século IV, a igreja
grega passou a atuar em colaboração com o poder político e essa aliança com o
estado fortaleceu-se após a separação da igreja de Roma. No século IX, com
Fócio, patriarca de Constantinopla, as relações entre as duas igrejas se
estremeceram, mas a separação definitiva só se deu em 1054. Desde então a
igreja romana se refere à igreja grega como cismática, embora esta se definisse
como ortodoxa, ou seja, detentora da reta doutrina. Além das divergências sobre
formulações teológicas, originadas de perspectivas culturais diversas, teve
também grande peso na ruptura a resistência dos cristãos gregos em aceitar a
afirmação cada vez maior do poder político-eclesiástico da igreja romana.
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