PASTORES PEDEM SOCORRO MUITOS SE VALEM DA ÍNDOLE IDÔNEA DE SEUS LÍDERES (...) E OS VAMPIRIZAM, COM UM RELACIONAMENTO “LÍDER – LIDERADO” DOENTIO
“Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois
os homens serão amantes de si mesmos, avarentos, jactanciosos, arrogantes,
blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados,
implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem,
traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus,
tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes”,
2 Tm. 3:1-5. O texto paulino exposto acima é, segundo alguns, um vislumbre do
que Paulo tinha já em seus dias, que ele considerava como “os últimos”. Seja
como for, o fato é que por toda a história da Igreja os homens mostraram-se
relutantes à ação do Espírito Santo. Fosse por “conversões” políticas,
convenientes e interesseiras, no período da consolidação do cristianismo como
religião oficial do império romano, no século IV d.C., fosse por causa da
religiosidade passando de geração a geração, na Idade Média, fosse após os
questionamentos da Idade Moderna, ou a extrema subjetividade da
contemporaneidade, os homens sempre se mostraram relutantes à ação do Espírito.
E antes que se diga que isso se dá obviamente pelo pecado, gostaria de frisar
que me refiro aos da Igreja mesmo! Portanto, o texto paulino faz-se mais atual
do que nunca., Tenho sido procurado por pastores e líderes das mais diversas
denominações, os quais tem constantemente solicitado ajuda para a instrução do
seu povo, a partir das lideranças, pois muitos creem que só pela instrução
bíblica haverá mudança. Concordo. Mas, mais ainda, creio que a dimensão do
problema atual não tem sido muito bem percebida pelos pastores. Cientes de que
precisam “dar a vida por suas ovelhas”, como descreve a Bíblia sobre “o bom
pastor”, estes líderes não conseguem perceber que, atualmente, as pessoas – e
falo de modo geral – vivem numa época de absoluta auto-comiseração, fruto de
uma geração que aprendeu a fugir das mais mínimas responsabilidades. Sabe-se
que a Igreja é uma das únicas reservas morais existentes e, a despeito de todo
o esforço midiático contrário, as pessoas ainda creem em pastores e os tem,
geralmente, como homens sérios, respeitáveis, cuja palavra ainda vale. E,
sabendo disto, muitos se valem da índole idônea de seus líderes (refiro-me aos
verdadeiros, àqueles verdadeiramente comprometidos com o Reino), e os
vampirizam, com um relacionamento “líder – liderado” doentio, baseado em uma
eterna cobrança inclusive do mínimo, sem dar sequer o mínimo em troca.
Resultado: líderes cada vez mais enfermos. Sei que sempre houve isto, mas, a
percepção é que a situação tem se tornado cada vez mais grave. Lembro-me de uma
pesquisa, há uns dez anos, que mostrava que mais de 50% dos pastores não
terminavam seus dias como pastores. Uns (e não eram poucos!) abandonavam a
vocação ministerial para nunca mais voltarem. Creio que o repúdio destes à
condição humana de pecaminosidade indômita também se dá pela primeira
característica elencada por Paulo, a Timóteo, para ilustrar os “dias difíceis”:
o narcisismo. É uma prática egocêntrica e que está no centro do egoísmo. O
narcisismo não é apenas querer para si, mas amar a si mesmo, ao ponto de não se
ver mais ninguém. E, se há uma característica contundente da subjetividade
pós-moderna, onde todo mundo quer falar, mas muitas vezes com pouco ou nada a
dizer, é o narcisismo. A auto-deificação do indivíduo, incentivada cada vez
mais pelos veículos de comunicação de massa, através de propagandas, livros com
mensagens narcisistas disfarçadas de auto-ajuda e por aí vai, é um dos maiores
problemas para a Igreja, pois a mensagem do Evangelho, ensinada por líderes
sérios, é a renúncia pessoal, o amor ao próximo como regra e a abnegação em
prol do Reino de Deus. Nada poderia estar mais longe do espírito do nosso
tempo. Se pessoas erram, na atualidade, imediatamente fazem caras feias, para
que os que naturalmente as repreenderiam, seus líderes, fiquem constrangidos e
frustrados, sentindo-se – pasme – até mal, por causa da necessidade às vezes de
uma simples palavra de correção. O que é esta prática, se não um dos mais
fortes sintomas da auto-deificação do Homem? Minha palavra para os líderes
cansados, que se sentem frágeis, vazios e desesperançados, ante uma sociedade
que insiste em posicionar-se cada vez mais contrária aos preceitos do
Evangelho, é que continuem fazendo seu trabalho, sabendo que o fim da labuta
não se encontra no reconhecimento humano, nas palmas após uma preleção, ou em
simples palavras de elogio favoráveis a determinadas posturas que se tome. Muito
mais do que isso, o fim dar-se-á na volta do “Senhor da Seara”, conforme
descreve o Evangelho nas palavras de Jesus, através de algumas parábolas, nas
quais ele afirma categoricamente que o “Senhor do Reino”, o “Rei”, voltará e
multiplicará àquele que tem. E o que não tem, até o que tem ser-lhe-á tirado!
As lutas são muitas, é verdade, difíceis e até desumanas. Nada fere mais do que
a ingratidão, e vivemos em uma era de pessoas inchadas de ingratidão. Mas, é
justamente neste momento que precisamos ouvir as palavras do apóstolo Paulo a
Timóteo, como sendo do próprio Deus para todos nós, que labutamos no Reino: “Tu
pois, filho meu, fortifica-te na Graça que há em Cristo Jesus”, 2 Tm. 2:1.
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